Verdade Encenada
Quando acabam os motivos que sustentam a calma da ilusão humana e cortinas que desvendam a solidão de um artista caem por sobre o palco onde nossas verdades se encenam - é hora de repensar... que vidas são essas que vem e vão por sobre meu palco e fantasiam estar avivadas pelas falas de meus textos sem sentido? Que pessoas são essas que me enganam e se juntam em minhas encenações trazendo-me seus movimentos, sentimentos e condimentos...? Ai como me pareceu vivo encenar a minha própria vida quando o conheci... como pareceu-me justo o roteiro de meu espetáculo, como soou poético e estimulante... ai como dói estar sobre este palco escuro, quando meus protagonistas são tão antagônicos de mim. E me encerrou o desejo de continuar o texto... de reafirmar as marcações de palco, cuidar das entonações... deu-me essa vontade de recortar as cenas e deixar que elas se reagrupem; e delirar em seus acasos. Ai de mim que quero amar... esqueci de por alguém ser amado... ai de mim, que ninguém ame até que entenda ter primeiramente se interpretado na cena dessa dor de ser abandonado por aqueles que procuram outras leituras, outros sóis... outros. Por aqueles que querem outros públicos, outras palmas, outras ovações...
Eu sou o outro... o despreferido, o desencantado, o avesso do fascínio... porque meu espetáculo é íntimo, é próximo, é visível... é materializado nesse artista que germina em mim e que se expõe para além de um desejo, para além dos medos, para além inclusive de mim mesmo... E tudo é só esse espetáculo sem luzes, essa verdade dissimulada.