Especiação e a Chance de Experimentar o Novo

Há um consenso entre os Biólogos quanto ao processo de formação de novas espécies – especiação – via isolamento geográfico, como o mecanismo mais freqüente e geral, utilizado pela natureza.

A continuidade da especiação geográfica torna sua observação bastante prejudicada, assim, é conveniente que a recorte em eventos ou estágios consecutivos.

Inicialmente, uma população sofre uma separação geográfica, de modo que haja uma diminuição da migração, e conseqüentemente, do fluxo gênico.

A barreira geográfica que impede o fluxo gênico pode apresentar-se de várias formas: o mar entre as ilhas, a terra entre os lagos, o cume de montanhas diferentes, o fundo de vales, etc., além das barreiras climáticas.

Após o isolamento, a população original constituirá uma infinidade de outras pequenas populações que não se encontram. Com o passar do tempo, as condições locais se constituirão em seleção natural, que balizará as alterações genéticas internas das populações.

Decorrido algum tempo, é possível que haja uma nova configuração geográfica ou climática e as barreiras sejam baixadas. Duas são as possibilidades evolutivas para a espécie agrupada em populações isoladas:

Os indivíduos se encontram e fazem trocas genéticas, resultando descendentes férteis. Não havendo, nesse caso, uma especiação;

Os indivíduos se encontram, porém houve um isolamento reprodutivo que os impedem de manter um fluxo gênico, ou de gerar descendentes férteis. Neste caso, é provável que tenha ocorrido especiação.

Enfim, é possível sintetizar os eventos da Especiação geográfica:

1º - População homogênea

2º - Isolamento Geográfico ou Climático

3º - Isolamento Reprodutivo.

Quando analisamos as inter- relações entre indivíduos de uma população, observamos um estado de competitividade entre os pares, o que promove um abandono local por aqueles que se sentem menos competitivo. Esse abandono se caracteriza por emigrações, em busca de um novo espaço, com recursos passíveis de serem explorados. O evento emigratório se faz em várias direções, a partir de um ponto original, levando grupos inteiros de indivíduos para os mais diversos tipos de ambientes, caracterizando uma IRRADIAÇÃO ADAPTATIVA. Da mesma forma, quando há saída de alguns indivíduos de uma população, há a abertura de espaço para que outros indivíduos, de outras populações possam ocupar, o que estimula a imigração. Neste último caso, há um afluxo de formas diferentes para um mesmo espaço, caracterizando uma CONVERGÊNCIA ADAPTATIVA.

No caso de Irradiação Adaptativa, é comum observarmos a ocorrência de HOMOLOGIA, isto é, órgãos de mesma origem embriológica, com funções diferenciadas (ex: asas de aves e braços dos homens – membro anterior transformado em instrumento de vôo e em instrumento de manuseio, respectivamente).

Focando a Convergência Adaptativa, há a ocorrência de ANALOGIA, órgãos de diferentes origens embrionárias desenvolvendo as mesmas funções (ex: asas de insetos, originadas da expansão da cutícula e as asas de aves, originadas do desenvolvimento dos membros anteriores).

A especiação biológica nos convida a uma reflexão sobre os métodos que nós, enquanto pessoas, usamos quando estamos diante de algo novo. Quando, na especiação, há a diferenciação entre os organismo através da variabilidade genética, não há uma exclusão imediata dessa diferença, mas sim um investimento na tentativa de se abrir um espaço experencial para essa novidade.

Este espaço experencial apresenta um mínimo de exigências para que possa existir a vida, há uma tolerância muito razoável para com as novidades, que se são boas, podem ser incorporadas pela população; se são deletérias, serão eliminadas ao longo do tempo, porém com a preocupação de não penalizar drasticamente o indivíduo que apresentou esta diferenciação deletéria, em outras palavras, há apenas um repúdio à diferença, e não à vida do indivíduo.

As diferenças incomodam a pessoa do indivíduo, que acreditando estar seguro com suas convicções atuais, tem medo de buscar compreender aquilo que é novo e se angustiar pela descoberta da insegurança de suas convicções atuais.

Há um sonho embutido em nossas vidas, o sonho do SERVIR. Esse sonho somente é possível quando admitimos que cada pessoa tem algo diferente para colocar aos pés do outro, porém, não para se sentir subjugado ao outro, mas sim, para SERVIR como alavanca para erguer o outro e ajudá-lo a caminhar. Por mais perigoso que seja uma diferença, é na realidade uma oportunidade de experimentar as verdades e dar a oportunidade do outro de sonhar o seu sonho.

A irradiação e a convergência adaptativas nos trazem outros preciosos momentos para revisitarmos os nossos relacionamentos conosco e com os outros. Quantas vezes não suportamos a perda de um membro de nosso grupo, que se afasta? Mais tarde, esse ex-membro nos surpreende com uma performance invejável em outro espaço, em outro grupo, era a hora dele sair e buscar completar o SERVIÇO para suas diferenças. Da mesma forma, um espaço foi aberto para um membro novo, que muitas vezes nos conforta com a compreensão de nossa angústia pela perda e nos brinda com suas preciosas diferenças, colocadas a nosso SERVIÇO.

Enfim, a Especiação nos coloca no espaço da vida, quando nos lembra que sempre há um lugar para todos, desde que cada pessoa de uma chance para o novo ser experimentado.