A SOLIDÃO DE UMA FLOR...

O vento vinha acariciar aquela flor à beira do abismo. Ele a tocava e ela quase se encolhia. Era uma solitária flor a olhar o vale.

Naquela manhã ela observara um falcão a voar e revoar por perto. Estaria a procurar sua amada para acasalar?

Esqueci de contar que era uma romântica aquela flor que nasceu de uma semente que os ventos trouxeram... Ou foi uma ave que a depositou ali? Sabe-se lá como uma semente pode germinar entre as pedras, à beira do penhasco.

Suas pétalas macias e belas jamais seriam vistas e admiradas por olhares humanos e a flor era um tanto vaidosa.

Pensou: Por que não nasci num jardim bem freqüentado? Por que não nasci uma rosa? Por que não posso estar exposta e minha beleza apreciada? Por que não posso ser amada?

Na solidão daquele lugar ela só podia ficar olhando as outras plantas, que estavam bem distantes dela, as aves, o horizonte...

Tão pouco, quase nada.

Isto a deprimia um pouco.

Quanto tempo duraria? O tempo do vento acariciá-la? Do orvalho cobri-la? De alguém descobri-la?

A flor pensava com seus botões: Nunca serei vista. O vento se fará mais forte e me jogará de encontro às pedras que me acolheram quando eu ainda era uma semente, um pensamento que todas as plantas contém dentro de si.

O falcão voltava a rodear o local. Ela ficou a olhá-lo e viu que já eram duas aves. Uma outra havia chegado. Eram dois pássaros a voar.

Ficou olhando-os e sonhando. Por que não nascera ave? Por que nascera condenada à solidão?

As aves voavam, revoavam e ela, em muda contemplação.

Mas não... Eles estavam vindo em sua direção.

De repente estava sendo amassada.

Não foi o vento que a desfolhou, nem nada. O pássaro resolveu fazer um ninho exatamente na sua morada.

A flor gemia em sua agonia.

Estava morrendo. Queria o vento a despetalá-la lentamente.

Queria morrer a olhar o vale. Não daquela forma sufocada.

A ave descontente voou e procurou outro lugar próximo dali. A flor suspirou. Morria, aos pouquinhos. O vento chegou quando ela já estava partindo. De certa forma a ajudou a morrer contente examinando o pássaro que a ferira. Examinando o mundo dos homens tão distante dela. O seu último pensamento foi para uma rosa que devia estar desabrochando em algum jardim.

SONIA DELSIN
Enviado por SONIA DELSIN em 22/01/2005
Reeditado em 25/03/2011
Código do texto: T2101
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