Ensaio: Essência e evolução II
Culpa de que?
Se aceitamos a existência dessa energia maior e da coerência universal, por que ela seria incoerente só com seres humanos que pertencem a esse mesmo universo? Num exemplo mais claro, se a humanidade é responsável direta ou indiretamente pela redução da camada de ozônio da terra, por que essa mesma humanidade não mereceria sofrer as conseqüências de suas ações? Na verdade quase todos concordariam com esse exemplo porque é muito mais fácil aceitar as "culpas" coletivas do que as individuais. A carga de responsabilidade dividida com o "sujeito indeterminado" tranqüiliza nossa mente e minimiza o sentimento de culpa.
Não estou tentando fazer com que enxerguemos nossas "culpas", mesmo porque toda afirmação tem a sua relatividade. É óbvio que o fabricante do gás freon (CFC) e aquele que derruba indiscriminadamente nossas florestas têm maior responsabilidade sobre as conseqüências nefastas do seu trabalho ao meio ambiente. No entanto, quem compra um refrigerador com CFC ou um móvel fabricado com madeira ilegalmente cortada, têm também parte dessa culpa, pois, ninguém fabrica o que não é consumido. O que estou querendo dizer é que nossa tendência é a de reduzir nossa responsabilidade por situações indesejáveis criadas para outros e para nós mesmos.
E por falar em nós mesmos - do macro para o micro - qual a responsabilidade pelas situações indesejáveis que acontecem conosco? Um casamento desfeito, a perda de um ente querido, um assalto, a falta de dinheiro, as injustiças... Como isso deve ser encarado?
Reavaliando nossas vidas e nossas reações diante de fatos indesejados, quantas vezes nos colocamos como vítimas, reconhecendo nossa "culpa" para "sair por cima" ou atrair manifestações de conforto, vamos dizer assim. "Eu fui um(a) trouxa na mão dele(a)"; "Ninguém agüenta mais essa falta de segurança no país."; "Estou sentindo muito a falta dele(a), reconheço que deveria ter dado mais atenção"... e assim por diante.
Na verdade não existem culpas, nem as nossas nem as dos outros. A natureza é coerente e sempre nos coloca diante de situações que nos fazem crescer como indivíduo e para que a essência do todo sempre ganhe. Quando cometemos o mesmo erro duas ou mais vezes, a reação contrária será cada vez mais intensa até que paremos para refletir. O desencarne traumático, por exemplo, nunca será uma lição só para quem se foi. Essa reação aparentemente cruel e violenta da natureza tem um outro sentido para os reencarnacionistas. Não aquele fatalista de correspondência direta como o pregado por algumas religiões, como por exemplo: "Ele nasceu sem mãos porque matou a facadas uma pessoa na encarnação anterior" ou até "Aquela criança que morreu precisava apenas de alguns anos para completar sua encarnação anterior, quando se suicidou".
Deus ou a energia da coerência universal não são vingativos. Parafraseando Einstein: "Deus não joga dados com o mundo. Ele é sutil, mas não é maldoso". Quanto maior a perfeição, mais sutis serão as suas mensagens e mais evoluído terá de ser o indivíduo para interpretar essas sutilezas. Não se trata de resignar-se com essa força maior, mas sim de confrontar a coerência que existe em todo o universo e não sentir-se maior que ele. Deus ou a energia da coerência universal não nos trataria de forma desigual por uma questão de perseguição. Aceitar, nunca! Questionar incansávelmente até encontrar uma resposta que faça sentido aos nossos corações.
continua...
RSanchez 29/05/05 13:28:45