Os círculos concêntricos dos relacionamentos

É relativamente comum o desapontamento de alguém com uma ou mais pessoas de seu círculo de relacionamentos. Em algum momento algo acontece e a confiança, outrora tão natural, transforma-se em desconfiança. Os sintomas característicos desse sentimento são o afastamento, a indiferença, a agressividade, a dificuldade de entrega, enfim, indicativos seguros do desconforto sentido quando a relação para prosperar exige um nível mais aprofundado.

Um fato gerador de desconfiança normalmente projeta-se para outros relacionamentos. Instalada a desconfiança nossa mente passará a desconfiar de forma reflexa de situações que nem sempre reúnem exatamente as mesmas características da situação anterior. Portanto, desconfia-se por uma razão real, mas, por outro lado, desconfia-se também, com igual intensidade, em função de um gatilho disparado em situação aparentemente semelhante. Somos condicionados à desconfiança.

Uma proposta viável de superação do quadro de desconfiança parte da seguinte reflexão. Sendo a desconfiança um quadro reativo a uma situação de quebra de vínculo baseado na expectativa de reciprocidade, que conseqüências podem advir da manutenção desse quadro por tempo indefinido?

Ora a afetividade é condição essencial para a realização plena do potencial humano. O ser humano necessita de amor de seus semelhantes, sob pena de desenvolver um quadro patológico de vazio existencial, traduzido em alguns casos em agressividade, ansiedade, depressão, angústia, hiperatividade e melancolia. A desconfiança generalizada, sem critérios, afasta seu portador das demais pessoas, de forma indiscriminada, levando-o inevitavelmente ao quadro antes descrito.

Se a desconfiança, objetivamente, cria uma situação emocional desfavorável, de que forma é possível direcioná-la de forma saudável? Em princípio procurando circunscrever a desconfiança ao fato que a gerou, procurando compreender que novas situações, apesar de semelhantes são novas e, por isso, diferentes, senão em todos, ao menos em alguns aspectos e isso exige uma postura nova também e não a cômoda utilização de um reflexo descircunstancializado.

No mesmo sentido, compreender que não há nada de errado em sentir desconfiança em relação a um fato ou pessoa quando foram protagonistas de um quebra explícita de confiança. Sentir o que há para ser sentido num processo de desapontamento é saudável e verdadeiro. Deixa de sê-lo quando perde sua principal característica, a transitoriedade e passa a ser um traço de personalidade.

Lidar, portanto, com situações já vividas é importante, mas desenvolver uma estratégia para o futuro é fundamental para fugir à cômoda solução da utilização de soluções baseadas em reações pretéritas e meramente reflexas. Trata-se co conhecimento dos círculos concêntricos dos relacionamentos que passaremos a expor.
( Continua...)
Astúrio Passos
Enviado por Astúrio Passos em 06/12/2009
Reeditado em 06/12/2009
Código do texto: T1963757
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