O "verdadeiro nascimento da literatura brasileira" a partir de uma problematização de José Veríssimo.
De acordo com José Veríssimo (1997), a literatura produzida no Brasil possui particularidades capazes, por sua vez, de se distinguir da produção portuguesa. Entretanto, isso nem sempre foi assim. Apenas a partir do Romantismo foi possível dar esse destaque à produção literária brasileira.
O Brasil manteve a literatura portuguesa viva por no mínimo três séculos. Isso se deu pelo fato de que como colônia de Portugal, o Brasil ainda em formação era uma espécie de reflexo dos ideais da metrópole lusitana. Portanto, trezentos anos serviram para entender os argumentos críticos – ou mal intencionados – que afirma que o Brasil durante todo esse período viveu um obscurantismo visceral, pois teve sua existência apagada quando se leva em consideração o aspecto literário para a verdadeira compreensão da produção própria de todo um povo.
Somente a partir do final do século XVIII os poetas brasileiros começaram a deixar marcas capazes de se distinguirem do que estava sendo realizado em Portugal. Por isso, foi somente a partir do advento romântico (séc XIX) que a produção literária brasileira ganhou forma e, sua essencialidade reside no fato de que suas expressões estavam carregadas de um “consciente espírito nacional”.
Essas evidenciações nos permitem afirmar que a literatura brasileira se processou como reflexo da portuguesa por durante três séculos e assim é possível fazermos uma divisão precisa que, por sua vez, acompanha a divisão da história do povo brasileiro e do Brasil que são: período colonial e período nacional. Segundo Veríssimo, entre esses dois períodos é possível concebermos a literatura brasileira apenas como transição marcada por poetas da plêiade mineira (1769-1795) e por no máximo alguns outros poetas que os seguiram até os românticos.
No primeiro período, o colonial, nossa literatura – como já foi dito – pode facilmente ser encarada como uma extensão da portuguesa e, sua vinculação a objetivações superficiais para um povo que aqui vivia revelava preocupações destoantes, pois a realidade do Brasil parecia exigir outras possibilidades. No período nacional, nossa literatura toma outras feições que não aquela puramente portuguesa. A nova escola tida como romantismo encontrou terreno fértil aqui.
O nosso romantismo é marcado por preocupações como: dar ao índio o lugar que lhe é por direito valorizando-o e contando seus feitios, revelar destacadamente o valor da natureza e da história do país como também difundir “ o conceito sentimentalista da vida” (Veríssimo, 1997).
Para isso, a literatura deve ser encarada não só como algo que nos causa prazer, mas também é ela um permanente convite para o exercício de nosso pensamento, de nossa intelectualidade. Através da literatura tomamos gosto pelas idéias. É por essas características que temas que envolvam diretamente a realidade, quer dizer, um país, pode evidentemente ser encarado como ponto de partida para seu verdadeiro entendimento. Assim, temas como o indianismo, a história do país, a constituição de sua diversidade natural, etc., podem ser encarados como marca de seu verdadeiro nascimento. Foi exatamente isso o que aconteceu como o Romantismo.
Entretanto, muitos de nossos escritores presentes tanto em nosso período colonial como no nacional sofreram influências de literaturas fora do território nacional. Influencias essas que mesmo externas é possível observarmos as idéias que vinham povoando a mente nacional. Para defender esse ponto de vista nem seria preciso lançar mão de muitos argumentos, conquanto observamos que não importa muito os modelos e as formas de se produzir literatura, mas as idéias e a realidade do país expostas nela, evidentemente. Portanto, ainda que o Romantismo tenha sido uma corrente literária iniciada em países da Europa, sobretudo, França e Alemanha, no Brasil o encaramos como o início definitivo de uma literatura tipicamente brasileira. É como já foi dito, uma literatura que se volte para temas nacionais valorizando a sua história, o seu povo, etc., deve ser encarada como o principal meio para compreendermos um processo que é divisório.
Assim, o Romantismo marca o início de uma literatura tipicamente brasileira. Ainda que sob influências externas, esse movimento buscou retratar o que de mais profundo existia em um país que se distinguia por sua beleza natural como também pelo seu povo. São as manifestações literárias desse período nacionalista e patriótico que nos permitem refletir sobre as idéias constitutivas como marcas originais e próprias, mas não necessariamente exclusivas de todo um povo.
Referência:
VERISSÍMO, José. História da literatura brasileira. Ereechim (RS): Edilbra, 1997.