Somos recicláveis?

Talvez esse seja um dos textos mais negativos, mais angustiados... mais profundos dentro de um questionamento que desde sempre me acompanha. Também pode ser um texto de reencontro, de religação.

Com o último terremoto que tivemos no Havai a sensação de reciclagem novamente se estampou no meu ser. Quando acontecem tragédias como essas a sensação que me dá é que estamos dentro de um grande organismo em constante modificação e reciclagem. Às vezes a reciclagem é pequena, alguns poucos seres desaparecem, são misturados à argamassa desse organismo. Outras vezes não, outras vezes são centenas de milhares, a voltarem para essa argamassa.

Quem somos nós? De onde viemos? Para onde vamos? O que de fato somos?

Essas perguntas penso eu, devem aparecer na mente de todas as pessoas, pelo menos numa fração de segundo. Não acredito que possa existir algum ser humano que não tenha nenhuma vez se questionado. A diferença é que a grande maioria anestesia, deleta com as emoções que afloram nesse momento. Geralmente ele opta por fugir, porque sabe que não há resposta comprovada.

Nesse exato momento que estou escrevendo, estou ouvindo cantos gregorianos, eles ajudam a elevar minha alma. Alma? Temos alma? Ela sobrevive após a morte?

Cada vez mais percebo que estou afundando-me no mar do questionamento. Mar esse sem respostas porque seu fundo não tem limites, não é para serem respondidas, é o que me parece...

Já falei em outros ensaios sobre fé e ciência, não há como uni-las. Pelo menos por enquanto embora esteja aparecendo que uma luz no final do túnel está sendo acesa pela física quântica. Ciência essa que ainda engatinha na teoria, mas já aponta como um grande desafio para a ciência oficial.

Uma das frases que li outro dia ao introduzir a física quântica foi: “ No início era o nada cheio de infinitas possibilidades” . Garanto que Sócrates, e todos os gregos antigos mexeram-se do túmulo. Nada é nada, e nada vem do nada.

A teoria das cordas nos diz que para chegar-se a uma fórmula do tudo, como era o sonho de Einstein, há a necessidade de universos paralelos e no mínimo onze dimensões. Não sou PhD em teoria das cordas, mas pelo que li, ela está comprovada matematicamente, o que falta é “capacidade” de comprovação, conforme exige a ciência.

Voltando-me para a ficção, lembro-me das baterias que alimentavam Matrix, a sala dos computadores do 13º andar. Tudo apontando para um universo que para nós: irreal. E os céticos suspendem o juízo: Nada se pode comprovar nesse mundo de sensações.

E eu fico no meio olhando para um lado um grande organismo em constante reciclagem e para o outro a fé.

Novamente sinto-me em cima do muro! Por que não consigo escolher um lado e descer?

Sinto em meu ser, minha alma, uma fé inabalável que exista algo mais do que esse constante reciclar, que a individualidade é preservada, que sou um ser importante e necessário para esse organismo. Não que seja vital, mas que desempenho um papel nessa organização. Todo ser humano do mais simples ao mais “complexo” desempenha um papel nesse organismo.

Contudo, a busca por uma comprovação me persegue. Não sou da ciência, já andei pelas beiradas dela, mas não tive coragem de dar o salto quântico e entrar nessa área. Talvez esse seja um dos nós a desatar: assumir meu lado pesquisador, curioso ou deixar de lado e pular de cabeça no lado dogmático.

E enquanto eu ficar nessa luta não conseguirei seguir Platão que já apontava isso há mais de 2500 anos:

"Não perder a ocasião de instruir-se, ou procurar aprender por si mesmo, ou então, se não for capaz nem de uma nem de outra dessas ações, ir buscar em nossas antigas tradições humanas o que houver de melhor e menos contestável, deixando-se assim levar como sobre uma jangada, na qual arriscaremos a fazer a travessia da vida, uma vez que não a podemos percorrer, com mais segurança e com menos riscos, sobre um transporte mais sólido: quero dizer, uma revelação divina!”

Fedon, Platão

Londrina,17/01/10

Darlene Polimene Caires
Enviado por Darlene Polimene Caires em 17/01/2010
Reeditado em 18/01/2010
Código do texto: T2034645
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.