Lição aprendida com a perda



A perda de um ente querido provocou uma profunda ferida na minha vida. Por muitos anos a saudade e a revolta estiveram ligadas à lembrança dessa pessoa.

Quem se foi tinha 35 anos e eu que fiquei tinha apenas 11. Hoje, 29 anos depois, estão vívidas em minha memória as imagens daquele derradeiro e triste encontro.

Não há nada de muito original nesse sofrimento. Todos os seres humanos em algum momento de suas trajetórias conhecerão esse drama e iniciarão a árdua tarefa de prosseguir a caminhada da vida apesar da dor.

E em algum momento a ferida que permaneceu aberta e dolorida por um período de tempo, se transforma numa cicatriz que já não dói, mas não permite que a perda caia no esquecimento.

O paradoxo disso tudo é que é bem comum que a perda simbolize um espaço de amor perdido para sempre. Um sufocante deserto emocional que levantou suas dunas.

Para mim a dor foi tão grande que em algum lugar escondido em minha mente decidi nunca mais ter que passar por isso de novo e a estratégia mais eficaz que me pareceu foi não permitir que vínculos emocionais crescessem.

Uma fórmula lógica: sem envolvimento, sem sofrimento.

Demorei pra descobrir que essa não é a fórmula que me livraria do sofrimento, mas a fórmula da solidão. Necessitei de muito sofrimento pra descobrir que o melhor abrigo para o sofrimento das perdas está no coração e no amor daqueles que ficam ao nosso lado e que também necessitam de nosso amor para lhes dar conforto pela perda que tiveram.

Quero cada vez mais buscar esse conforto no coração dos meus entes queridos, dos meus amigos por que sei que é aí que vou encontrar a água que vai matar a minha sede quando a hora dolorosa se apresentar novamente.