Desabafos Solitários - X

Quando se pensa que tudo vai dar certo, quando se pensa que tudo vai ficar de acordo, quando você trabalhou o ano inteiro, esperando que esse seria pelo menos, o seu Natal ideal, quando você se mobiliza para que cada etapa seja cumprida, alguns presentes, árvore de Natal, algumas bebidas, comidas, frutas de acordo, a paciente espera pelo dia, a paciente espera para que tudo fique tranqüilo, a paciente espera para que ela não fique impaciente, & nada.

De nada adiantou você ir à tarde buscar um último presente, sem muita esperança de encontrar algo que ficasse de acordo. Ela não entendeu seu esforço. Ela não entendeu que o Espírito de Natal é uma coisa inerente à sua pessoa. Que basta acreditar em si mesmo, para que o Natal seja ela o mais simples que for, é sempre uma data especial.

Em vez disso, ela fica cansada, ela dorme, & te deixa só, sem se preocupar que você queria comer alguma coisa, ou mesmo, se você estava com fome. Ela pouco se importou se era uma data especial & tão esperado por você. Ela pouco se importou, se você tinha inúmeros amigos contando com a sua presença, & a dela também, para comemorar essa passagem tão importante para você.

Quanta gente lhe aguardava. Pessoas especiais & queridas por você, & que também acreditam no Espírito de Natal, & ela nada.

E ainda chuta o balde se você fica contrariado. Diz que tem vontade de sumir, de desaparecer. Mal sabendo do nó que me deu na garganta naquela vazia noite de véspera de Natal, sem ninguém, sem ninguém. Brindando com uma solitária latinha de cerveja, numa sala quase escura, na companhia de minha solitária árvore de Natal, piscando, piscando & piscando, querendo me animar com suas cores, o meu coração quase partindo, só, somente só.

Ah! Patinha que falta você me fez nesse momento. Quis sair correndo, correndo, correndo, querendo te encontrar, mas me senti imóvel. Aí! Que dor doída & doida, que vontade de sair gritando, num desespero só, mas me contive. Parece até um castigo dos céus, pensei comigo. Deve ser castigo mesmo. Sei que mereço. Tenho uma grande dose de culpa, talvez por isso mesmo, minha revolta, ficou na revolta do meu coração. Sei que tenho pisado na bola, que tenho uma vidraça em cacos, por isso tais pedras têm me batido à cabeça, que tem suportado as agruras impostas por esse destino. O mico tem sido grande. Aliás, poucas são as alegrias que me batem à porta. Poucas são as razões para me emocionar. Você, cara Patinha, tem sido a principal responsável por essas alegrias. No mais, pequenas conveniências, sub-naturais do cotidiano, promovendo baixos sobressaltos de emoção. Que fim-de-semana horrível. Nem parece Natal. Está muito longe de tudo que, mesmo no improviso, planejei.

Temo pelo Fim-de-Ano. Pressupõem-se tão terrível quanto o Natal. Céus! Não mereço nada disso, não. Mereço melhor sorte, melhor comemoração.

Terrível será amanhã, quando todos virão, provavelmente extasiados pelo final de semana com muitas comemorações, com sugestivos comes & bebes, & presentes, & grandes emoções, & carinho, & atenções, & sei lá mais o que, enfim, tudo aquilo que tanto me fez falta nessa véspera.

Hoje é domingo, um dia absolutamente tranqüilo, mas ela nem se apercebeu do quanto estou magoado. Talvez ela nem tenha percebido no sábado o porque eu estava chateado. Ela se achou no direito de ficar contrariada por que eu levantei de imediato & pouca atenção lhe dediquei. Depois de um choro rasgado, de ameaças & outras escaramuças, ela se aproximou e me pediu desculpas por estar tão cansada. Meia hora mais o menos de sexo, & ela nem se preocupava mais se eu ainda me encontrava contrariado.

Preocupou-se com o almoço, com a sua preparação, me sufocando com perguntas se o molho estava no ponto, se a carne estava no ponto. E se sua irmã e o cunhado iam demorar muito. Almoço rápido, & uma mal-sugerida ida até a Praia Grande. Um bate-e-volta que consumiria toda a tarde & noite, com uma demorada estadia não prevista para o dia no apartamento do irmão. A irmã & o cunhado passaram a maior parte da tarde dormindo. Minha cunhada ainda forçou um jantar, que fez o cunhado ainda se demorar mais ainda para vir embora. Chegamos em casa por volta da meia-noite. Minha raiva só não era maior por que resolvi não esquentar a cabeça. Sabia que seria perda de tempo. Comecei a assistir o “Império do Sol”, já iniciado, dormi sem ver o final, acordando as 4 da manhã, com uma baita dor no pescoço.

Hoje, acordei por volta das 9 com ela ao meu encalço querendo atenção & sexo. Sem poder negar, sem poder reclamar, sem poder gritar, sem poder fugir da raia, sem poder reagir, respirei fundo, me inspirei para mostrar-lhe que relevava a mal-sucedida véspera de Natal.

Ela quer que eu esteja sempre presente, já tem tudo planejado para o próximo fim-de-semana, mas em nenhum momento se preocupou em prestar atenção às minhas vontades. Novamente terei que relevar. Novamente darei o braço a torcer, pois sei que se ficar contra o programado, ficarei para trás & ainda serei julgado como estraga-prazeres. Aliás, essa é sempre a arma que ela usa, o seu argumento precioso, o de que sempre estou me esquivando dos passeios, quase um chato, que só quer ficar em casa.

Sexta-feira, o que menos fiz, foi ficar em casa. As 6 e meia da manhã ela me chamou para irmos a mercados. Passamos toda a manhã fora de casa. Fizemos um almoço super simples, por volta das 13 horas, depois ela descansou por mais ou menos 1 hora & meia, & saiu para a casa da avó. E só voltou por volta das 20 horas. Tomou um banho & dormiu. Acordou meia-noite & dez & me desejou Feliz Natal! É!!!!

Peixão89

Desabafos 2 - 1999-2000

Peixão
Enviado por Peixão em 07/01/2010
Código do texto: T2017126
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