Sustentabilidade?

É uma grande moda essa coisa de sustentabilidade. É desenvolvimento sustentável pra cá, são práticas sustentáveis pra lá; que isto não é sustentável, que aquilo também não é... e o fato é que em torno dessa palavra/conceito vai sendo construído um imponente castelo.

Por causa dessa almejada sustentabilidade, cientistas há que percorrem o mundo abrilhantando seminários e workshops com os seus pensares ecológicos, escrevem artigos que são aplaudidos por seus pares e citados nos artigos que esses outros escrevem; publicam livros que se tornam em pouco tempo referências quase que unânimes; suas universidades criam cursos que se propõem a formar pensadores capazes de assegurar a continuidade da vida na terra, fazem mil e tantos proselitismos... só não dizem a verdade:

Que o que há de mais insustentável é a população humana que proliferou qual ninhada de ratos e cujos recursos naturais da Terra já não são suficientes para atender às necessidades básicas de todos. E isto se fossem utilizados com critério (de modo sustentável, como preferem dizer alguns), mas, perdulários e inconseqüentes, os homens ainda os tratam como se infinitos fossem, agravando ainda mais a escassez desses recursos.

A partir daí, coisa simples de se verificar, a insustentabilidade prevalece e anula o esforço e o argumento dos bem-intencionados, porque a população humana já em mais de 6.500.000.000 de pessoas não é sustentável.

Para começar, toda atividade agropecuária é insustentável, toda. A agricultura é a grande apropriadora da pouca água doce disponível. Para produzir alimentos ela restringe ainda mais, a cada dia, a disponibilidade de água para as humanas e básicas necessidades de beber, de higiene e tais. Além da água, ela degrada os ecossistemas naturais, empobrecendo o solo, ensejando o desaparecimento de espécies vegetais e animais. Mas como prescindir da agricultura, se é quem fornece os alimentos? Como se depreende, a insustentabilidade da agricultura está na escala, quer dizer, no quanto precisa produzir para alimentar a população. Que se abra uma exceção à agricultura então, e que se desconsidere a sua insustentabilidade.

Além de alimentar-se, a população também necessita de proteger-se das intempéries. Como já vai longe o tempo em que eram usadas as grutas e as cavernas para esse mister, é imperioso que sejam construídas casas. E porque a quantidade de pessoas (que também precisam morar) não é sustentável, os maiores herdeiros das injustiças sociais vão ocupar, com a bênção dos políticos, as encostas que virão abaixo com a primeira chuva mais forte. Que se abra outra exceção.

Os exemplos poderiam se suceder cansativamente, até induzindo a que se pense que não existe a tal sustentabilidade, que nada é sustentável. Longe disso, como se dirá a seguir.

O que não há é essa sustentabilidade oficial usada como areia para a construção do tal castelo referido lá no início deste ensaio. Se é politicamente correta ao demonstrar uma preocupação com a qualidade da vida, torna-se inútil e estéril por não atacar de frente os problemas, sendo conveniente ao sistema que nada quer mudar.

Com todo o humanismo com que me construí, coloco a minha cara ao tapa afirmando que só será sustentável tudo aquilo que contribuir para reduzir a população humana no planeta. Sustentáveis serão as guerras, sustentáveis serão as doenças e os cataclismos que a própria natureza oferece repetidamente, como a sinalizar uma direção a seguir. Fora isso sobram a religiosidade, que tira do homem toda a sua responsabilidade, e as palavras bonitas que a muitos seduzem, mas que nada significam.

Gilmar Barcellos
Enviado por Gilmar Barcellos em 24/02/2010
Reeditado em 26/02/2010
Código do texto: T2105409
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.