Deixa pra lá!

Há frases que guardo. Ficam por tempos sem que eu lembre, assim como acontecimentos, outros acontecimentos da vida. É como se estivessem num armário que nem tenho em casa, estarão num banco feito cofre ou numa nuvem que não aparece porque as outras sempre a cobrem, não sei bem, mas hoje veio á minha cabeça uma que li faz muitos anos e nem sei mais quem é a autora, (é mulher e acho que inglesa) “todos nós deveríamos ter uma vida para ensaiar e outra para viver”.

Escuto e leio até de personalidades influentes em todos os meios, amigos também , que não se arrependem de nada do que fizeram, que voltariam a fazer tudo igualzinho e me pergunto porque sou diferente.

Muito da minha vida teria sido diferente se houvesse um ensaio, arestas teriam sido limadas, situações cortadas, outras aumentadas e algumas nem teriam sido, sequer, vividas.

Não sou reclamona, nem chorona, ao contrário, riso até em situações sérias pode fluir pleno e sonoro, me acho inteira e costumo usar Ana Carolina para me definir- “Eu me levo, me acompanho e se bobear me dou flores”. Agora, de uns anos para cá sou assim, antes tinha medo de dizer não, achava que poderia agradar ao mundo, queria a todo o custo agradar, porque me sentia ética, legal, bem humorada, bonita, sensata, vez por outra pagando mico, e me decepcionava porque, naturalmente, nem sempre minhas intenções eram entendidas, minha ética era julgada ao inverso, como se eu fosse tendenciosa, meu bom humor considerado inoportuno.

Dá para entender como uma vida sem ensaio pode querer ser assim? Não dá.

Hoje falando comigo (eu e eu conversamos bastante e “nós” nos achamos o máximo, sem falsa modéstia) eu comentava sobre diferenças e que bom que elas existem, sobre contrariedades, afinidades, inveja, até crueldade e foi quando veio a frase do ensaio.

É, era para ser como foi e se foi alguma razão tinha para ser, essa razão ainda não achei e também não a procuro, fica por decifrar porque há coisas bem mais interessantes de fazer, como ler um bom livro, ir a um cineminha, estar com amigos, ver uma peça de teatro, ou como faço muito, simplesmente passear pelo calçadão, ver gente, sentir gente, conhecer gente. Perceber ao vivo e a cores, que mesmo sem ensaio minha vida é colorida e bem vivida e que talvez o ensaio não me deixasse ser a pessoa que hoje sou. Neste nosso mundinho de conceitos e preconceitos, sem ser única, sei que faço a diferença, não só por minha alegria de viver, como pela alegria de ser sensível e entender meu próximo, respeitar e ajudar, passar vendo, não só olhando.

Quem sabe o ensaio não fizesse com que me sentisse o centro do Universo, a tal, a mais?

São conjeturas, acredito que a essência já estava na minha alma, quando dei meu berrinho de “cheguei”.

E estou aqui agora neste momento dando voltinhas á minha cabeça de lindos cabelos cacheados para encontrar um jeito de finalizar meu escrito, alguém tem uma sugestão?

Paula Castanheira
Enviado por Paula Castanheira em 26/10/2009
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