Entre o santo e o profano

Canta serestas para mim, enquanto ainda me visto de luar...dedica-me teus versos enquanto me tens pálida sob a luz dos teus castiçais...

É tão pouco o que tenho, é tão frágil o tempo lá fora...se soubesses que em cada volta do ponteiro me afasto...quase sem volta...

Em águas densas e tensas me arrasto mar adentro...sem atóis e sem ilhas...a vida em mim naufraga...

Nem que me dissecasses em versos e prosas... entenderias minha natureza distante... exuberante...excitante...hesitante...não mergulharias nas minhas águas, porque jamais entenderias a profundidade do meu ser...nem saberias identificar ou enfrentarias a dualidade da minha essência...

Em comunhão com a natureza que se agita na minha essência..me pego por vezes aflita, entre águas e fráguas...me acomodo entre uma e outra, não sem sair de um estado para o outro transbordada ou em chamas...eis que comungo comigo; não sem antes sofrer o impacto das mudanças contínuas e tão rápidas...

Fala-me dos teus campos, dos teus sonhos...aflora em mim as tuas lembranças...apascenta as minhas ânsias...para que entre águas revoltas e labaredas eu encontre um terno descanso...doma meus mares...cerca as chamas, que me invadem...dá-me pouso para o corpo e espírito em eterna confusão...

Não espero que cavalgues nas crinas furiosas da minha natureza que abusa...não conto com o dia que hás de te acender nas entranhas dessa fogueira que me lambe o céu...porque só sei sorrir com as espumas brancas que beijam meus pés...mas hei de partir no ventre dessa imensidão que me batiza e me engole...

Me dê coisas simples e pequenas...delicadezas de gestos...miudezas de certezas...ando sem fôlego...me cansei dos bramidos...me reviro em gemidos...pelo arrasto da dualidade que me consome...queimo no inferno das minhas angústias e desejos...e me afogo na densidade da minha profundidade...

Caminho entre o santo e o profano...me quero anjo e me quero demônio...

me batizo nos becos da minha castidade...e me puno nas impurezas da minha sinceridade...

Hei de voltar ao centro da terra...berço da minha natureza...e só no repouso da terra, hei de acalmar minhas guerras...

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 30/05/2005
Código do texto: T20813
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