A CONVIVÊNCIA E SEUS MISTÉRIOS.

A CONVIVÊNCIA E SEUS MISTÉRIOS.

A vida sem mistério não dá pra ser decifrada. Pra não ter mistério, teria os homens que não nascerem com inteligência, pensamento, raciocínio, razão. Isto porque a vida em seus diversos labirintos é conduzida por nós, humanos, desde que, misteriosamente, aparecemos no planeta.

Os homens sempre foram os seus sistemas sociais que se lhes foram permitidos, nos diversos períodos. Referenciamos os modos de vida de cada geração – culturas diversas nas mais variadas tonalidades. Em cada período desses, uma verdade foi estabelecida e, naturalmente, norteou toda a geração daquela cepa de sociedade estabelecida.

Paulatinamente, foi se construindo no tempo histórico e social, todo um lastro de maneiras de pensar, agir e sentir. De uma geração para outra, de alguma maneira, muitos aspectos comportamentais são repassados para as gerações seguintes, donde muitos modos de vida conseguem ser transmitidos com pouca modificação. Cada década que se passa, pode estabelecer novas condutas, principalmente, no âmbito da sociedade urbano-industrial, secularizada. Neste sentido, a evolução tecnológica e científica foram preponderantes, considerando que tiveram grande influência em novas práticas de convivência proporcionadas, no geral, pela inserção de novos equipamentos eletroeletrônicos e nanotecnológicos.

O homem é o que ele pensa! Suas atitudes sociais só se controlam no âmbito das Instituições Sociais. De fato, livre pensar é só pensar, como disse Millôr Fernandes. Fazê-las e execá-las, no entanto, tem sérias implicações uma vez que invadem as relações nos seus diversos níveis de complexidade. Conviver em condomínio é um forte exemplo disto, principalmente se esse conglomerado for periférico e com elevado contingente de pessoas.

A chamada sociedade moderna tende a tudo simplificar, principalmente no tocante aos bens de consumo. Complexifica, acreditamos, no viés da relação interpessoal. Porque sendo “INTERPESSOAL” requer de cada um, no coletivo, a socialização simbólica de atos e atitudes que, no interior dos indivíduos são estruturados de cima pra baixo como se o inconsciente determinasse ao consciente. Em tese estaria instalado um conflito entre o que cada pessoa codificou sobre, por exemplo, o amor: um indivíduo vê esse sentimento com viés romântico, enquanto a maioria dos seus colegas de trabalho, ignora e condenam esse prisma de amar. A dimensão disto se multiplica exponencialmente, se levarmos em consideração, por exemplo, “VOLUME DE SOM EM APARTAMENTO”! A tendência é cada condômino se achar no direito de ouvir sua musica no volume que entende, ignorando, inclusive, legislações específicas dos órgãos de controle ambiental.

Os mistérios da vida não estão nos ditames das seitas e igrejas tradicionais, como se pode imaginar. A grande dificuldade está no livre pensar que nos arvoramos em função de dispormos desse monumental dispositivo humano chamado pensamento. Nesse utilitário “equipamento” que nos faz distinguir dos demais seres na terra, construímos nossos sonhos, fantasias, mitos e realidades. Focando o mito, permitimo-nos a isto sem qualquer reprimenda de outros sentidos acerca. Eu posso achar que sou “deus” e ninguém vai me convencer disto. Argumento: sou deus de mim, de minhas convicções, do meu destino, do meu amor e da minha dor, etc.. Como derivado disto, posso até criar amuletos, estabelecer cânones e o que mais for preciso que eu queira fazer, idiossincraticamente. De uma hora pra outra, como num passe de mágica, poderei ser seguido por mais pessoas e, de repente, poderei ser um “Roque Santeiro” da vida e das novelas.

O mundo está cheio de histórias pessoais e coletivas que, o mínimo que a gente pode dizer é que são loucuras. O conceito de loucura, por sua vez, incorreria na mesma acepção simbólica envolvendo o coletivo e o particular, o inconsciente e o consciente, como vêm anteriormente. Diante de um gigantesco boato, dificilmente se consegue, com firmeza, detectar sua origem e mentores. Normalmente proporcionam a turba que, beirando o irracional, conduzem às mais diversas atitudes negativas protocoladas pela sociedade em seu universo simbólico.

O ataque terrorista às torres gêmeas consternou o mundo. Foi transgredida uma regra natural do ser humano: a vida em seu sentido mais absoluto. Isto por conta de condutas fanáticas calcadas na crença, ao que tudo foi noticiado, de que os terroristas suicidas teriam a salvação dentro de preceitos muçulmanos. No terreno dos mistérios, nós, ocidentais, dificilmente entenderíamos o acontecido fora do conceito de loucura, como de fato pensamos.

Conviver não é fácil entre os aparentemente iguais. Certamente se complica entre os abertamente diferentes, os disfarçadamente iguais e entre os assumidamente diferentes em suas igualdades.

Talvez tenhamos que admitir que a teoria dos jogos, nas relações interpessoais, base da Análise Transacional, tenha que ser revista e adequada a uma nova forma. Isto porque há uma afirmativa na AT que condena o “jogo” nas relações interpessoais, mas tudo parece caminhar para o entendimento de que a vida moderna esteja legitimando esse “jogo”, salvo melhor estudo sobre isto.

Poderemos finalizar estas considerações acerca do mistério, reafirmando que somos nós os nossos fantasmas e os construtores das nossas próprias cavernas. Afinal, Sartre já nos brindava com "O Inferno São os Outros". No limiar de tudo, resta a descoberta tardia de que convier em sociedade requer solidariedade, educação, respeito às diferentes formas de agir. A igreja católica entrega à Santíssima Trindade tudo que ela não sabe explicar aos fiéis. - Mistérios?

Os homens entregam à loucura, tudo aquilo que eles não tem condições de compreender com base no seu saber. Parece que, em pleno terceiro milênio, não descobrimos um remédio que nos pudesse curar o mal do egoísmo.

Como dizia "D. Milu": - Mistérios?

CARLOS SENA