Breve análise do livro “O cadafalso” do poeta Evan do Carmo

De uma forma geral a poética que está presente em toda a obra “O cadafalso” de Evan do Carmo pode ser definida como uma espécie de sopro tênue colocando de um lado certa compreensão do mundo representado pela inquietude do ser humano diante da vida, de outro seus sentimentos e suas angústias. Isso não seria possível se não fosse permitido ao autor caminhar com passos firmes no terreno límpido da poesia e da filosofia.

Assim, nos colocamos diante de uma poética não tão fácil de ser compreendida, porém não tão seca, nem sem beleza. É evidente que quando lemos um poema que pretende fazer um percurso tendo como aliadas poesia e filosofia nos deparamos com uma apreensão inerente a todo esse processo. Isso se dá porque o ser se lhe apresenta como individualidade fragmentada. Portanto, razão e emoção o define nessa realidade de inquietação perpétua.

É em todo esse processo que Evan do Carmo parece estar interessado. Dessa forma, no poema “Do apolíneo ao dionisíaco” está posto o seguinte:

Busco a medida exata do apolíneo

Ao dionisíaco.

Uma forma de beleza

Que não me furte a razão.

(...)

Este é meu maior e mais virtuoso desejo:

Entre a poesia e o pensamento filosófico.

Compreendemos o fato de que isso pode, evidentemente, servir para corroborar o que já temos dito até aqui. Mas isso não é tudo. A poética de “O cadafalso” não se esgota aqui.

Há um ponto deveras compreensível que temos diante desse processo. Curioso para ser mais claro. É que o autor – não se sabe ao certo se intencional ou não – parece fundir em sua obra certos ideais simbolistas e ao mesmo tempo parnasianos. Isso quer dizer que em muitos momentos o autor usa a linguagem não para retratar a realidade de uma forma direta, mas tão somente para sugeri-la (in “De que matéria é feita a solidão?”).

(...)

No centro de uma infinda confusão

Apenas eu não sinto

De que matéria é feita a solidão.

Em outros momentos ele faz um movimento contrário, isto é, busca retratar a realidade em todas as suas dimensões de uma forma direta (in “Natureza”);

(...)

Natureza viva ou morta

Quem planta sabe dizer

Que às vezes se depara

Com a fome no colher

Mas afinal o que é Cadafalso? “Tablado ou estrado erguido em lugar público, para sobre ele se executarem condenados; patíbulo”. (Dicionário)

É compreensível que o título sirva perfeitamente para dar nome ao livro. O trágico perpassa a obra. Muitas vezes a angústia se sobressai e a morte aparece como inevitável.

O autor parece dar voa a Nietzsche. Esse último parece ainda gritar aos nossos ouvidos. Por isso nos perguntamos: a poética de Evan do Carmo pode ser definida também como uma tentativa de dar extensão a certos ideais nietzschianos? É evidente que podemos responder a esse questionamento pela afirmativa.

Vale também dizer que entre os pontos fracos que há na obra, o de maior destaque está no uso desnecessário de imagens. É obvio que aqui não se pretende diminuir a importância dos escritores que aparecem, apenas entende-se que os poemas – na sua maioria – não fazendo menção ao escritor é desnecessário colocar suas imagens como ilustração, etc. E mesmo que fizesse não se justifica o fato de que uma obra de poesia fuja de sua expressão e identidade lingüística para contemplar fotos ainda que de personalidades conhecidas no mundo literário e filosófico.

De qualquer forma, Evan do Carmo dá uma importante contribuição tanto para a literatura, quanto para a poesia, pois seus versos nos fazem pensar e sentir ao mesmo tempo. De um lado nossa contemplação do mundo, de outro uma inquietação como característica do ser.

Leon Cardoso
Enviado por Leon Cardoso em 28/11/2009
Código do texto: T1949652
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