Bate, bate, bate coração...
Roberto Mateus Pereira
23/dez/2009
Entre as quatros paredes de um quarto frio, silencioso, ouço minha própria respiração...
Estou aqui, preso num leito de uma U.T.I..
Que belo programa fui me arrumar.
E agora? As festas de Natal?
Meus familiares? Meus filhos?
A mulher que tanto amo e de tantos anos?
Único e verdadeiro amor...
E os amigos?
Ninguém sabe o que se passa comigo agora, neste quarto.
Só eu, com minhas orações, angústias e medo.
Falta-me um pouco de ar e por isso me colocaram no “balão”.
Esquisito o nome que dão ao oxigênio.
Olho o médico, as enfermeiras e todos, num esforço que parece combinado, sorriem para mim.
Será que é para dar ânimo ou ainda não encontraram a resposta ao meu problema.
Sei que o “negócio” é serio, aliás, qualquer caso que exige a presença de um médico é serio.
Talvez o meu caso, em especial, necessite de uma atenção também especial.
Estou lúcido, senhor absoluto de minhas emoções e esse “absoluto” é que me preocupa, pois será que saberei aceitar uma péssima noticia.
Que merda!
Preciso contar até 100...
Alias quanto ao tempo, tenho tempo de sobra.
Será?
A expectativa não é somente minha para que eu consiga reverter esse quadro nada agradável.
A torcida para que tudo volte a ser estável e a freqüência cardíaca prossiga seu curso em tranqüilidade, chega até ser enervante.
Os segundos são eternos.
Já revi a minha história, todas, muitas vezes nesse espaço de tempo...
Já fui criança, brinquei de pelada nas ruas, soltei pipa, fiz de tudo.
Não reclamo, pois fui moleque... Moleque no bom sentido!
Cresci, fui adolescente como todos, fumei escondido, ia escondido na zona, tive uma grande paixão, daquelas que todos os jovens indubitavelmente passaram ou terão que passar.
Sofri por amor, como todos sofreram e com certeza muitos outros sofrerão...
Amei muito e ainda amo...
Sou querido como poucos.
Bate, bate, bate coração... Coração pode bater!
Não me deixe na mão.
Tenha modo e volte à normalidade, vamos... tenho pressa.
Continuo na minha Via Sacra particular.
Esse percurso já fiz várias vezes em tão pouco tempo.
Revi minha conduta como homem, pai, marido e tenho certeza que o saldo é positivo...
Creio que ainda tenho um crédito, mesmo pequeno, mas tenho...
Caramba, chega de viajar... Tenho que deixar "os entretanto de lado e partir para os finalmente".
- E então doutor, há alguma expectativa quanto a reverção este quadro? Pergunto na buxa, mas sem muita convicção com medo da resposta que está por vir.
- Vamos aguardar mais um pouco o resultado, mas pelo tempo que foi aplicado o medicamento era para ter revertido. Creio que a única saída será mesmo o choque.
Me apavorei.
Fiquei calado por um bom tempo e com o “rabo dos olhos” observava o monitor desfilando gráficos nada simétricos...
150... 87...95..42..112...101 e assim por diante.
Onde fui amarrar o meu boi. Pensei...
Será que o meu fim vai ser hoje?
Será que fiquei de repente no vermelho. Não terei tempo para dar um único olhar, uma única palavra de carinho para aqueles que tanto amo?
Desta vez tremi na base... Respirei fundo, angustiado e entreguei a decisão final para Deus.
Coisa que todo mundo faz quando aperta o calo: Apela para Deus...
Muitos somente pensam Nele com ardor neste momento. Na hora derradeira do fim ou na iminência do fim.
Como sou cristão praticante e confio Nele, relaxei.
Seria Ele o meu guia, meus olhos, o meu médico. O Grande Médico!
Não sei bem quanto tempo fiquei naquela posição.
Quando voltei a cabeça para o lado do monitor tive uma surpresa:
O quadro estava revertido.
Com alegria, olhava aqueles gráficos como se fossem coisa do outro mundo... E era, pois lá estava ele repetindo simetricamente os “riscos”... 50... 50... 50...51...50... e assim por diante, maravilhosamente quem sabe até a eternidade.
A partir daí o tempo passou rápido, a preocupação deu lugar para um, dois, três, muitos sorrisos contagiantes.
E olhe que não foi só meu. Lá em cima Ele sorria e pensava Consigo mesmo: “Esse me filho não toma jeito”, me apronta cada uma.
Quando deixava a U.T.I., o solícito enfermeiro veio me cumprimentar e disse:
- Essa bateu na trave, hein dotô?
Dei uma tapinha em suas costas e tomei o rumo de casa agradecendo por estar vivo e pela proeza deste meu Grande e Eterno Médico.
Roberto Mateus Pereira
23/dez/2009
Entre as quatros paredes de um quarto frio, silencioso, ouço minha própria respiração...
Estou aqui, preso num leito de uma U.T.I..
Que belo programa fui me arrumar.
E agora? As festas de Natal?
Meus familiares? Meus filhos?
A mulher que tanto amo e de tantos anos?
Único e verdadeiro amor...
E os amigos?
Ninguém sabe o que se passa comigo agora, neste quarto.
Só eu, com minhas orações, angústias e medo.
Falta-me um pouco de ar e por isso me colocaram no “balão”.
Esquisito o nome que dão ao oxigênio.
Olho o médico, as enfermeiras e todos, num esforço que parece combinado, sorriem para mim.
Será que é para dar ânimo ou ainda não encontraram a resposta ao meu problema.
Sei que o “negócio” é serio, aliás, qualquer caso que exige a presença de um médico é serio.
Talvez o meu caso, em especial, necessite de uma atenção também especial.
Estou lúcido, senhor absoluto de minhas emoções e esse “absoluto” é que me preocupa, pois será que saberei aceitar uma péssima noticia.
Que merda!
Preciso contar até 100...
Alias quanto ao tempo, tenho tempo de sobra.
Será?
A expectativa não é somente minha para que eu consiga reverter esse quadro nada agradável.
A torcida para que tudo volte a ser estável e a freqüência cardíaca prossiga seu curso em tranqüilidade, chega até ser enervante.
Os segundos são eternos.
Já revi a minha história, todas, muitas vezes nesse espaço de tempo...
Já fui criança, brinquei de pelada nas ruas, soltei pipa, fiz de tudo.
Não reclamo, pois fui moleque... Moleque no bom sentido!
Cresci, fui adolescente como todos, fumei escondido, ia escondido na zona, tive uma grande paixão, daquelas que todos os jovens indubitavelmente passaram ou terão que passar.
Sofri por amor, como todos sofreram e com certeza muitos outros sofrerão...
Amei muito e ainda amo...
Sou querido como poucos.
Bate, bate, bate coração... Coração pode bater!
Não me deixe na mão.
Tenha modo e volte à normalidade, vamos... tenho pressa.
Continuo na minha Via Sacra particular.
Esse percurso já fiz várias vezes em tão pouco tempo.
Revi minha conduta como homem, pai, marido e tenho certeza que o saldo é positivo...
Creio que ainda tenho um crédito, mesmo pequeno, mas tenho...
Caramba, chega de viajar... Tenho que deixar "os entretanto de lado e partir para os finalmente".
- E então doutor, há alguma expectativa quanto a reverção este quadro? Pergunto na buxa, mas sem muita convicção com medo da resposta que está por vir.
- Vamos aguardar mais um pouco o resultado, mas pelo tempo que foi aplicado o medicamento era para ter revertido. Creio que a única saída será mesmo o choque.
Me apavorei.
Fiquei calado por um bom tempo e com o “rabo dos olhos” observava o monitor desfilando gráficos nada simétricos...
150... 87...95..42..112...101 e assim por diante.
Onde fui amarrar o meu boi. Pensei...
Será que o meu fim vai ser hoje?
Será que fiquei de repente no vermelho. Não terei tempo para dar um único olhar, uma única palavra de carinho para aqueles que tanto amo?
Desta vez tremi na base... Respirei fundo, angustiado e entreguei a decisão final para Deus.
Coisa que todo mundo faz quando aperta o calo: Apela para Deus...
Muitos somente pensam Nele com ardor neste momento. Na hora derradeira do fim ou na iminência do fim.
Como sou cristão praticante e confio Nele, relaxei.
Seria Ele o meu guia, meus olhos, o meu médico. O Grande Médico!
Não sei bem quanto tempo fiquei naquela posição.
Quando voltei a cabeça para o lado do monitor tive uma surpresa:
O quadro estava revertido.
Com alegria, olhava aqueles gráficos como se fossem coisa do outro mundo... E era, pois lá estava ele repetindo simetricamente os “riscos”... 50... 50... 50...51...50... e assim por diante, maravilhosamente quem sabe até a eternidade.
A partir daí o tempo passou rápido, a preocupação deu lugar para um, dois, três, muitos sorrisos contagiantes.
E olhe que não foi só meu. Lá em cima Ele sorria e pensava Consigo mesmo: “Esse me filho não toma jeito”, me apronta cada uma.
Quando deixava a U.T.I., o solícito enfermeiro veio me cumprimentar e disse:
- Essa bateu na trave, hein dotô?
Dei uma tapinha em suas costas e tomei o rumo de casa agradecendo por estar vivo e pela proeza deste meu Grande e Eterno Médico.