Classificação dos Seres Vivos, Lições para o Olhar da Pessoa Humana
A diversidade biológica existente é extremamente grande, exigindo dos Biólogos um esforço para compreender a organização dessa diversidade. Propostas de ordenar esta diversidade biológica, segundo alguns critérios que pudessem ser compartilhados entre todos da comunidade científica, passaram a ser prioridade, pois facilitaria a comunicação e os métodos de manipulação desse conjunto de seres vivos.
No passado, mais recente, os seres vivos eram agrupados em dois reinos: Animal e Vegetal. Para ser do Reino Animal bastava que o ser vivo apresentasse as capacidade de locomoção e fossem heterótrofos; enquanto para pertencer ao Reino Vegetal deveriam ser imóveis e autótrofos fotossintetizantes.
A aplicabilidade desse sistema de classificação foi esvaziada pelo desenvolvimento da Ciência, que detectou seres vivos que se locomoviam e faziam fotossíntese e outros que eram imóveis e heterótrofos.
A solução imediata foi criar um Reino Intermediário, que pudesse, mesmo que provisoriamente, conter estes “seres vivos problemas”. O Reino foi denominado de Protista, onde alojaram-se as bactérias, as cianofíceas, os protozoários, os fungos e as algas. Caracterizados como seres vivos unicelulares ou pluricelulares, autótrofos ou heterótrofos e eucarionte ou procarionte.
A Ciência continuou avançando e o poder de visualização melhorou a compreensão dos elementos celulares, o que permitiu a retirada das cianofíceas e das bactérias do Reino Protista, e um novo reino foi criado para contê-los, o Reino Monera. Um Reino que conteria seres vivos unicelulares, procariontes, autótrofos ou heterótrofos. As bactérias e as cianofíceas compartilham, mesmo que provisoriamente, o espaço do Reino Monera com os vírus, acelulares e parasitas intracelulares obrigatórios.
Outro “ser vivo problema” são os fungos, fixos, semelhante a vegetais, heterótrofos, aclorofilados e alimentando-se de material em decomposição. Esse organismo paradoxal constitui hoje, o Reino Fungi.
Assim, o Reino Animal passou a abrigar os animais, organismos pluricelulares, eucariontes, teciduais e heterótrofos. Enquanto no Reino Vegetal, encontramos organismos pluricelulares, eucariontes, teciduais e autótrofos.
Uma vez, “resolvido” os problemas dos reinos, surgiu outro problema, como organizar a diversidade de seres vivos, que agora povoava os reinos, de forma que fosse possível traçar uma linha de parentesco (filogenia) entre eles. Vários sistemas de nomenclatura foi experimentado, porém a maioria era Antropomorfizante, isto é, os seres vivos eram classificados, de acordo com características humanas.
No Século XVII, Lineu, elaborou uma classificação biológica que é usada até hoje, baseada em características biológicas de cada ser vivo. Para tanto, ele construiu um sistema hierarquizado de categorias taxonômicas: Reino, Filo, Classe, Ordem, Família, Gênero e Espécie. Onde a categoria Espécie é a única que realmente existe, as outras são construções mentais que agrupam umas as outras, de acordo com o parentesco filogenético dos seres vivos.
Essa história das Ciências Biológicas, construída com a preocupação de compreender a organização dessa imensa biodiversidade, pode nos trazer algumas contribuições para uma leitura de nossa postura, enquanto pessoa humana e nossa relação com o ambiente natural e com a própria sociedade.
Revisitando nosso eu, construído ao longo de nossa história de vida, é possível detectar nossa angústia causada, a todo momento, pela incompreensão de determinados momentos da vida. Não é raro, tomarmos decisões que tenham a comodidade de julgar o outro a partir de nós mesmos. Geralmente, esse julgamento não reflete a realidade do outro; muitas vezes o que mais nos incomoda naquela situação de incompreensão do outro é exatamente um conflito interno da pessoa que classifica, não resolvido.
Essa história da classificação biológica dos seres vivos mostra momentos em que o critério foi exclusivamente antropológico, chegando ao ponto de classificar os animais e vegetais em bons para o uso o homem e maus ou sem uso para o homem. Essa postura de usar, ter o poder sobre os seres vivos, foi transportado para a vida humana, que classifica o outro, partindo de princípios que possam usar este ser humano para alguma coisa, principalmente para aumentar a capacidade de TER de alguém.
Em outros momentos históricos, o homem se encomodou com o arranjo “desordenado” de uma floresta tropical ou similar, transformando-a em uma grande floresta plantada, com árvores da mesma espécie, alinhadas e cercadas. É muito fácil conviver com aquilo que me convém.
Nesse mundo globalizado, há uma falsa idéia de unidade, mas o que transparece nas entrelinhas da unidade, é um grande sistema de classificação das sociedades: os usuários dos recursos e o produtores de recursos, porém com diferenciações gritantes na maneira de pensar a dignidade, a igualdade e a liberdade para cada segmento social.
É importante ressaltar neste contexto, que a pessoa humana, neste momento está com o espírito ocupado, mas não ocupado pela verdade, liberdade, felicidade e amor, pois esses valores não são construtores do TER e do DOMINAR. São critérios gratuitos que deveriam permear a pessoalidade humana, que classificaria o outro a partir do outro, daquilo que ele é. Nesse sentido, Lineu nos deu uma lição de classificar, ser natural e simples é a postura para compreender a importância da diferença que existe no outro.