LUCKÁCS E DALTON TREVISAN

Analise do conto “O pai, o chefe, o rei”, de Dalton Trevisan com a incursão da teoria de Luckács.
DIFERENÇA ENTRE A EPOPÉIA E A NARRATIVA DE FICÇÃO


O conto apresenta características peculiares. Espelha o personagem com o cotidiano, não é algo posto num patamar superior, como é o caso da epopéia. Este personagem da narrativa de ficção avança tanto no exterior quanto no psicológico dos personagens. Não se busca endeusar um mito como o grande ser, mais identificá-lo a esta realidade.
No conto “o pai, o chefe, o rei”, temos a presença de um herói moderno, que busca solucionar os problemas de sua família, no caso, o filho que mata o pai. Está é uma característica que claramente demonstra uma modificação no contexto ficcional em relação à epopéia, onde o seu herói procura solucionar questões de cunho maiores, o qual luta em prol de um povo, de uma nação.
O personagem do conto é também um simples homem que vive numa comunidade, tem família, trabalha na labuta grotesca, estar ligado a um lar problemático, não tendo relação com poderes transcendentais que interfiram em sua vida. Sua relação com a vida é recheada de dureza e angustias, as quais não afetam um herói de uma epopéia, o qual tem uma relação com os deuses que interferem nas relações humanas.
As aventuras da ficção esta centrada em pequenos detalhes da vida humana. A trama se desenvolve tentando solucionar os dilemas do homem em sua relação com o outro, com a realidade que o cerca. Gira em torno dos seus conflitos externos e internos, diferentemente da epopéia que reflete a amplitude de um ser que carrega em si poderes de ser supremo, o todo poderoso, solucionador até de coisas impossíveis.
Diante de tais mudanças ocorridas na literatura Luckács afirma que o homem grego vivia no equilíbrio de uma estrutura fechada, que se relaciona com o gênero épico, enquanto o homem atual rompe com essa harmonia e o mundo passa a apresentar-se com uma estrutura incoerente.
Assim o romance é o lugar onde o homem tenta encontrar suas respostas. Ele não é um ser conformado com o mundo ao seu redor. Os conflitos existem e ele desesperadamente quer solucioná-los da maneira que melhor lhe é conveniente, sem esperar que os “deuses” venham bater em sua porta com receitas prontas a serem utilizadas. A questão maior é a dor no personagem sentida/percebida na realidade, afinal a ficção espelha a realidade. Nada é definitivo no romance, é justamente essa diferenciação que o põe no topo da reflexão acerca do ser e derruba aquela idéia infantil proposta pela epopéia.

 
Valdon Nez
Enviado por Valdon Nez em 05/12/2009
Reeditado em 08/09/2015
Código do texto: T1961515
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