PLANEJAMENTO, VIABILIDADE E VITALIDADE DO (ECO)TURISMO: FATORES REVELADORES DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Silvânia Mendonça Almeida Margarida
Marco Aurélio Martins Corrêa
RESUMO
O produto turístico, cada vez mais, está voltado a atender as expectativas da demanda, na medida em que agrega valores que promovem o desenvolvimento sócio-econômico local, sustentando assim, o diferencial que possibilita sua “sobrevivência” no mercado. Na busca pelo natural, pelo equilíbrio do homem com a natureza, do homem com o próprio homem, vislumbra-se a necessidade do conceito de sustentabilidade incluir várias vertentes – ecológica, ambiental, econômica, social, cultural, política, demográfica, institucional e espacial. Estas questões têm se tornado critério básico para projetos de desenvolvimento. Nunca houve tanta necessidade de ferramentas eficientes, para que pessoas de diferentes faixas etárias, níveis de instrução e de interesse sobre a questão ambiental, possam ampliar a sua consciência ambiental e a sua participação cidadã. Ao se aplicar o conceito de ecoturismo, verifica-se claramente quão forte é a relação deste segmento com a sustentabilidade. O turismo quando pensado na perspectiva de um uso ordenado dos espaços e dos recursos naturais, começa a entrar na “onda” do desenvolvimento sustentável, podendo até ser considerado como uma opção para atingi-lo. Embora o impacto do turismo sobre o meio ambiente natural e artificial tenha sido reconhecido há muito, a ação demorou bastante para chegar.
PALAVRAS-CHAVE: turismo, ecoturismo, desenvolvimento sustentável, projetos ecoturísticos, educação ambiental.
1. INTRODUÇÃO
O turismo, sob o enfoque de um fenômeno social, nos leva a pensá-lo como uma forma de integração humana, onde a união entre os povos de diversas etnias – cada qual com suas características culturais peculiares – seria a motivação principal das viagens.
Todos os países do mundo, todas as cidades, milhares de pessoas acreditam no potencial da atividade turística como fonte geradora de renda. As tendências mundiais apontam para uma diversificação dos mercados, satisfazendo os mais variados motivos que levam pessoas a se deslocarem. Assim, o produto turístico cada vez mais estará voltado a atender as expectativas da demanda, na medida em que agregar valores que promovam o desenvolvimento sócio-econômico em nível local, sustentando assim, o diferencial que possibilitará a “sobrevivência” no mercado.
Assiste-se, nas últimas décadas, a uma maior preocupação do homem com as questões ambientais, com a preservação do planeta e a garantia de continuidade da biodiversidade. Nesta busca pelo natural, pelo equilíbrio do homem com a natureza e do homem com o próprio homem, vemos a necessidade do conceito de sustentabilidade incluir várias vertentes – ecológica, ambiental, econômica, social, cultural, política, demográfica, institucional e espacial. Estas questões têm se tornado critério básico para projetos de desenvolvimento.
Neste contexto, o turismo sustentável surgiu como um segmento de extrema força e passou a ser visto como um outro tipo de turismo, também denominado de alternativo ou de turismo de natureza, em contraponto ao turismo de massa. Mas o conceito de desenvolvimento sustentável deve ser aplicado a qualquer segmento do turismo, e em especial ao ecoturismo. Esta sustentabilidade depende de como a atividade é planejada e executada, considerando os aspectos do meio ambiente da área visitada, sua economia, política e os fatores sócio-culturais.
Quando se argumenta sobre o desenvolvimento do turismo, e, obviamente, tratam-se de ações planejadas, deve-se levar em conta critérios de sustentabilidade e que atendam aos anseios e demandas do setor, entre eles figuram algumas de destaque:
• ser ecologicamente suportado e ao mesmo tempo economicamente viável;
• distribuir eqüitativamente seus benefícios;
• observar a ética e ser socialmente aceito pela comunidade receptora;
• estar integrado com todos os aspectos do ambiente, respeitando áreas frágeis bem como a capacidade de carga das áreas visitadas;
• incentivar a participação de todos os atores envolvidos, pois a conservação da herança cultural e natural envolve cooperação, planejamento e manejo;
• garantir a satisfação do turista, ao mesmo tempo em que direciona o seu comportamento, no sentido da conservação dos ambientes e respeito à cultura local (isso deve ser determinado em conjunto com a comunidade);
• estar integrado com a economia local e promover a melhoria da qualidade de vida da comunidade receptora;
• realizar ações de marketing responsável;
• realizar pesquisas;
• ser monitorado.
2. A QUESTÃO AMBIENTAL
Nunca houve tanta necessidade de ferramentas eficientes para que pessoas de diferentes faixas etárias, níveis de instrução e de interesse sobre a questão ambiental possam ampliar a sua consciência ambiental e a sua participação cidadã. E segundo Trigueiro (2003, p.13), essa expansão da consciência ambiental se dá na medida em que percebemos meio ambiente como algo que começa dentro de cada um de nós, alcançando tudo o que nos cerca e as relações que estabelecemos com o universo.
A humanidade é capaz de tornar o desenvolvimento sustentável – de garantir que ele atenda às necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras atenderem também às suas. O conceito de desenvolvimento sustentável tem limites absolutos, impostos pelo estágio atual da tecnologia e da organização social, no tocante aos recursos ambientais, e pela capacidade da biosfera de absorver os efeitos da atividade humana. Mas, tanto a tecnologia, quanto a organização social podem ser geridas e aprimoradas a fim de proporcionar uma nova era de crescimento econômico. Para a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU (1991, s.p.), a pobreza generalizada já não é inevitável. A pobreza não é apenas um mal em si mesma, mas para haver um desenvolvimento sustentável é preciso atender às necessidades básicas de todos e dar a todos a oportunidade de realizar suas aspirações de uma vida melhor. Um mundo onde a pobreza é endêmica estará sempre sujeito a catástrofes ecológicas ou de outra natureza. Durante muitos anos, os países em desenvolvimento propugnaram por mudanças fundamentais nos acordos econômicos internacionais, de modo a torná-los mais eqüitativos, sobretudo no tocante a fluxos financeiros, comércio exterior, investimentos transnacionais e transferência de tecnologia. Hoje, seus argumentos têm de ser reformulados para levar em conta as dimensões ecológicas, freqüentemente negligenciadas no passado.
2.1 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
O desenvolvimento sustentável está sendo agora reconhecido como um método imprescindível para atin¬gir objetivos de desenvolvimento sem deteriorar os recursos naturais e cul-turais, nem degradar o ambiente. No estudo de marcação de terras, Our Common Future (O Nosso Futuro Comum), o relatório de 1987 da Co¬missão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento da Assembléia Ge¬ral das Nações Unidas definiu eloquentemente uma sociedade de de¬senvolvimento sustentável como aque¬la que "satisfaz as necessidades da atu-alidade sem comprometer a capacida¬de das gerações futuras para satisfa¬zer as suas" (apud UCB, 2003, p. 37).
O desenvolvimento do turismo sustentável é o meio mais eficaz de união dos turistas, os que lhes facultam instalações e serviços e os defensores do ambiente, bem como, os habitantes e lí¬deres da comunidade que desejam uma melhor qualidade de vida. Cada grupo é formado pelos respectivos constituintes. Ao compreenderem que os seus interes¬ses são os mesmos e ao definirem obje¬tivos comuns, cada grupo fica mais in¬clinado a colaborar. Um dos papéis importan¬tes dos responsáveis locais consiste em ajudar a consolidar esta colaboração utilizando um processo de planejamen¬to, desenvolvimento e gestão.
Na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimen¬to, mais conhecida por Conferência da Terra, e que teve lugar no Rio de Janei¬ro, em Junho de 1992, o conceito de desenvolvimento sustentável foi aprofundado e foram tomadas medidas relativas às necessidades fundamentais de ambiente e desenvolvimento a um nível global. Assim, o desenvolvimento sustentável é o que
[...] satisfaz as suas necessidades atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras. Entretanto não é um estado fixo de harmonia. É antes, processo de mudanças em que os recursos e os investimentos são geridos de modo coerente com as necessidades atuais e futuras.
Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU (apud UCB, 2003, p. 43)
O que se percebe, no entanto, é que o desenvolvimento sustentável tornou-se um “rótulo” de discursos inexoráveis em fóruns, seminários e congressos, não havendo nenhum esclarecimento sobre sua avaliação e viabilidade.
2.2 TURISMO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
O turismo quando pensado na perspectiva de um uso ordenado dos espaços e dos recursos naturais, começa a entrar na “onda” do desenvolvimento sustentável, podendo até ser considerado como uma opção para atingi-lo. No entanto, Ruschmann (1997, p. 39 apud UCB, 2003, p. 37) lembra que o turismo e o meio ambiente não têm se caracterizado por um relacionamento harmonioso. A autora destaca estudos franceses que elencam quatro fases desse relacionamento, dos quais podem-se parafrasear os seguintes principais exemplos:
• a primeira, pioneira, ocorreu no século XVIII, e se caracterizou pela "descoberta da natureza e das comunidades receptoras". Suas motivações eram a busca dos ambientes, onde a industrialização ainda não havia chegado, ou de centros turísticos desenvolvidos à beira-mar, para as pessoas se bronzearem e se banharem. Trata-se da fase do "relacionamento" e dos primeiros equipamentos turísticos (apud UCB, 2003, p.104);
• a segunda, caracterizada por um turismo "dirigido" e elitista, ocorreu no final do século XIX e início do século XX. Não havia a preocupação com a proteção ambiental e a intensificação da demanda estimulou as construções e o boom imobiliário que atualmente caracterizariam os centros turísticos mais antigos da Europa. Trata-se da fase na qual a natureza é domesticada, porém, não necessariamente esquecida, pois as empresas turísticas limitavam seus produtos às estações e ao seu entorno, onde a natureza e as civilizações tradicionais tinham seus direitos garantidos (apud UCB, 2003, p.104);
• a terceira, correspondendo ao turismo de massa, ocorre a partir dos anos 50 e tem seu apogeu no transcorrer dos anos 70 e 80. Esse período é o mais devastador e se caracteriza pelo domínio brutal do turismo sobre a natureza e as comunidades receptoras (apud UCB, 2003, p.105);
• a quarta corresponde ao momento atual onde há o reconhecimento dos problemas ambientais e uma nova abordagem estimulando uma relação mais simbiótica por meio do turismo mais brando (apud UCB, 2003, p.105).
2.3 FATORES INFLUENCIADORES DO
DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO SUSTENTÁVEL
Para que o desenvolvimento do turismo ocorra de forma sustentável, consideram-se necessários vários fatores, a saber:
• Existência de atrações naturais e culturais capazes de motivar a vinda de turistas até o núcleo receptor - conhecida como oferta turística diferencial, constitui-se nas razões do deslocamento dos turistas para certa localidade em detrimento de outra;
• existência de acomodações adequadas, tais como: hotéis apartamentos, áreas para camping, além da oferta de restaurantes e facilidades para a prática de esportes e para recreação - também denominada oferta turística técnica, constitui-se na infra-estrutura turística ou equipamentos e serviços turísticos. É fator limitante do desenvolvimento turístico, apesar de não restritivo, pois propicia maior conforto aos visitantes no que tange as suas necessidades de acomodação, alimentação e entretenimento; as facilidades de acesso e a infra-estrutura de apoio - os serviços de apoio ao usuário nas vias de acesso e serviços associados e a infra-estrutura básica, seja urbana, seja rural, devem atender não apenas às necessidades da população fixa, mas também às necessidades da população flutuante (turistas), que podem se tornar um complexo problema pelo fator sazonalidade.
• Outros fatores a considerar numa tutela antecipada do meio ambiente e que se integrará de acordo com as necessidades do local visitado.
3. POLÍTICA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO TURISMO
Embora o impacto do turismo sobre o meio ambiente natural e artificial (construído pelo homem) tenha sido reconhecido há muito, a ação demorou bastante para chegar. Outro fator foi a falta de coordenação entre a política de desenvolvimento e a ambiental. Embora se tenha atingido um razoável progresso, o conhecimento dos complexos processos envolvidos deixou muito a desejar.
As tradicionais divisões de disciplinas retardaram as abordagens multidisciplinares. O caráter multidimensional e os importantes efeitos indiretos envolvidos na inter-relação entre turismo e meio ambiente apenas podem ser entendidos, explicados e operacionalizados por meio de uma perspectiva sistêmica e holística. Esta permite a identificação dos componentes de ambos os sistemas e sua ação interativa.
A política ambiental também foi fragmentada, dirigida para questões específicas tais como, poluição da água, qualidade do ar e outras. Isso devido, em parte, à fragmentação administrativa e política de municípios, estados e países, naturalmente, espalhando-se, e, provocando uma ambiência no contexto mundial. A lida com ecossistemas totais e não com aspectos limitados de qualidade ambiental passou a fazer parte do cotidiano global. Não bastasse isso, a conservação ambiental foi vista como oposição à política de desenvolvimento. Assim, a qualidade ambiental foi considerada uma coisa à parte do desenvolvimento econômico e social. Só recentemente é que prevaleceu uma visão mais ampla, mais integrada da política de desenvolvimento, ligando esse conceito ao da proteção ambiental. O aparecimento da conceituação de desenvolvimento sustentado marca essa mudança de perspectiva. Uma política global de sustentabilidade, em que a conservação do meio ambiente está intimamente relacionada com a eficiência econômica e a justiça social, ganhou ampla aceitação. Essa visão enfatiza esforços para associar a proteção ambiental às políticas de desenvolvimento do turismo.
Não obstante esse apelo conceitual – e político –, a viabilidade da sustentabilidade encontra dificuldades significantes. Como podem ser avaliados os ganhos e perdas sociais, econômicos e ambientais? É a otimização do uso dos recursos compatível com a prosperidade econômica?
Por exemplo, pode-se indagar: deverá a sustentabilidade ser buscada apenas no nível global? Poderá ser a sustentabilidade alcançada no nível local ou regional? Como os ganhos e perdas ambientais que podem ocorrer em diferentes realidades de espaço, podem ser avaliados?
Apesar de o conceito de desenvolvimento sustentável constituir assunto largamente discutido, o planejamento turístico tem como finalidade definir os objetivos do desenvolvimento dessa atividade, indicando meios para executá-lo, tentando elevar ao máximo os benefícios econômicos, sociais e culturais, e procurando alcançar um equilíbrio entre a oferta e a demanda turística. O plano do desenvolvimento turístico é, portanto, um documento que concretiza os objetivos da política turística, delimitando-o num espaço e num período determinados. Assim, pode ser efetuado tanto em novos espaços turísticos, como em locais já estabilizados, onde seja necessário ajustar a oferta às mudanças do mercado. Por outro lado, o planejamento em curto e médio prazos, em geral, é mais habitual, porque permite melhores ajustes às rápidas mudanças do mercado.
4. ECOTURISMO
Para Ceballos Lascuráin (s.n.t.), apud Lindberg E Hawkins (1995, p. .25),
[...] há apenas alguns anos, a palavra ecoturismo não existia e muito menos os princípios que hoje ela representa. [...] Foi somente com o advento das viagens aérea a jato, com a enorme popularidade dos documentários televisivos sobre a natureza e sobre viagens, e com crescente interesse em questões ligadas à conservação e ao meio ambiente, que o ecoturismo passou a ser verdadeiramente um fenômeno característico do final do século XX e, tudo leva a crer, do século XXI.
A busca do equilíbrio necessário para o desenvolvimento da atividade que beneficie a conservação ambiental, os turistas e as comunidades receptoras, envolve, essencialmente, um planejamento com a colaboração de vários setores. Este planejamento deverá considerar que a conservação dos recursos naturais de valor notável paisagístico deve atentar para o fato de que o meio ambiente é considerado um patrimônio público e o aspecto da sua conservação ecológica deverá estar equilibrado com o uso comum pela população, possibilitando a todos os cidadãos o contato com a natureza. O ecoturismo possibilita a existência de um grande programa de educação ambiental através da interação entre turistas e natureza, ajuda a consolidar o patrimônio ambiental e pode fazer dos parques nacionais a porta de entrada do turista no Brasil.
Ao se aplicar o conceito de ecoturismo verifica-se claramente quão forte é a relação deste segmento com a sustentabilidade. Entretanto, deve-se levar em consideração a atividade turística. Conseqüentemente, o segmento do ecoturismo é uma atividade econômica e desta forma visa ao lucro, seja ele do setor privado, de forma direta, ou do setor público, sob a forma de impostos, empregos, qualidade de vida para a comunidade. Daí a necessidade de se adotar instrumentos adequados à maximização dos resultados esperados, aplicando-se os princípios de sustentabilidade a todos os componentes do produto.
A isto chamamos planejamento: uma linha de ação pré-estabelecida, dentro de prazos definidos – curto, médio ou longo, com vistas à tomada de decisões adequadas e racionais, que atinjam a uma finalidade.
5. PROJETOS ECOTURÍSTICOS
Projetos de ecoturismo têm despertado o interesse tanto de governos como de empresários, em razão do crescimento que a atividade vêm demonstrando nos últimos anos e de todas as tendências que apontam para um futuro promissor.
Para Margarida (2002, p. 23), os projetos ecoturísticos podem estar voltados a ações diretas em um dos seguintes campos:
• Apoio à prática de atividades por meio de equipamentos e infra-estrutura (pública ou privada) adequados ao alojamento, à alimentação, ao entretenimento;
• Marketing e promoção de produtos e destinos;
• Promoção de eventos;
• Capacitação profissional;
• Controle da qualidade de serviços;
• Pesquisas sobre demanda, novos produtos, satisfação do cliente etc.
Ainda, para a mesma autora (2002, p.24) os projetos ecoturísticos podem ainda ser classificados em função de sua finalidade:
• Implantação – quando se trata de criar uma unidade totalmente nova na oferta de bens e serviços;
• Expansão ou ampliação – quando, em razão da demanda ou de uma capacidade ociosa se objetiva o aumento na oferta de serviços;
• Modernização – quando se torna necessário a substituição de equipamentos, modificações no sistema administrativo e de comercialização, o aperfeiçoamento de recursos humanos, mas é mantida a mesma capacidade de oferta de serviços.
A ação empreendedora está justamente na capacidade de identificar oportunidades de negócios que possam ser implementadas no momento apropriado e de forma viável, tanto no que diz respeito a recursos financeiros como humanos.
Os resultados, segundo a mesma autora, são as oportunidades surgem no mercado dentro das seguintes situações:
a) existe uma escassez de um produto ou serviço;
b) pode-se melhorar a oferta de um produto ou serviço;
c) pode-se fornecer um novo produto ou serviço.
Deve-se avaliar e escolher quais as “oportunidades” são mais vantajosas e mais factíveis, uma vez que sempre se objetiva ao lucro, seja este financeiro ou social.
A elaboração de um projeto ecoturístico não pode estar atrelada à vontade política ou pessoal, uma vez que, é resultado de estudos de variáveis que interferem na sua identificação, da definição de necessidades insatisfeitas, de soluções que atendam as expectativas dos consumidores, de forma a garantir o sucesso e não o fracasso de um empreendimento ou de um destino.
O primeiro passo na elaboração de um projeto ecoturístico é ter uma idéia clara dos resultados que se pretende alcançar – ou seja, é preciso definir o que se pretende implantar com o projeto, e para isso deve-se levar em consideração os seguintes aspectos:
1. Identificar as necessidades da demanda, em razão da falta de oferta de serviços específicos ou por falhas nos serviços existentes.
2. Definir um modelo ideal de projeto que atenda a expansão do setor turístico.
Podem-se encontrar alguns exemplos concretos de projetos ecoturísticos que estão tendo sucesso, graças ao estabelecimento de parcerias entre as comunidades, secretarias municipais e estaduais de meio ambiente, Ibama, iniciativa privada e organizações não-governamentais. Servem de exemplos brilhantes, o Projeto Silves na Amazônia, onde foi implantada uma pousada comunitária, administrada por uma organização de base local, com o objetivo de gerar renda para a reserva municipal de manejo de lagos de várzea e alternativa econômica para a comunidade e o Projeto Veadeiros em Alto Paraíso – Goiás, também desenvolvido por uma organização de base local, tendo como proposta a capacitação regional para desenvolver infra-estrutura e serviços, e alternativa econômica para a comunidade e incentivo à proteção ambiental. (WWF BRASIL, 2003, p.18).
6. EDUCAÇÃO AMBIENTAL
O equilíbrio entre o turismo e a natureza, quando a segunda constitui a matéria-prima para o primeiro, precisa ser regulado e disciplinado.A Educação Ambiental se torna necessária e presencial, nos diversos níveis de atuação do ecoturismo. Tal aparato é inter e multidisciplinar e envolve legislação turística, meio ambiente e a capacitação de carga de cada local selecionado para o envolvimento e o investimento turísticos.
Dentre as ações destinadas a dar impulso a um relacionamento harmonioso entre o turismo ecológico e a conservação ambiental, recomenda-se as descritas a seguir:
a) Segundo estudiosos do ecoturismo, a Educação Ambiental dos turistas e das comunidades receptoras apresenta-se como fundamental para a conservação ambiental das áreas onde ocorre o turismo ecológico. É imprescindível que os turistas desenvolvam comportamentos sociais mais responsáveis e atitudes preservacionistas durante suas viagens. As comunidades receptoras deverão ser conscientizadas da importância da atividade em si e da conservação da autenticidade dos recursos naturais e de sua cultura tradicional, pois deles depende o futuro turístico da localidade e, conseqüentemente, as suas oportunidades de emprego e de complementação do orçamento doméstico. ( apud UNCED, 1989, s.p.)
b) Capacitação de recursos humanos especialmente treinados para a operação de equipamentos e de programas ecológicos em muito contribuirá para a preservação dos recursos naturais utilizados para o turismo ecológico. Além do desenvolvimento de cursos de guias ecológicos, recomenda-se o treinamento das comunidades locais, cujos integrantes conhecem intensamente as áreas, e poderiam participar dos programas como guias nas trilhas e caminhos da floresta, dar instruções sobre os perigos e as condições de sobrevivência na selva, através da utilização de plantas e sementes comestíveis. Além disso, os pantanais e florestas possuem encantos, lendas e magias que fascinam os turistas e ninguém melhor do que um nativo para contá-las, dando-lhes o tom, o suspense e o mistério característicos da selva (apud UNCED, 1989, s.p.)
c) Intensificação da fiscalização dos empreendimentos e programas voltados para o turismo ecológico. No Brasil, a responsabilidade oficial pela atividade corresponde à EMBRATUR - Instituto Brasileiro do Turismo - que atua em conjunto com o IBAMA -Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. A legislação brasileira do turismo prevê uma série de critérios e normas específicas para os equipamentos de hospedagem considerados ecológicos (lodges) que, apesar de bem elaborados, carecem da necessária fiscalização e controle, tanto na implantação quanto na operação dos equipamentos. (s.n.t.)
d) Estudos de Impacto Ambiental (EIA) e seus respectivos relatórios (RIMAs) são instrumentos imprescindíveis para a preservação da autenticidade dos recursos naturais de interesse turístico. Estes estudos, realizados quando os equipamentos ainda estão na fase de projetos, são desenvolvidos por equipes interdisciplinares e determinam as diretrizes necessárias, de acordo com as particularidades dos projetos e das características ambientais da área onde pretendem ser implantados. A legislação exige a elaboração de EIAs e RIMAs (apud SEMA, Seminário do Meio Ambiente, Rio de Janeiro, 1991, p. 111) para estradas, loteamentos urbanos e rurais, marinas e também para os equipamentos de turismo e lazer. De acordo com o resultado dos estudos, os projetos poderão ser aprovados, integralmente, sofrer algumas alterações, ou então ter recusado a sua implantação.
e) O zoneamento detalhado dos recursos naturais, identificando e classificando as diferentes áreas, de acordo com a fragilidade dos ecossistemas, permitirá o estabelecimento de critérios, que irão liberar ou proibir a sua utilização para o turismo ecológico. Na América Latina, utiliza-se o sistema de classificação de terras que divide as áreas naturais em sete zonas de manejo (ROA et alli., 1986, p. 191 (s.n.t). apud SEMA, 1991, s.p.): intangível, primitiva, de uso intensivo, de uso extensivo, histórico-cultural, de recuperação natural ou de uso especial. Além disso, é necessário estudar e delimitar as áreas de acordo com suas características específicas, tais como foram sugeridas pelo SEMA - Secretaria do Arribação, áreas de formações vegetais nativas associadas à fauna, áreas de ocorrência de mamíferos; e, através desses dados, determinar trilhas em mapas e marcos de orientação de campo nas áreas passíveis de receberem visitantes.(apud SEMA, 1989, s.d.).
f) Determinação da capacidade de carga (carrying capacity) constitui a base para o planejamento do turismo nas áreas com recursos naturais de fragilidade e beleza consideráveis. Sua determinação é fundamental para o desenvolvimento de um turismo limitativo e capaz de salvar os recursos naturais ameaçados. É definida como sendo "o número máximo de pessoas que um recurso turístico pode suportar, antes que ocorram impactos negativos no ambiente físico e social” ( apud LOZATO-GIOTART, 1992, p. 141).
A fixação da capacidade de carga de determinado recurso natural depende de seus aspectos físicos (clima, paisagem, recursos hídricos e território) e das características sócio-econômicas, tanto dos turistas quanto das comunidades receptoras. No caso do turismo ecológico, a capacidade de carga deverá ser estabelecida dentro dos limites mais baixos possíveis, devido à alta fragilidade dos ecossistemas nos quais são implantadas as facilidades turísticas ( apud UNCED, 1989, s.p.)
O desenvolvimento do turismo sustentável, definido por PEARCE & TURNER (1990, p. 24) se situa no contexto turístico:
[...] aquele que pretende maximizar e otimizar a distribuição dos benefícios do desenvolvimento econômico, baseado no estabelecimento e na consolidação das condições de segurança sob as quais se manterão os serviços turísticos, a fim de que os recursos naturais sejam mantidos, restaurados e melhorados dentro de um futuro previsível.
O turismo passa, atualmente, por um período caracterizado por uma nova sensibilidade, na qual se discute a necessidade do controle do turismo de massa e o desenvolvimento de outras formas, como o alternativo, brando e responsável. O turismo ecológico se insere neste contexto e, seguindo a orientação dos demais, que divulgam a conservação da autenticidade dos meios naturais e das comunidades receptoras para as gerações futuras, encontra no desenvolvimento sustentável uma das alternativas para a conservação dos seus recursos naturais.
7. METODOLOGIA
A metodologia deste artigo volta-se para um caminho observacional e comparativista, condicionando a importância do tema, à necessidade de extrema discussão, entre docentes e discentes, no ensino superior, no Curso de Turismo. Relativamente, à operacionalização da pesquisa cumpre assinalar que a bibliográfica foi predominante utilizada, num intuito primeiro de capacitar aos estudiosos do assunto temático para próximas evidências que possam auxiliar a implementação de programas ecopolíticos. Apresenta um primeiro e único estudo preliminar, para compreender, em primeira instância, os anseios das comunidades brasileiras. O estudo sobre o ecoturismo tornar-se-á mais aplicável e eficaz, quando o planejamento, a viabilidade e a vitalidade do ecoturismo brasileiro forem vislumbrados adequadamente. Por outro lado, é importante frisar que estes estudos não pararão e outras fontes serão também utilizadas ao se dar continuidade, a posteriori, à mesma ordem temática; e, assim, partir para uma pesquisa de campo, visando a verificar uma práxis constitucional da atividade turística, de acordo com uma fomentação positiva e adequada, no setor ecoturístico, em suas variadas e diversas relações de apoio.
8. CONCLUSÃO
São bem nítidas as evidências de que o turismo; em especial, o ecoturismo, está entrando na trilha de um caminho irreversível, rumo a um desenvolvimento que busca a sustentabilidade, em todos os níveis, calcado na necessidade da multi e transdisciplinaridade dos planejamentos turísticos. Essas novas tendências são promovidas pela iminência do estabelecimento de relações mais harmoniosas, entre a humanidade e os recursos naturais, dos quais ela depende para sobreviver, e, até mesmo, entre o homem e o próprio homem, em decorrência da velocidade em que acontece o processo de esgotamento dos recursos naturais, favorecido pela enorme pressão que o homem exerce sobre eles.
O que deve prevalecer, portanto, é a equidade dos direitos, a uma melhor qualidade de vida de todos os seres – sejam eles animais, plantas ou homens – que constituem a vasta rede de relações, conhecida como teia da vida. Só assim poderemos ser dignos de habitar este planeta, tendo a obrigação de nos comportar de maneira a não prejudicar a sua capacidade intrínseca de sustentação a vida.
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Sobre os autores
Silvania é doutoranda e Mestre em Educação, MBA em Turismo e Sustentabilidade, Especialista em Gestão Ambiental.
Marco Aurélio é turismólogo formado pela Faculdade Cenecista de Sete Lagoas.
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