Crítica ao Sistema de Ensino

As faculdades, assim como as escolas, são hoje incapazes de gerar conhecimento necessário, pois baseiam seu sistema de ensino em metodologias arcaicas totalmente díspares com as necessidades atuais, são missas rezadas em latim à pessoas de uma era informatizada. Crer que entupir as salas de recursos tecnológicos e pensar que esta é a solução é pura ingenuidade, levando em conta que esta medida sequer é paliativa, visto que esta anacronia de métodos aplicados e necessários é bem mais profunda do que isto. É preciso mudar toda a formação dos professores que precisam de novos métodos para conseguir atingir a finalidade querida, um meio para isso é investir maciçamente em aulas práticas, sejam em laboratórios, visitas técnicas, aulas fora de sala, possíveis viagens de campo dentre outras, pois limitar todo o sistema de ensino numa sala de aula entupida de alunos é, a meu ver, puro desleixo com os alunos.

As novas gerações não são rebeldes e dispersas por si só (no caso nas salas de aula), mas sim pelo motivo de o sistema de ensino e “educação”, em todas as suas esferas estarem em total anacronia com o tempo em que vivemos.

O sistema que teima em existir baseia-se no: tu te calas e eu te encho de informações, sendo muitas destas informações no ensino médio resumem-se a lixo, visto a inutilidade na vida diária, e no ensino superior, embora o conteúdo como um todo venha a ser útil, a forma com que é ministrada é um lixo, poluindo assim o conteúdo. É uma pena ver tantos professores bons que tem um ótimo domínio da matéria ter que usar de meios coercitivos, como a ameaça com faltas e atividades surpresas, para conseguir ter um coro mínimo para dar aula e empregando meios inadequados para passar informações. Esperar que o MEC venha e mude o sistema ou que as direções das instituições o façam é puro comodismo, quem quer fazer algo, faz sem esperar por outrens. É totalmente possível ter uma aula interessante sem sair da escola/faculdade, basta ser criativo.

A fábrica de ensino forma meros seres entupidos de informações que muitas vezes não sabem como transformar em conhecimento, como diria Susan Greenfield “Vivemos na era da informação, queremos informação em grande quantidade e velocidade, porém ainda precisamos de tempo para ligar os fatos e interpretá-los, pois isso é o que gera conhecimento.” E é isso que o sistema de ensino faz, entopem-nos de informações, muitas vezes inúteis, e não nos dá tempo para digerirmos tudo que nos passam, no fim somo como um enorme HD que tem um monte de informação e não sabe o que fazer com elas.

Uma prova de que o sistema de ensino está falho, anacrônico e incapaz de satisfazer as necessidades dos alunos é só ver um curso de nível superior, é extremamente comum uma sala começar com 60 ou mais alunos e terminar com 15 ou 20, e dos que terminam podemos tirar uma boa parcela que achou o curso insatisfatório, ou não gostou, e que acha patética certas disciplinas serem obrigatórias, como no meu caso as Aulas Práticas do Curso de Direito que acho totalmente estúpidas a forma que nos é imposta, visto que muitos dos alunos não pensam em advogar e não têm o menor jeito de lidar com esse mundo. Muitos querem fazer um curso superior, mas poucos têm a chance, destes que tem, muitos se decepcionam, incluo-me neste caso. Hoje fazer uma faculdade é antes de tudo um exercício de paciência.

Em todas as faculdades que tentei fazer constatei que quem melhor notas tinham e com mais facilidade absorvem os ensinamentos não são aqueles que nasceram no fim dos anos 80 e cresceram na era da informática dos anos 90, mas sim aqueles que nasceram nos anos 60 ou antes, onde o mundo tinha outros valores e conheceram a ditadura e as censuras, o mundo era mais simples de ser gerido, pois a força coercitiva deixavam muitos calados e obedientes, as informações, naqueles tempos, eram mais restritas a uma pequena esfera, o autoritarismo era mais presente e refletida nas salas de aula, onde os alunos calados ouviam e os professores vomitavam suas informações. Concordo que muito mudou, os professores estão mais próximos aos alunos, deu-se mais liberdade o que é ótimo, mas o sistema do “te calas e ouves” é como os resquícios finais de uma doença que teima em não morrer, este sistema deve dar lugar a debates, ao exercício que valorizem o pensamento crítico e lógico, e não a mera memorização de fórmulas, artigos, súmulas e regras gramaticais que podem ser consultados com um simples click.

Schopenhauer já alertava sobre a falta de mentes pensantes, e não somente de mentes enciclopedistas que acumulam um monte de informação mas que não sabem pensar por si só, e obviamente não sabem gerir as informações que tem. A carência de mentes pensantes é visível perfeitamente hoje, muitos professores se entopem de ler livros gravando tudo que neles contem e chegando na sala simplesmente repetem o que leram, sendo como papagaios, não tendo um pensamento crítico do que leram, e simplesmente aceitando as doutrinas majoritárias como sendo as corretas. As mentes pensantes que temos atualmente assim o são não por que foram estimulados, mas sim por fazer parte de sua natura assim o ser, claro que há exceções, infelizmente poucas. Muitas dessas mentes são paulatinamente tolhidas nas salas de aula onde os professores as moldam da forma que julgam melhor, matando todo e qualquer pensamento que seja diferente do que os docentes julgam ser o melhor.

Chegamos ao século XXI com o pensamento fabril da revolução industrial, formando seres uniformes e alienados.

Nesta era de aquecimento global, do medo extremo do câncer e da expansão da globalização faz-se extremamente necessária a formação de seres pensantes que tragam soluções e não apenas cultivem seus desejos egoísticos enquanto Gaia e a civilização afundam na montanha de lixo que geramos e não sabemos como nos livrar delas, no momento varremos tudo sob o tapete, mas uma hora não haverá mais espaço. Não devemos esperar um Messias celestial, mas sim abrir terreno para uma geração de “messias” que tenham senso de responsabilidade não somente para consigo, mas também para com o outro. Cabe ao sistema de ensino (faculdades, escolas, et coetera) complementar aquilo que se deveria aprender em casa, mas para tanto precisamos reformar todo o sistema “ensinocrático”.

O mundo e seus seres evoluem, as instituições criadas por estes seres devem sempre evoluir para satisfazer as necessidades de seus criadores, se não for assim corre-se seriamente o risco de atrasar ainda mais a evolução social.

JP