PAIXÃO; OBSESSÃO; POSSESSÃO ( esboço para um ensaio)
Pathos, paixão, sofrimento. Por que o sofrimento na paixão? Primeiro, o olhar; depois, as palavras; em seguida, o corpo; e então, a Paixão: Ânsia desesperada do corpo do outro, do olhar do outro, da alma do outro; da presença do outro em cada minuto de ausência; da paixão do outro pelo nosso corpo; dos sonhos do outro;do outro por dentro, por fora; das certezas e das dúvidas do outro; da dor e do gozo do outro; enfim, necessidade do outro até para além do que ele, outro, saiba de si mesmo; necessidade, em suma, de eliminar o outro, de torná-lo eu.
Por que o sofrimento na Paixão? Porque a Paixão, ao escolher um objeto para Si, concentra tudo Nele, excluindo todos os demais objetos, até transformar o próprio Sujeito da Paixão, Ele Mesmo também em objeto outro, portanto descartável como os outros. Então, o que sobra, quando ambos os Sujeitos da Paixão, Objetos da Paixão Um do Outro são devorados pela Paixão, monstro voraz que, mesmo após devorar os Sujeitos continua aumentando UM NADA-TUDO, um nenhum alimento?
A Paixão que, em algum momento do processo já havia se transformado em Obsessão, uma vez se nutrindo só de realidade externa esvaziada por completo de si mesma e de realidade interna só composta de fantasmas, acaba por gerar ser-coisa a morder Indefinidamente a própria cauda, corpo-alma esvaziado de si e de qualquer sonho de Objeto Amado, apenas um algo para aquém de tudo: um algo-objeto da Possessão.
Zuleika dos Reis
Nota:Texto original de 21 de junho de 1990, reformulado profundamente hoje, no dia 29 de janeiro de 2010.