O "MODUS OPERANDI" E O "STRESS" FEMININO

A mulher moderna paga um alto preço pela sua ampla inserção no âmbito complexo da sua contemporânea e sobrecarregada atuação social.

A meu parco ver, é cruelmente castigada pelo resultado das suas lutas históricas.

Nos últimos cinquenta anos, desde a era da revolução sexual e das demais conquistas que dela advieram, inclusive a de ascensão em todos os campos da vida civil e do mercado de trabalho; a mulher vem aceleradamente ocupando encargos vários e um alto nível de stress físico e emocional.

A rapidez com que a sociedade se transformou não foi suficientemente acompanhada por mudanças na "funcionalidade" do homem, ainda restrito, salvo algumas exceções, ao principal papel de provedor dos lares, e não necessariamente sensibilizados pelas outras funções que a vida comum exige.

O motivo deste meu ensaio baseia-se no recente e lamentável fato ocorrido com uma mãe que perdeu a sua tenra criança, vítima de insolação, por a ter esquecido dentro do automóvel após mudar a sua rotina diária.

A princípio, principalmente para quem não é mulher, pode parecer inadmissível que tal fato tenha ocorrido.

Porém, para quem vive a condição de mãe, mulher, esposa, profissional, motorista, babá, gerente do lar, gerente das compras e das contas, afora o exercício da sensualidade que sempre se exige como impecável, é humanamente inteligível a triste ocorrência.

Tal fato MUITO me impulsionou a escrever sobre o que tenho vivenciado e presenciado nos dias de hoje.

Megalópoles com São Paulo, estão cada vez mais difíceis de se enfrentar com a devida qualidade de vida que em última análise significa saúde.

Por mais que tentemos uma logística eficiente para se administrar um dia de múltiplas funções, somos escravas dos compromissos, do tempo e por conseguinte, do maldito relógio.

O stress que se acumula é indescritível e o cansaço inadministrável!

As pessoas, principalmente as mulheres na faixa etária entre trinta e cinco e cinquenta e cinco anos, apresentam fenômenos ansiosos e depressivos em escala crescentemente assustadora. Eu qualificaria como incidência epidêmica.

Queixas vagas, dores difusas e diferentes escalas de angústias, queda do interesse pela vida, queda da libido, perda da capacidade cognitiva agilizada (raciocínio),diminuição da concentração e de memória, todas ancoradas no "modus operandi" de vida.

Soma-se ao fato a surreal alteração do nosso habitat: dramáticas mudanças climáticas que geram imenso desconforto, excesso de poluentes, trânsio infernal que nos mantem reféns dos atrasos, falta de verde, (em São Paulo, as árvores foram substituídas pelas "gruas" e os pássaros pelas betoneiras!); falta de lazer, e falta de convívio com a própria família.

E o principal: a falta de com quem dividir os encargos múltiplos!

Alguém que divida mais e cobre menos.

Importante lembrar que não basta a presença do homem. Há que se contar com presença atuante e participativa, carinhosa, compreensiva e reconhecedora da nossa luta, embora não esteja eu aqui crucificando a outra parte.

Apenas analiso uma realidade nua e crua, da qual o homem também é testemunha, e muitas vezes solidária vítima.

Cobranças de todos os lados, pressões financeiras, no trabalho e na família, e a maior delas, focada no gerenciamento dos filhos adolescentes, que na nossa atualidade eu a considero uma das questões mais sérias e difíceis de se administrar...principalmente à distância de casa.

Tudo muito difícil, deveras.

Esse caso em especial poderá perfeitamente fazer parte do quadro que por hora descrevo, e a mim me parece ilustrativo de que devamos reanalisar o nosso mais que complexo contexto de mulheres "modernas".

Até que ponto as conquistas valeram o alto custo?

É o que tenho me perguntado.

De toda sorte, aqui deixo minha total solidariedade a essa mãe, vítima de tão cruel fatalidade, por quem peço a Deus que lhe dê forças para atravessar esse revés.