O Futuro

O futuro está mais próximo. As categorias do tempo, sobretudo o "agora" e o "depois", confundem-se como nunca se olharmos o passado. De facto, o futuro interpenetra-se no presente. Nada se estabiliza, deslizamos num "mais além" sem possibilidade de apropriação. Melhor, o que podemos reter como representação é o que virá, mesmo que não saibamos prever qualquer conteúdo prospectivo. O tempo acelerou, tudo se antecipa e por aí crescem as incertezas em espiral. O futuro está tão próximo que se tornou opaco. Lembra-nos uma máxima chinesa, o que está demasiado perto escapa à nossa acuidade visual. Ver era reconhecer, confirmar - talvez, por vezes, duvidar. Ver tornou-se numa observação necessária à capacidade inventiva de imaginar. A precariedade, “o já passou”, o efémero, são expressões que invadem "o actual", “o momento”. Reconhece-se que o instante realizado já não é da ordem do realizável, esgotou-se. E, no entanto, e por isso mesmo, só os instantes duram. “O mais além” aproxima-se, é a renovação vertiginosa de um modo diferente de agir que está marcado pela inevitabilidade próxima do seu fim. A sociedade tecnocientífica introduziu um modo particular de entender a duração: nada dura, inelutavelmente, face ao inexorável provisório. O estatuto da novidade é uma perda e um ganho, nunca o novo se tornou mais inútil e premente ao mesmo tempo. O passado, esse, nem existe.

O futuro tem de ser repensado, tem de se reintroduzir no âmbito das linguagens. Como sempre, o futuro é um assédio. Dito de outro modo: não podemos viver sem futuro. Afirma Daniel Inerarity,”para saber o que há é preciso cada vez mais fazer uma ideia do que haverá. Não é possível trabalhar sem informes sobre a situação do futuro. A vida de qualquer instituição depende, agora, mais do que nunca, da sua capacidade de antecipar. É preciso imaginar o futuro precisamente porque o futuro já não é o que era”.