DIVERSIDADE CULTURAL
 

 
     Falar sobre diversidade é tentar entender a variedade  e convivência de ideias, características ou elementos diferentes entre si, em determinado assunto, situação, ou ambiente. A idéia de diversidade está ligada aos conceitos de pluralidade, multiplicidade, diferentes ângulos de visão ou de abordagem, heterogeneidade e variedade. E, muitas vezes, também, pode ser encontrada na comunhão de contrários, na intersecção de diferenças, ou ainda, na tolerância mútua.

 
     O conceito de diversidade é muito amplo e tem diferentes aplicações em vários ramos do conhecimento. A Filosofia procura entender o pensamento humano a partir da diversidade de opiniões ou pontos de vista sobre os assuntos de seu interesse; a Antropologia Cultural, procura entender a diversidade de hábitos, costumes, comportamentos, crenças e valores, e a aceitação da diferença no outro (chamada de alteridade); mas é no campo da Cultura que a diversidade, por meio do Multiculturalismo, apresenta-se como o grande desafio dos vários ramos do conhecimento. 

     Cultura (do latim cultura, cultivar o solo, cuidar) é um termo com várias acepções, em diferentes níveis de profundidade e diferente especificidade. Como conceito antroplógico podemos entender como práticas e ações sociais que seguem um padrão determinado no espaço/tempo. Se refere a crenças, comprtamentos, valores,  instituições, regras morais que permeiam e "preenchem" a sociedade. Explica e dá sentido a cosmologia social, “é a identidade própria de um grupo humano em um território e num determinado período.”

     A Diversidade Cultural presente em nosso dia-a-dia convida-nos a conviver com diferenças de todas as ordens, exigindo de todos e cada um a tolerância e o repsito ao diferente. Mas não é fácil reconhecer e aceitar a "diversidade humana". Homens e mulheres são diferentes, pensam e agem de forma diferente. Jovens e adultos são diferentes, pensam de forma diferente e agem de maneira diferente. A verdade é que todas as pessoas são diferentes e isso, muitas vezes, é motivo de violentos conflitos e guerras. 

     Além das diferenças genéticas existem diferentes "modelos" sobre os quais construímos nossos conceitos, crenças, religiões, e o certo e errado podem ser diferentes a partir da cultura em questão. Os próprios conceitos de "ética" e mesmo "moral" divergem de uma cultura para outra. Umas mais rígidas, outras mais "relativistas", etc., neste sentido temos que aprender a conviver, a respeitar e até utilizar para a nossa vida – pessoal e profissional – as diferenças culturais. 

     O homem contemporâneo é chamado a aprender não só a aceitar a diversidade, mas a utilizar essa diversidade para seu crescimento pessoal. A globalização nos coloca a todo instante diante das várias culturas e precisamos ver o diferente com olhos familiarizados sem ter a pretensão de imaginar que todos devam ser iguais, com valores semelhantes, gostos semelhantes ou que nossos costumes são melhores ou superiores. 

     Muitos conflitos são fruto da intolerância e da incompreensão da realidade, da importância e mesmo do valor dos diferentes pontos de vista, de opinião, de valores entre as pessoas. A intolerância com a diversidade cultural torna o relacionamento entre culturas diferentes, tenso, deformado, cheio de ruídos, gerando "pré-conceito" e modelos mentais estereotipados sobre o mundo e as pessoas, levando algumas culturas a se considerarem superiores em relação a outras. 

     Percebemos que é preciso um verdadeiro e genuíno esforço para compreender, aceitar e valorizar a diversidade. Nossa sociedade ainda conserva (pré)conceitos historicamente cristalizados sobre quase tudo: negro, índio, pobre, deficiente físico, deficiente mental, nordestino, homossexual, empregada doméstica, gordo, idoso etc. Isso tem a ver com a maneira como aprendemos a ver o outro. A questão é: sob que prisma a sociedade aprendeu a enxergar o outro?

     Toda nossa educação foi elaborada e desenvolvida para manter a mente engessada. Fomos domesticados e doutrinados. Não aprendemos a pensar. Apenas apreendemos pensamentos. Assim, o feio (aquele que não atende aos padrões de beleza ditados pela sociedade) é inabilitado, é incompetente, é indigno. O mesmo prisma que usamos para olhar o deficiente físico, o deficiente mental, o negro, o índio, o nortista, o nordestino, o pobre, a prostituta, o homossexual etc. Esse elenco não se encaixa nos padrões de normalidade e perfeição (física, mental, econômica, social e intelectual), criados e impostos pela sociedade. Logo, se não se encaixa, não serve. Se não serve, tem que ser deixado de lado — à margem.

     Essa rejeição é manifestada de várias formas, porém uma das mais claras é quando as portas se fecham para a escolarização e para a carreira profissional. É quando o indivíduo é privado do seu direito. Desse modo, não basta só está na Lei, é preciso um esforço no sentido de se reeducar a sociedade, almejando-se uma mudança de concepção. Pois, se mudarmos o modo de pensar (e de ver), mudamos o modo de agir (e reagir). Não se pode esperar que todos nós sejamos iguais a fim de sermos aceitos. 

     Ser diferente não pode ser entendido como ser incapaz, inapto, alguém sem condição nenhuma de estar entre os “normais”. É urgente a necessidade de se buscar componentes que levem o homem a (re) construir sua mentalidade social onde ele seja capaz de ver o mundo constituído por grandes e reais diferenças humanas, e que essas diferenças não significam má qualidade ou valor inferior, mas riqueza de valores, completude. 

     O Universo é imenso e nessa imensidão são as diferenças que permitem que ele seja o que é — universo. Gerir uma atitude que tenha como foco a diversidade é mais que um desafio, é um teste de aptidão. Só os aptos para mudanças sobrevivem, como dizia Charles Darwin. Sobreviver implica ser capaz de mudar. Mudar conceitos, posturas, valores, ações. O mundo muda a todo instante. Tudo na natureza se ajusta a fim de que a vida possa continuar o seu curso. Mas essa mudança deve ser de atitude, de respeito ao diferente.

     A necessidade desafiadora de se conviver com a diferença nem sempre é discutida em meios sociais. Apesar disso, convive-se com ela no cotidiano e muitas vezes não se percebe a maneira com a qual são praticadas as ações delimitadoras sobre o que é correto ou não fazer em sociedade. De forma geral, sabe-se dessa necessidade de convivência e da grande diversidade cultural entre os povos. Mas, pouco ou quase nada é feito de concreto, o que percebemos é uma grande dificuldade em superar esse desafio que, entre outros fatores, gera o egoísmo individual em querer o bem a si próprio sem dar a devida importância ao bem-estar do outro, assim como, a tentativa de impor um modelo cultural único, homogêneo.

   
Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 24/10/2009
Reeditado em 19/03/2014
Código do texto: T1885115
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