CONCEPÇÕES E TENDÊNCIAS DA PEDAGOGIA LIBERTADORA DE PAULO FREIRE

Silvania Mendonça Almeida Margarida

Resumo

Este artigo científico versa sobre o sentimento da educação libertadora de Paulo Freire, numa interligação com a vida funcional do educando e com a filosofia da educação. Demonstra que a aprendizagem é uma decorrência espontânea da leitura do mundo, além das teorias e das escolas tradicionais e dogmáticas. Trata-se de um estimulador ao pensamento concepcional de Paulo Freire, sendo que tendências libertadoras podem ser o ideário de uma pedagogia nova, coadjuvante do processo de humanização das ciências humanas e educacionais das quais a práxis educacional faz parte.

Palavras-chave: pedagogia libertadora, concepções educacionais, escola tradicional, filosofia da educação

Introdução

A educação é prática social que ocorre nas diversas instâncias da ciência. Seu objetivo primordial é a harmonização dos homens, em seus valores ético-morais. Fazer seres humanos participantes dos frutos e da construção civilizatória eleva a educação num patamar de humanização que assegura a existência em seus apegos e interesses numa unidade dialética com a cultura e a própria sociedade.

Torna-se necessário esclarecer que as relações sociais não são unívocas, iguais, mas expressam uma leitura do mundo que vai além de ensinos teóricos, históricos e heurísticos. A educação é também serviço que, às vezes, é alterada pelo homem em suas circunstâncias primeiras: o papel de educar. Nesta doutrina materialista, um educador brasileiro, prefigurou idealmente um resultado de melhoria da escola. Fazer uma leitura do homem em seus aspectos de produção de conhecimento, na formação de conceitos culturais, hipóteses e crítica, para que este mesmo homem pudesse se libertar das atividades medidas exclusivamente pela teoria.

O educador Paulo Freire trouxe à baila da educação brasileira uma atividade revolucionária, meditada por uma relação consciente e libertadora.

A Escola tradicional e a educação libertadora de Paulo Freire

A Pedagogia tradicional dos nomeados “sistemas nacionais de ensino” data do início do século passado. Sua organização inspirou-se no princípio de que a educação é direito de todos e dever do Estado. Na verdade, o direito de todos correspondeu aos interesses de uma nova classe social que se consolidara no poder: a burguesia. Tratava-se, pois, de uma sociedade que necessitava vencer a barreira da ignorância. Só a escola tradicional, imbuída de preceitos e determinada lógica de ensino, poderia tornar individuos em cidadãos livres e esclarecidos, ilustrados. Após denso regime estatal, a escola se torna um instrumento catalisador para converter “pessoas ignorantes” em cidadãos que viveram a miséria moral, a opressão e a miséria política na linearidade da história da educação brasileira.

A teoria pedagógica mencionada, anteriormente, correspondia à educação tradicional e à organização da escola. Todas as iniciativas cabiam ao professor. Assim, a escola era fundamentada na organização de classes. No decorrer dos tempos, tal metodologia de ensino foi uma crescente decepção. Alunos de todas as idades ingressavam na escola e nem sempre eram bem sucedidos. Alunos passaram a viver a mercê de uma escola não concatenada com o meio ambiente, com a transversalidade, com os parâmetros curriculares (criados muito tempo depois) e a filosofia da educação era precária e desajustada.

Assim, a ampla penetração da escola tradicional teve infinitas experimentações negativas no decorrer do processo cronológico. No Brasil, foi voz corrente durante bom tempo que os aspectos teóricos da escola puderam ser separados dos aspectos pragmáticos. Tudo caminharia de acordo com as metas definidas. Mas não deu certo. Houve retrocessos e o processo ensino-aprendizagem não movimentou a compreensão da realidade humana no que tange aos limites educacionais.

Foi imperativo transformar a vida da escola. A escola deveria promover a reconstrução crítica do pensamento e da ação, apostar nas vivências dos grupos e da coletividade escolar. Novas adesões que fugia ao pensamento tradicional foram abarcadas por educadores. Havia uma grande convergência de pontos de vista, quanto à necessidade de abrir novos caminhos em educação. Um deles foi o caminho trilhado pelo educador Paulo Freire.

De acordo com a interação social pautada por Paulo Freire (2001), pode-se articular que a metodologia do educador tem no campo da educação um elo multidisciplinar, com as mais diversas disciplinas e com enfoques que pluralizam a leitura do mundo, emitem novos significados aos jogos de linguagem, cerceando a busca de harmonia no reduto escolar, conexidade com representações de vida real, reciprocidade e harmonia ao lado de outras disciplinas que arrolam o processo ensino-aprendizagem.

O principal objetivo de Freire é refletir e reflexionar o conceito de limite tão utilizado na escola tradicional. Pensar no seu sentido restritivo e tão pouco produtivo. Para o educador escola não tem fronteiras, é a aprendizagem da vida. A maturidade e a excelência são a construção do desenvolvimento infantil, juvenil, adulto e libertário, no que tange a educação diferenciada e interdisciplinar. No pensamento de Freire educação é o soldo e o saldo de experimentações positivas além escola. Por certo, o homem ao mudar sua trajetória vivencial, muda também seus aparatos de aprendizagem. Portanto, o professor se torna se o educador, o facilitador das plenas aprimorações que a sociedade propõe. Necessário se faz resgatar as mudanças e adequá-las em novas diretrizes de uma educação mais eficaz.

É preciso limpar a velha escola das atividades que não contribuem para a saúde mental, social e afetiva do educando. Importante é fortalecer o pensamento de que não existe idade para a educação. Crianças, jovens e adultos, no pensamento de Paulo Freire (2001) poderão expressar-se inteligentemente por meio da linguagem e de outros instrumentos e ferrramentas que ajustam a educação. Quando Freire coadunou a educação libertadora com novas tendências pedagógicas, ele, já em sua época, era um educador futurista. Anos depois, as ferramentas tecnológicas e pragmáticas confirmaram a libertação do modelo tradicional, num sentido construtivista e interacional. (VYGOTSKY, 2005, PIAGET, 1998). Todo este movimento cresceu concomitantemente com o desenvolvimento da afetividade que Freire detinha em amor e lucidez pela educação. Um educador que é reconhecido internacionalmente, que contribuiu e contribui para novos passos pedagógicos de um país emergente, onde a cidadania é considerada hipotética e a educação não é autonomia de libertação. .

Assim, em primeira instância, pode-se espelhar que a educação libertadora é um hábil instrumento pedagógico que pode agregar posturas positivas à comunicação e à socialização gradativa do estudante, não importando aí a idade, mas sim o compromisso de uma nação e de um país na primazia educacional.

Pela educação, nos dizeres de Freire (2001), o estudante assimila atitudes, valores sociais, morais e políticos. Pode-se também inferir que a relação cultural está abrangida na proposta de engajamento de inclusão social que a educação libertadora propõe. Não há como não corroborar a idéia elucidativa de que os jogos pedagógicos são um grande aparato da comunicação educacional de estudantes brasileiros.

Valter Machado Fonseca (2007) afirma que a prática crítico-educativa proposta pela educação libertadora de Paulo Freire, pode servir de importante instrumento de emancipação do homem diante da opressão, pois, ela aponta no sentido da intervenção prática no ambiente do cotidiano escolar, de forma dinâmica, transformadora, considerando, a todo instante, a realidade concreta, singular e peculiar de cada educando. Ainda, segundo Fonseca (2007) a proposta de Freire sempre teve em pauta por considerar as experiências que cada educando já traz de seu ambiente extra-escola, utilizando-as para estimular uma nova práxis educacional. Isso, em última instância, contraria o modelo de educação proposto pelos opressores: uma educação sem arestas que desconsidera as diferenças entre os sujeitos, as diversidades sociais, as peculiaridades próprias de cada indivíduo, enfim, afirma supostamente iguais os diferentes.

Ao pensar na teoria de Paulo Freire (2001), refletimos nosso trabalho na educação libertária como um elo cultural que pode propagar na vida profissional de cada indivíduo. Pensando numa pedagogia da liberdade como uma “pedagogia da autonomia”, podemos ver a questão da disciplina na escola, na relação professor-aluno relacionada à autoridade, ao bom senso e à amorosidade do professor. As palavras desse educador vislumbra o ato de educar de qualquer indivíduo, não diferentemente em suas expressões planejadas, numa educação diferenciada.

Educar e educar-se para a vida são imprescindíveis para a realização humana. Para Paulo Freire a tônica era a efetivação dos instrumentos pedagógicos, ou seja, despertar no educando o interesse da real informação, de modo que a visão global e mais profunda do alvo a ser encontrado correspondesse ao equilíbrio entre o “querer” e o “acontecer”. Efetivar, outrossim, o entusiasmo pela universalização da educação em seu potencial disciplinar e curricular.

Filosofia da educação e as tendências educadoras libertadoras de Paulo Freire

Os homens, no estudo de si mesmos e da sociedade, podem se deixar influenciar por um conjunto de idéias que aprenderam, pelas crenças que adotam, pelos valores que aceitam. Ao acatar a idéia centralizadora da sociedade, o conjunto de idéias a serem vivenciadas, a filosofia da educação é contributiva em seu papel comportamental.

Os autores Alexandre Becker e Osmar Ponchirolli (s.d.) destacam que:

A constituição do pensamento de Paulo Freire tem como lócus principal o Brasil e a América Latina da década de 1960. Antes de anunciar a presença de Paulo Freire como educador, faz-se necessário contextualizá-lo como homem. Diga-se um "percebedor" da realidade por sua condição de pobre, nordestino e brasileiro. Sua luta e presença baseiam-se na categoria "opressão", principalmente, por ter sido um homem que fez uma leitura concreta do mundo do oprimido, da complexidade da relação oprimido e opressor, para, finalmente, propor uma pedagogia libertadora que consiste em uma educação voltada para a conscientização da opressão (pedagogia do oprimido) e a consequente ação transformadora. Para ele, a luta dos oprimidos e sua libertação estão, como observarmos no pensamento gramsciano, diretamente conectadas à percepção dessa situação opressora/alienante e a criação de alternativas a essa situação.

No que abarca a filosofia da educação, Paulo Freire cria tendências futuristas e originais. Freire (2001) destacava:

Que a transitividade ingênua precisa ser promovida pela educação à crítica, a qual, fundando-se na razão, não deve significar uma posição racionalista, mas uma abertura do homem, através de que, mais lucidamente, veja seus problemas. Posição que implica a libertação do homem de suas limitações, pela consciência dessas limitações (FREIRE, 2001, p. 113 e 114)

O Brasil é um país em desenvolvimento, portanto, segregado no que diz respeito à educação. Alexandre Becker e Osmar Ponchirolli (s.d.) ainda postulam que:

Percebemos em Paulo Freire que significamos o mundo na relação com o outro. No processo de globalização a relação com o outro passa pelo local e se amplia para o universal e não vice-versa. [...] Devemos muito a filosofia da educação de Paulo Freire, até em nível mundial. Não podemos colocar Paulo Freire no passado. Ele foi muito original sobretudo porque despertou nas pessoas a crença na sua capacidade de "mudar o mundo", de ler o mundo para escrever o mundo.

Se o objeto da filosofia da educação é o conhecimento da realidade, pode-se prelecionar a importância que a leitura de Paulo Freire é apoiada por uma palavra coletiva. Todos necessitam da crença e das tendências libertadoras de mudar o conhecimento de uma realidade pungente e provocante, que tenha um enfoque crítico, provando e suscitando busca de soluções criativas para atingir os fins da educação libertadora.

Segundo José Luiz de Paiva Bello (1993):

Para Paulo Freire o diálogo é o elemento chave onde o professor e aluno sejam sujeitos atuantes. Sendo estabelecido o diálogo processar-se-á a conscientização porque:

a. é horizontalidade, igualdade em que todos procuram pensar e agir criticamente;

b. parte da linguagem comum que exprime o pensamento que é sempre um pensar a partir de uma realidade concreta. A linguagem comum é captada no próprio meio onde vai ser executada a sua ação pedagógica;

c. funda-se no amor que busca a síntese das reflexões e das ações de elite versus povo e não a conquista, a dominação de um pelo outro;

d. exige humildade, colocando-se elite em igualdade com o povo para aprender e ensinar, porque percebe que todos os sujeitos do diálogo sabem e ignoram sempre, sem nunca chegar ao ponto do saber absoluto, como jamais se encontram na absoluta ignorância; e. traduz a fé na historicidade de todos os homens como construtores do mundo;

f. implica na esperança de que nesse encontro pedagógico sejam vislumbrados meios de tornar o amanhã melhor para todos e,

g. supõe paciência de amadurecer com o povo, de modo que a reflexão e a ação sejam realmente sínteses elaboradas com o povo.

Com Freire, ontem, hoje e no futuro, a reflexão pedagógica já avançou o suficiente para perceber que há uma visão idealista da escola tradicional que não vigora mais.

É importante considerar que a educação para o autor é um processo dinâmico e complexo, envolvendo muitas variáveis não controláveis.

Segundo Freire (1994), trabalhar com a educação libertária é aprender e ensinar as pessoas a conhecerem seu corpo, sua natureza, sua originalidade única de ser. O seu conceito de educação libertária tem a ver com a qualidade de vida, com a saúde que deve apontar para o desenvolvimento da criatividade que traga a construção de uma sociedade livre e justa em que o ato de viver não se limite apenas a sobreviver.

Metodologia

Este trabalho corrobora o pensamento crítico de Paulo Freire, num sentido observacional, com a técnica de pesquisa bibliográfica, com pesquisa exploratória e qualitativa, procurando dar cientificidade às nossas opiniões, balizadas pela obra do educador e seus seguidores, principalmente no tange à Filosofia da Educação.

Conclusão

Entendemos que a conclusão deste trabalho sempre será provisória, diante das novas expectativas que surgem na filosofia da educação e a tendência libertadora de Paulo Freire. Para o educador o “real não se congela”. Novos experimentos demonstrarão a crítica positiva que o legado de Paulo Freire validou. Daí não há como limitar o que de si já é ilimitado.

À guisa das considerações finais, pode-se perceber que a atividade humana teórica e a atividade humana prática podem se estabelecer em uma unidade transformadora. Se a teoria muda o mundo por intermédio da educação, a tradição prática tem elementos cognoscitivos e teológicos para complementar a esperança e o amor que Freire dedicou em seus engendramentos educacionais.

A educação é contígua, construção e reconstrução do real, tem múltiplos olhares e determinações. Ou seja, Paulo Freire, ao assumir uma leitura de mundo diferenciada, tratou desigualmente os iguais e igualmente os desiguais. Impetrou a ênfase do deslocamento da vida do indivíduo escola-família-sociedade. Este aspecto trifásico que podem ser construídos, historicamente, será levado pelas teorias progressistas em âmbito global, para outras gerações.. Já não há como separar a redescoberta do mundo escolar e do mundo ambiental, do universo planetário com a concretude profissional.

Por fim, há de se considerar que o “transformador” Paulo Freire implantou novos conhecimentos na educação que estão vinculados à prática cotidiana. Dessa forma, o facilitador, o professor, o filósofo da educação, o alunado terão pela frente uma nova perspectiva, a escola renovada, um fazer educativo político e literalmente construído, com capacidade de mudar o mundo, eliminando a “pedagogia do oprimido”.

REFERÊNCIAS

BECKER, Alexandre; PONCHIROLLI, Osmar. O papel da filosofia na educação para o desenvolvimento sustentável. Disponível em: http://www.unifae.br/publicacoes/pdf/sustentabilidade/alexandre_osmar_editorado.pdf Acesso em: 26 out. 2009.

BELLO, José Luiz de Paiva. E uma nova filosofia para a educação (1993). Disponível em: http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/per01.htm Acesso em: 23 out. 2009.

FONSECA , Valter Machado. (2007). Paulo Freire e a educação libertadora. Disponível em: http:/www.destaquein.sacrahome.net/node/348 Acesso em: 23 out. 2009.

FREIRE, Paulo. À sombra desta mangueira. São Paulo: Olho d’Água,1995.

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984.

FREIRE, Paulo. Educação e atualidade brasileira. São Paulo: Cortez, 2001.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984.

PIAGET, Jean. Para onde vai a educação? Rio de Janeiro: José Olympio, 1984.

VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

Sobre a autora

Doutoranda em Educação pela Universidad de Jaen – Es, Mestre em Educação pela Universidad de Jaen Es, Mestre em Estudos Linguísticos pela UFMG, Especialista MBA em Meio Ambiente pela Universidade Católica de Brasília.

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Silvania Mendonça
Enviado por Silvania Mendonça em 05/11/2009
Reeditado em 19/05/2019
Código do texto: T1905635
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