A MORTE DA JUVENTUDE
Estamos em 2010. Há de se tratar de um ano realmente novo, se a dignidade for verdadeiramente original. Uma década depois da virada de milênio – desde há dez anos eu me sentia privilegiado por fazer parte das almas que presenciaram este momento – estamos aqui continuando a viver. Penso nos que já se foram. Oh meu Deus! Foram tantos e tantas! Muitos que desapareceram deste mundo injustamente. De forma criminosa e violenta. Sinto profundo pesar por alguns jovens, de idade semelhante a minha, que se foram. O que mais me dói na morte em tempos de juventude, são a força e a vitalidade que essas almas não tiveram oportunidade para tudo esbanjarem. A nós que continuamos a respirar e andar por ai, sinto que, de certa forma, devemos bem viver, por eles’as que não podem estar nas mesmas baladas que a gente... Uma jovem moça que não pode mais sorrir, as investidas de um rapaz que desaparecera deste mundo, cada ato destes que realizaram e, que nós outros, coloquialmente desempenhamos todo o tempo, porque estamos existentes, pode ser pensado com mais sensibilidade.
É verdade que sinto a juventude brasileira perdida. Tão perdida, que eu mesmo não sei apontar um caminho certo a seguir. São tantas as tendências, as embriagassões, os becos sem saídas e as ilusões, que não tenho forças para culpar todos’as que se arriscaram ou se precipitam por aí. Mas devo dizer – e aqui quero ser definitivo – que nós não precisamos ser tão “largados”. Há algo de semelhante em todas as “tribos”, se querem assim chamar os grupos ideologizantes e ideologizados desse Brasil de início de século. Falo do bom senso. Não venham me dizer que antes de “entornar” três caixas de cerveja e logo depois usar uma branca pra “ficar legal”, não tenha passado algo na mente que isso iria estragar o cara ou a mina. E vou mais longe ainda – mais longe, quero dizer, me distanciar do ócio crítico da nossa sociedade para uma conseqüente re-aproximação da nossa condição originária de seres humanos. Nós temos uma “ferramenta” que chamamos de intuição. Ela foi nossa primeira forma de “inteligência” na vida. Essa “coisinha” que tão pouco é considerada atualmente está o tempo todo, nos confidenciando, através de sua voz silenciosa, o que nossa alma pensa das nossas escolhas, de nosso pensamento e de nossos comportamentos. E sabe, pouco escutamos ela. Por que? Temos medo. A final de contas, preferimos o agito da multidão e das festas, das diversões sem limites e dos inebriadores de consciência. Por fim, não conseguimos permanecer acompanhados de nós mesmos, sozinho com nossa solidão: um mergulho sadio consigo mesmo, para saber do coração o que ele reclama de dor ou felicidade. O medo da reaproximação com nossa interioridade gera efeitos ruins. Por isso, não raramente, nosso coração, nossos sentimentos e ate mesmo a alma, emergem violentamente de dentro de nós, clamando que notemos nossa própria miséria de sentido da vida. De certo, este emergir se faz quando o absurdo já foi atingido, e o peito está sufocado na solidão da multidão insensível a “mim”, e carente do acompanhamento do “eu-apenas” ao seu lado.
Peço que me perdoem a subjetividade de minhas palavras. Mas sinto que muitas coisas acontecem ao mesmo tempo na vida da juventude. Entre um guri de 14 anos que tenta suicídio por pensar num itinerário de emo, ou uma garota que engravida logo nas suas primeiras vezes ou ainda - e isso acontece bem mais vulgarmente - a maneira pela qual os jovens se relacionam, corações turistas, a beleza escandalizada, belos corpos de mentes ocas, sinceramente penso que em todos estes comportamentos há muito mais uma aproximação para com aquilo que é banal em detrimento do que é essencial e original: a felicidade. Qual a causa da vida “largada” da juventude? Valores? Dinheiro? Política? Também não consigo dizer, mon cher.
Não quero defender um panorama de comportamento. Não sou pastor de igreja. Mas que eu poderia fazer? Desejo fazer algo. Hoje sinto que realmente estamos desapartados de nossa intuição. E estamos desacostumados a interagir com nossa racionalidade criativa. As tendências ditam os comportamentos. E também quem vive e quem morre. E são pelos que morrem e pelos que noto que estão infelizes ou perdidos que sinto desejo de afirmar: não haverá ano novo se nossa dignidade não for original.
O quão originalmente digno de si mesmo você é? Penso que a resposta para isso está muito mais na solidão povoada de si mesmo do que nos agitos fáceis da nossa era.
Leia mais em - http://blogs.abril.com.br/poemasvalentulus