2012: a eutanásia do mundo
2012: A EUTANÁSIA DO MUNDO
Janeiro/2010.
Newton Schner Jr.
Você vê seu avô deitado. Ele é parte de você, da sua família e de sua história. Mesmo em alguns aspectos, você é ele próprio. Dele, você herdou sangue, traços e até algumas manifestações psicológicas. Você é parte dele, senão ele mais jovem e em outra época. Ele é o seu berço. Com ele, você mais aprendeu que ensinou. Você nem havia nascido, quando ele já vivia e trabalhava, aprendia e ensinava.
E agora, você o vê deitado. Ele está imóvel. Por um aparelho, ele respira. Suas mãos tremem. Seu olhar parece não estar aqui – é vazio, em direção ao nada. É triste observá-lo. Um filme em preto e branco parece passar em sua mente, quando você o vê. Ele lhe aparenta estar em seus últimos momentos.
Ele mais sofre que vive. Pode movimentar um só dedo da mão. De resto, está inválido. Defeca e urina em si próprio. Todos os recursos para recuperá-lo têm sido praticamente em vão. Está caro mantê-lo assim. Sua família não goza de boas condições financeiras. No entanto, alguns familiares resistem. Continuam no egoísmo de achar que não é direito deles de desligar os aparelhos. A morte, para eles, deve vir através de uma intervenção divina.
Assim eu me sinto com o mundo. É parte de mim. Eu o amo. Amo o solo onde me criei. E, assim o acredito, cada um, de seu próprio modo, deve – ou ao menos deveria – amar a sua terra também. Mas não há mais como se melhorar. Quando digo que ainda há um único dedo que se move naquele ancião agonizante, refiro-me ainda a poucos que pretendem salvar o mundo de suas ruínas. Esforçam-se. Dão seus corpos e almas. Mas, de resto, tudo parece acelerar-se na contramão.
Cegados pela idéia de democracia e liberdade, as pessoas vêem cada apontamento do fim de um ciclo como sinônimo de progresso. A humanidade chegou ao apogeu e sabe que um abismo a espera. Mas sem medos, ela deseja aventurar-se. O salto, em seu olhar, será como uma arriscada manobra de um esporte radical qualquer. Ela salta e se alegra disso.
Que destino a humanidade alcançou! Os homens hoje se tornaram escravos dos dígitos e das próprias ferramentas que criaram. Renegam agora seu próprio sexo, cultura e raça, dizendo ser tudo uma construção social, uma forma de dominação sobrenatural. Sobrenatural, sim. Pois à moda sartriana, ele apenas sabe culpar aos demais. A arte já não eleva mais o espírito. Já não possui mais beleza, nem delicadeza. Qualquer um a faz, de qualquer jeito. Alguém prende um cão até morrer e todo mundo o aplaude: "Eis a arte! A verdadeira representação do sofrimento!". A música tornou-se um conjunto de vibrações eletrônicas sem sentido. O perfil do artista de sucesso é sempre regado a pornografia e escândalos. Desde cedo, as crianças são estimuladas ao sexo. A moda parece querer impedir as pessoas do envelhecimento. As pessoas já não se vêem. Não querem, na verdade, ver uns aos outros. Buscam facilidades em tudo. Os velhos foram esquecidos. A juventude se inspira e tem como exemplo degenerados, vazios que morrem de overdose. Na política, praticamente não há esperança. Um partido pequeno, feito com os próprios recursos, pretende ser honesto. Logo, é apagado. A mídia colabora com os dominantes. Joga, pois tudo é um jogo. E quem não o aceita, logo tem para si um escândalo arranjado. Hoje é o centro. Amanhã é a esquerda. Ontem, a direita. E assim segue. Porque todos revezam. Faz parte do jogo programado, esperar sua vez para governar. Inventam uma doença e por efeitos psicológicos, uma multidão começa a morrer. Diante das câmeras, os farmacêuticos sequer conseguem disfarçar: “Estamos vendendo... Vendendo mais do que nunca! Que felicidade!”. Mais uma vez, a humanidade é feita de cobaia. Um país quer se reerguer, mas os poderosos fazem o possível para derrubá-lo, deixá-lo preso às suas correntes. Pessoas tocam fogo em ônibus e tudo o que há de público, feito para o povo, porque um traficante foi morto. E quando um patriota morre, todos festejam; os mais ousados vão ao seu funeral, apenas para ter a oportunidade de fazer piadas diante do seu cadáver. Eis a vida. So ist das Leben, dizia meu amigo Krause. Valorizar a mulher tornou-se sinônimo de machismo. Agora, basta ir a um banco de dados e você, do mesmo modo que o profético “Admirável mundo novo”, escolhe o perfil do filho que deseja ter. Os poderosos e mais bem armados incitam todos os seus servos a invadir e dizimar os poucos países que apenas buscam a paz. Paz? Os maiores promovedores da guerra são os mesmo que sempre estão sendo agraciados com prêmios da paz. Os que mais proclamam defender liberdade, são os mesmos que punem, sem pudor, aos que dizem o que eles não querem ouvir. Não há mais completude entre homem e mulher. Tornou-se regra ser a exceção. É bi, tri, tetra, penta. Tornou-se cafona querer seguir o rumo natural das coisas. Natureza? Ah, para a nova geração isso tudo não existe. É tudo construído. Os animais estão errados. As plantas também. Os mais antigos? Eles é que precisam mudar e se adaptar à lógica dos dias atuais. Tudo agora é dominação. Os que estão no poder, responsáveis pela formação de mentalidade das nossas pessoas, são os mesmos a alardear que são oprimidos e perseguidos. Que futuro se reserva à humanidade, quando atualmente livros são queimados, quando pessoas são condenadas por expressar o que pensam. Um pedófilo ou um político corrupto fica à solta, enquanto aquele que rouba um pacote de leite agoniza no inferno das penitenciárias brasileiras. Bandidos voltam do exílio e são aplaudidos como verdadeiros heróis da nação. Uma família fica à mercê do mundo por perder um pai, enquanto um criminoso tem à sua disposição toda comissão dos Direitos Humanos. Uma adolescente faz fama como atriz pornô e logo se torna um símbolo das nossas crianças. O mundo explode, mas de que importa? O seu time foi campeão. A novela está emocionante. No fim de semana, você recebe seu soma. Ah, que destino! E parece-me que todas as tentativas de libertar a humanidade desse pesadelo resultaram em catástrofes aos corajosos. E com tudo, eu lhe pergunto: é preciso mais, para que você perceba o rumo que mundo está tomando?
Não. Não se trata de nenhuma teoria da conspiração. Não, os céus não irão se fechar, tornarem-se negros. De suas nuvens, nenhum fogo irá aparecer em forma de monstros ou criaturas horripilantes. Se hoje me dou ao exercício de refletir sobre 2012, como fim de um ciclo, isto se deve aos elementos concretos que realmente apontam ou dão indícios de que o tão sábio homem conseguiu destruir não apenas a sua natureza em si, mas tudo o que o compõe.
A meu ver, vivemos de fato o fim de um ciclo. Mas, posso estar errado. Disto, não tenho certeza.
Vejo ao mundo como um ancião que agoniza. Não sei se a data de sua morte, prevista pelos médicos, estará certa. Mas, pelo que eu o observo, o velho está em estado terminal.
Se de fato existisse um meio de ser ouvido pelos deuses, pelos doutores do mundo que agora agoniza, eu diria: "Sim. Eu, como familiar, dou-lhes a autorização para que os aparelhos sejam desligados na data em que vocês nos propuseram. Será melhor. Não desejo vê-lo sofrer assim; do mesmo modo que não desejo acompanhar o desgaste de meus familiares e de sua equipe, para algo que sabemos não ter volta. Ademais, não sou nenhum especialista. Vocês, melhor que ninguém, sabem o que deve ser feito".
E ao fim, em paz estarão todos aqueles desapegados do materialismo. Pois é preciso compreender que este é, se acaso for verdadeira a previsão, será o fim de um ciclo. Nosso espírito não perecerá.
Apenas espero que me seja possível encontrar um refúgio para meus simplórios registros artísticos. Dizia Nietzsche: "Você, acaso, busca sua felicidade? Não, mas sua obra". Meus registros compõem esta minha obra existencial. Também espero que assim como eu, todos aqueles por quem tenho admiração - estando vivos ou mortos - também tenham seus trabalhos poupados. Do mesmo modo que os escritos sagrados tibetanos e hindus, torço para que se encontrem maneiras de se poupá-las das catástrofes que deverão ocorrer.
Não apenas os maias falavam sobre isto. Também I-Ching o aponta. É para 2012 o término do enriquecimento de Urânio do bravo Irã. É para 2012 a previsão de guerra que as grandes potências devem declarar aos poucos e corajosos países resistentes à Nova Ordem Mundial. É também para esta época, proposto por algumas pessoas, uma grande guerra racial, que deverá ocorrer na França.
Para os hindus, há tempos vivemos na Era Negra. Há milênios atrás, escreviam eles seus textos sagrados. Quando o homem não mais enxergasse a terra como um elemento com vida, mas apenas uma fonte de sua renda, seria um indício desta Era Negra. Quando não mais a mulher tivesse seu verdadeiro valor; quando ela própria incorporasse a idéia de ser apenas um objeto sexual, seria, também, um indício. Quando a irreligião invadisse os lares e destruísse de vez com a idéia de família, também. Estavam eles completamente errados? Não são estes elementos acima o mais perfeito retrato da nossa sociedade moderna? E quão cego o homem da nossa época está! Acredita estar à frente do tempo. Bate no peito e vibra, comemorando as conquistas que os sábios hindus encaravam como o fim dos tempos.
Diz assim o livro sagrado hindu sobre o Kali Yuga: "As raças de escravos se tornarão os senhores do mundo. Os chefes serão homens violentos. Os reis não protegerão mais os seus povos e eles serão privados dos seus bens. A única união entre os sexos será a do prazer. A terra não será mais apreciada senão pelas suas riquezas minerais. A vida se tornará uniforme no meio de uma promiscuidade universal. Aquele que mais possuir dinheiro, dominará os homens. Cada homem se considerará como igual às autoridades espirituais. O povo temerá a morte e o pensamento da pobreza irá aterrorizá-los. As mulheres não serão senão objetos de prazer sexual".
Também o Bhagavad Gita, outro escrito sagrado hindu, traz, com clareza, elementos da realidade que vemos diante de nós: "Com a destruição da dinastia, a tradição eterna da família extingue-se, e assim o resto da família se envolve em irreligião"; "Quando a irreligião é proeminente na família, as mulheres se poluem, e da degradação feminina vem a progênie indesejada"; "Um aumento de população indesejada decerto causa vida infernal tanto para a família quanto para aqueles que destroem a tradição familiar"; "Pelas más ações daqueles que destroem a tradição familiar, e acabam dando origem a crianças indesejadas, todas as espécies de projetos comunitários e atividades para o bem-estar da família entram em colapso".
Posso dizer que continuarei fiel ao meu espírito e irei lutar, ao meu modo, enquanto puder. A disposição e o esforço não apenas fazem bem ao espírito, como ao mundo. Como um neto que chora diante do avô, pensando: "Não queria que o senhor se fosse... Mas sei que assim será melhor...". Reconheço que há algo superior à minha força. E que se de fato tudo o que estou prevendo seja verdade, estou em pleno acordo.
Do mesmo modo que um velho que agoniza retém investimentos que podem ser aplicados a seres saudáveis e prósperos, assim é com o mundo. Se seus elementos primordiais já não mais podem ser executados, isto significa que já não há mais vida. Não é apenas racional do ponto de vista científico, mas também do humano, que se reconheça ser necessário o desligamento de seus aparelhos. Poupam-se esforços deste modo.
Em outras palavras, se sou favorável ao fim de um ciclo, digo-o por pensar que neste estado, retém-se a energia vital de um espírito novo que há se de materializar.
Pois dizem os hindus: “Alguém que nasceu, com certeza morrerá. E após a morte, voltará a nascer. Portanto, no inevitável cumprimento do dever, você não deve se lamentar (...). A alma nunca pode ser despedaçada por arma alguma, tampouco pode ser queimada pelo fogo, umedecida pela água ou enxugada pelo vento (...). Se, contido, você não executar seu dever religioso e não lutar, então na certa incorrerá em pecados por negligenciar seus deveres e, assim, perderá sua reputação de lutador (...). Seus inimigos irão descreve-lo com muitas palavras indelicadas e desdenharão sua habilidade. Que poderia ser mais doloroso para você? [Portanto], lute pelo simples fato de lutar, sem levar em consideração felicidade ou aflição, perda ou ganho, vitória ou derrota – e adorando este procedimento, você nunca incorrerá em pecado”.