Somos macacos bizarros... Coitados dos macacos.

Pelos quatro cantos do mundo há pessoas que se dizem normais, com capacidade e discernimento para escolher aquilo que acreditam ser melhor para elas e para os seus entes queridos. A loucura é um tabu que não se toca nem se admite, sobretudo quando a pessoa toma determinadas resoluções que para tais está autorizada. Todos nós pensamos que agindo como agiria a maioria, isto, em si, já seria um principio de lucidez. Então observemos as razões que a nossa razão desconhece.

Defendemos a todo custo aquilo que acreditamos. Somos sobremodo dono de uma verdade que abraçamos muito cedo, verdade que nos foi oferecida como doce para criança. Indiferente ao que pensa nosso semelhante, nós devemos tomar nossas decisões e não abrimos mãos delas por nada. Se formos ensinados que a nossa crença é que salva, então morremos repetindo esta sentença para os incrédulos. Nosso discernimento, aos olhos dos outros, pode parecer um tipo de loucura. A recíproca também é verdadeira. Segundo Platão, somos apenas homens, uma essência única, a despeito do que possam nos ensinar os supra-racionais clérigos ou filósofos místicos. Somos uma espécie de animal e não um ser superior que tem como domínio a torre mais alta da inteligência Nossas atitudes são instintivas, ou quando muito egoístas, se é que bem compreendemos este termo, uma vez que o tão conhecido ego é, a meu ver, nada mais que a força motriz que habita em todo animal, a centelha que precisa ser mantida acesa, para que a vida permaneça com a ilusão da eternidade criativa garantida.

Não há razão, por exemplo, num espírito de porco que toca fogo gratuitamente em uma floresta só para ter o gosto de ver o fogo devorar algo tão grande que a natureza levou anos para produzir. Não há razão de espécime alguma, na criatura que mata o semelhante para lhe roubar um pedaço de pão. Que razão há para crermos que somos dotados de uma inteligência superior, quando percebemos que nossa espécie é a única que não faria falta ao meio ambiente? Aí surgem os afeminados que defendem com unhas e dentes, mais com unhas que com dentes, que temos um dom divino, capaz de preservar nossa espécie e a dos outros animais. E, que através da reflexão alcançaremos o nirvana, a paz infinita, desprovida de ambição. Senhores! Somos macacos bizarros que não conseguem mais voltar à caverna. Fomos segados pelo sol, atraídos para um paraíso de prazeres de onde jamais conseguiremos nos libertar, nem voltar ao mundo inocente das espécies desprovidas da entendida racionalidade.

Perdemos a noção de qual é a nossa obrigação como seres racionais. Fazer o bem, acrescentar virtudes aos homens que procuram se livrar da condição miserável em que se encontram. Ser útil ao sistema universal, que a despeito da nossa ignorância, persiste por meio da natureza a nos ensinar a infalível lição. Cuidar da nossa espécie para sobreviver para sempre e alcançar a felicidade e a calma dos seres vivos sem ambição nem vaidade destrutiva.

Evan do Carmo

"O homem desaparecerá do planeta como rastros na areia da praia."