Identidade sexual da Grécia Clássica
O homem grego nasce da miscelânea de um mundo vívido, aventureiro e amoral, em que deuses e heróis passam grande parte do tempo na cama e discutindo ideias, um mundo onde o trivial e o excêntrico se misturam. Surge então um homem não totalmente obcecado por filosofia, mas fervente por sexo, de acordo com vários relatos históricos, transcritos com grande conotação sexual.
Os gregos baseavam seu comportamento e seus ideais no hedonismo – a tendência de considerar o prazer imediato como a finalidade da vida. Para eles, eram indispensáveis os atributos físicos e o espírito fogoso.
A nudez era contemplada de forma natural e corriqueira. Os jovens de Atenas se dedicavam aos esportes (como luta livre, corrida, saltos e arremesso de discos ou dardos) inteiramente nus. Tinham o corpo coberto apenas com óleo e finos cordéis atados no prepúcio para proteger a extremidade do pênis. Esta convivência com o nu exprime a aceitação e a procura do físico. Cuidar do corpo faz alusão a uma alma lúcida, conduzindo ao equilíbrio. O grego que atinge esta harmonia aproxima-se da plenitude buscada pela filosofia grega.
Neste meio, a mulher era considerada como objeto para casamento e reprodução. A mulher não tinha conotação de prazer, mas de obrigação. A palavra grega “gyne” significa “portadora de filhos, procriadora”. Por causa dos mitos, as mulheres eram consideradas ardilosas, mentirosas e enganadoras, portadoras de beleza apenas para ludibriar o homem.
Este conceito vem da primeira mulher de acordo com a mitologia, Pandora. Bem resumidamente, Pandora era portadora de uma caixa que era presente dos deuses e que continha todos os bens. Porém, ela não resistiu à curiosidade e abriu-a, deixando todos os bens escaparem. Por mais depressa que tentou fechá-la, somente conservou um único bem – a esperança, e dali em diante os homens foram afligidos por todos os males. Dizem que a tal caixa de Pandora tinha o nome de “boceta”.
A mulher grega criticava a ausência dos maridos na cama, que raramente se deitavam com elas para relações sexuais, por considerarem tempo perdido ao ficarem nas assembleias. Elas então se satisfaziam com masturbação ou homossexualidade feminina, que não é relatado historicamente porque “não faz parte do domínio da sexualidade por não haver penetração”. A distinção entre penetrador e penetrado definia o status do indivíduo e justificava a submissão feminina.
Os gregos tinham as cortesãs para o prazer, as concubinas com quem viverem diariamente e as esposas para ter filhos legítimos e guardar o lar. Porém, esta é uma visão generalizada da mulher, pois em alguns poucos casos havia também relacionamentos que envolviam amor.
Já o casamento era simplesmente um contrato de interesses. Eram esquematizados pelos pais com base em critérios de interesse familiar como união de famílias poderosas ou para aumento da fortuna.
A instituição do casamento era para se formar um companheirismo e não ter uma velhice solitária. O ponto chave do casamento era a fidelidade feminina, não por conceitos morais, mas para legitimidade dos filhos do casal. Já o homem gozava de plena liberdade sexual, podendo ter mais de uma parceira sexual ou até mesmo outros homens. Era polígamo.
Caso o esposo não quisesse ter a esposa como mulher na cama, lhe era permitido, porém ela não poderia negar-se a deitar com ele.
O sexo na Grécia Antiga tinha o propósito não apenas de prazer, mas também de organizar a sociedade hierarquicamente. O sexo era a base e a extensão social, entrelaçando e unindo os homens.
O fato de ser passivo ou ativo na relação sexual influenciava diretamente na posição social. O passivo não poderia exercer atividade dominante ética ou política, demonstrando a importância da penetração. E a alguém de hierarquia mais alta era vedado o ato de ser passivo, pois isto seria uma desonra.
A valorização da masculinidade era atribuída ao seu papel viril nas relações. E ser viril significava ser perpetuador e ter autoridade. Ao contrário, a feminilidade do homem era um fato vergonhoso e desonroso.
Diante deste aspecto do sexo como definidor de status, as relações homossexuais eram permitidas somente entre um cidadão grego e um estrangeiro ou escravo, nunca entre pares. E entre companheiros da mesma idade era censurado.
A necessidade de haver esta diferença de idade levou à institucionalização da pederastia, que era vista como uma continuidade da educação. Representava a procura do prazer juntamente com a sabedoria. Para o jovem, era uma iniciação que necessitava da figura de um mentor mais velho.
Dentro destes parâmetros, a atividade homossexual era vista como natural. O importante era preservar a virilidade mesmo depois das relações homoeróticas.
Evidentemente, com base no senso moral de hoje, muitos aspectos da sociedade da Grécia Clássica seriam julgados ultrajantes. O objetivo destas informações não é estabelecer um paralelo, mas guiar uma reflexão sobre os caminhos percorridos pela humanidade.
(Elaborado a partir do trabalho de Farias, E.L., 2006 e outros textos)