TODOS OS NOMES
Escrevo para ti que podes ser a memória da minha infância, o esquecimento do futuro. Deixo da vida este balanço dum movimento ténue onde pareço dançar, quando me embalo ouvindo o silêncio. Sinto as tuas mãos acariciantes, o que faz com que a solidão não tenha lugar neste voo.
É a única nota estranha, a maior facilidade de entender a música desta dança interior encontra no vazio a única companhia, tendo por espaço o tempo, a duração parece ser a espera de acordar vago e ausente como a roseira com esperas no caule. Mais endurecidas nas hastes antigas onde o caule foi crescendo e envelhecendo, como se um arbusto ganha-se tronco e se transforma-se em árvore.
Posso pensar coisas absurdas, como enforcar-me, ficando suspenso da imaginação.
IMAGINAR ATÉ MORRER
Sempre gostei de fazer este desafio, adivinhar se o título precede o texto ou lhe sucede. Agora que o conto, gostava de saber se "imaginar até morrer" foi o que pensei antes ou o que escrevi depois e terá sido sempre um jogo: entre a escrita e a leitura, entre o leitor e o autor, entre a altura e a queda, entre o fora e o dentro, entre o fim e o princípio, entre o tudo e o nada, entre a entrega no amor e o amor da entrega entre nada e tudo, em suma.
TODA A VIDA COMEÇA E ACABA
A entrega no amor – seria outro bom nome para qualquer texto, nomeia este parágrafo como o cabelo na cabeça e a pele no corpo, quando o inicio é olhado quais olhos no olhar com que antes já se pensa o depois
Nenhuma – palavra – está – completa antes do seu fim, como saber qual seja quando ainda a procuramos? Deixemos este – está – e – Nenhuma, retirando-os para ficar: palavra completa.
Sentei-me à beira dum lago
a ver passar os peixes
nas águas paradas
O fio invisível caindo vertical
era um perigo de morte
na espera imóvel
TODOS OS NOMES – é um romance de José Saramago, os nomes são de pessoas tratadas como coisas, aqui ficam os textos – tratados como pessoas?