Um Ensaio sobre o Mal
A idéia de que o diabo não existe faz sentido. Alguma coisa existe, mas não é o diabo. Somos nós.
Cada mandamento, cada ensinamento da bíblia tem um único propósito que é pôr outras pessoas num ponto mais importante do que o seu próprio lugar na sociedade. Tentar satisfazer e ser “bom” com outras pessoas. Isso funciona maravilhosamente para uma sociedade muito social – como os hebreus – ou uma civilização grande – como os romanos –, pois por os interesses de outra pessoa na frente dos seus é o mesmo que por os interesses da sociedade em si acima dos seus próprios. Por exemplo, se você não “invejar a mulher do próximo”, não irá seduzi-la e então não quebrará o conjunto familiar do outro. Se não roubar, não matar ob-viamente não causará danos à sociedade.
Tendo estabelecido que o objetivo de Deus é criar uma sociedade saudável e utópica fazendo com que cada um de nós pense mais no próximo é presumível que Ele definiria aquilo como “bom” – mas eu acho que para essa linha de pensamento os termos bom e mal são inúteis –, mas nós, não como homens, mas como animais temos um instinto de sobrevivência gigante.
O impulso mais forte de qualquer ser humano em qualquer situação é sobreviver e isso está acima de tudo. Então é de se supor que hora ou outra o homem seguirá esse instinto e porá a si mesmo acima de outra pessoa para a própria sobrevivência. Aí nasce algo além da sociedade. Nesse ponto a sociedade não importa mais, pois você está acima de outras pessoas na linha de sobrevivência. (Decidir se esse instinto de sobrevivência está dentro dos padrões atuais de “bom” está além de mim.)
Esse instinto é considerado aceitável para algumas pessoas, e quando esse instinto é modificado para os padrões atuais de “sobrevivência” – ter uma vida confortável, uma esposa bonita um futuro estável é o que muitas pessoas consideram sobreviver já que continuar vivo não é um desafio tão grande quanto na era da pedra e a idéia de sobreviver evolui – é aceitável pô-lo acima da sociedade.
Nasce o Ego. O Ego é uma evolução do instinto como nós somos evoluções de Adão e Eva ou dos Neandertais – credos à parte – e uma boa vida é uma evolução de “sobreviver”. O Ego é a essência do que se considera mal por definição. Se considerar mais importante que outros membros da sociedade.
Mas o homem por algum motivo criou um personagem externo para o Ego isolando assim o Ego do próprio homem. Um personagem externo que não representa o Ego, mas sim é o próprio Ego em essência: o egocentrismo na sua idéia mais abrangente de ser mais importante do que qualquer outra coisa ou pessoa. Esse personagem é o que nós consideramos o diabo. Isolar o Ego talvez tivesse ajudado a tentar eliminá-lo por completo no começo, mas assim que a noção de que o diabo e o Ego era exatamente a mesma se perdeu em algum ponto isso protegeu o Ego da percepção do homem e a capacidade de excluí-lo conscientemente se perdeu.
Mas a parte importante é que o Ego é algo vivo. Enfurnado dentro da mente inconsci-ente e escondido da percepção ele influencia-nos a cada decisão, ele está lá e está vivo. Não embrenhado e fundido com a nossa identidade que excluir-lo – com ou sem externar a sua essência através do diabo – é impraticável ao homem comum. Um intruso um câncer presente dentro de cada um de nós. Algo que simplesmente sintetiza toda a idéia de mal que nós temos. E ele não apenas está dentro de nós como é uma parte de nós. O fato de não se poder achar-lo na nossas ações apenas o torna mas perigoso.
Jesus – entre outros como Gandhi, Martin Luther King – foi um homem que nasceu sem a presença do Ego ou então foi alguém que descobriu a sua existência e conseguiu, senão excluí-lo, isolá-lo completamente das decisões conscientes. Como ele conseguiu pode ou não ser importante, mas o que realmente importa é saber que o Ego está lá influenciando e controlando as minhas próprias decisões nesse exato momento.
A conclusão é de que o “Mal”, como alguns os definem, não existe precisamente, mas que nós humanos somos o que chega mais perto dele.