Anencefalia: o homem e o monstro
O Supremo Tribunal Federal deve julgar, em breve, a ação que visa permitir a realização do aborto em casos de bebês com anencefalia. Esse assunto circula no STF desde 2004, quando causou grande repercussão na mídia. Na época, lembro que me causou algumas dúvidas, pois, como quase todo mundo, a imagem que eu tinha de anencéfalos era de crianças sem uma “vida de verdade”, com uma “sobrevivência” inferior à vegetativa. “Sem cérebro não é humano”, é o que nos parece…
Pois hoje, 5 anos depois, após conhecer as histórias de algumas mães que passaram por esses casos (inclusive de uma grande amiga da família), e procurar saber mais sobre o assunto, vendo de perto os argumentos de quem é a favor e contra, muita coisa mudou… Descobri, entre outras coisas, que esses bebês “sem cérebro” na verdade têm outras partes do encéfalo formadas, e que é impossível determinar com exatidão o nível de sua consciência… Mas acho que uma das coisas que mais me inquietaram foi ouvir da Mônica (que hoje cuida do belo site www.anencefalia.com.br junto com o Marcelo, seu marido), que o maior sofrimento de ter uma filhinha com anencefalia, a Giovanna, não foi a terrível notícia, durante a gravidez, de que ela não viveria por muito tempo, e nem de enfrentar sua morte poucas horas após o nascimento… Foi ouvir dizerem que a Giovanna não era humana. Foi ouvir as coisas mais descabidas para poderem justificar o direito de tirar a vida de outros iguais a ela, até a incoerência de que ali “não há vida”… “Hora, se não houvesse vida não haveria morte”…
Como a Mônica, hoje o que mais me choca são as verdadeiras mentiras que soltam por aí… Cheguei a ir numa audiência pública do Supremo onde debatiam do assunto, e fiquei sinceramente pasmo. Não é só respeitar o “direito” de mães que não querem sofrer (como se isto fosse possível…), querem é legalizar o aborto a todo custo, e para isto é importante começar por algo monstruoso, que choque. Hoje é a “má formação cerebral”, amanhã talvez Síndrome de Down, deficiência mental… Deficiência é deficiência, como dizer qual merece a vida? Por que uns sim, e outros não? Só por que não vão chegar a raciocinar como nós, a andar como nós, a viver o mesmo tempo que nós?… Bebês com anencefalia também nascem chorando (olha a fotinha da Giovanna, lá no site), alguns chegam a sorrir, como qualquer um de nós, “humanos”. E se amanhã ou depois, descobrirmos que só nos resta pouco tempo de vida, será que seremos capazes de sorrir, como eles?…
Sim, às vezes não temos idéia de onde o ser humano pode chegar. De quanto podemos viver, e o quanto seríamos capazes de… matar. De justificar atrocidades pela “monstruosidade” de fatos como anencefalia, estupro ou gravidez na adolescência. De nos darmos o direito de escolher entre vivos e mortos, sãos e doentes, céfalos e acéfalos… Entre homens e monstros.
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