UM "PIT STOP" PARA A REFLEXÃO
Ao me surgir a ideia deste texto fiquei em dúvida se o classificaria como ensaio ou como cronica.
O motivo da minha dúvida surgiu do fato de que quem me inspirou a escrevê-lo foi um depoimento muito sincero e emocionado de alguém que certo dia me relatou a sua decepção durante um ocorrido num dos prêmios de fórmula 1 aqui de São Paulo.
Na verdade ao ouvir o seu relato que ainda depois de certo tempo transpirava uma forte emoção, meu pensamento foi longe e me trouxe até aqui.
Finda mais uma agitação da "fórmula 1" na grande Sampa, parei para observar como de fato se vive de ilusões passageiras, e me lembrei daquele homem simples, ídolo da minha cronica, que trabalhava nos serviços gerais dum grande hotel aqui da cidade..
Sei que é mister e próprio da nossa natureza necessitarmos de ídolos e heróis, senão sem ídolos, o que seria da humanidade...e da nossa dura realidade.
E é assim que de tempos em tempos tentamos a todo custo transferir nossas expectativas e frustrações aos nossos ídolos e mitos, e quando os mesmos se "desmaterializam", nós rapidamente os imortalizamos no nosso espírito, e quantas não são as vezes que a todo custo, buscamos noutros seres do nosso mesmo "barro" a "rematerialização" dos nossos sonhos, buscando e recriando outros ídolos.
E na Fórmula 1 a nossa grande busca ainda é por AIRTON SENA, é o que sinto.
Já se anuncia para a próxima temporada o início de seu jovem sobrinho para as pistas do mesmo esporte, e eu imagino como deva ser dificílimo se despojar das pujanças dum grande ídolo e das ilusões que ele gera no tempo... para ser a si mesmo nas pistas...Barrichello que nos diga!
Mas aquele homem, o meu protagonista, me dizia que tinha um grande ídolo pelo qual nutria quase um paixão. Sempre o via nas telas da televisão , narrando o esporte da fórmula 1, e às vezes chegava a sonhar com a tal voz do famoso locutor, que na atuação do seu trabalho, tão gentil e educado era com os telespectadores.
Ir ao autódromo de Interlagos para vê-lo pessoalmente lhe era um sonho impossível, então passava apenas a concretizar seu "amor" nas imagens televisivas.
Penso que ídolos e paixões parecem ser a mesma pessoa.
Porém naquele dia, o destino lhe trouxera um presente: num grande dia de FÓRMULA 1 como o de ontem, trabalhava no mesmo hotel que o seu ídolo locutor estava hospedado.
Não se conteve de alegria.Ficou horas a imaginar como provocaria um encontro com o seu ÍDOLO. Pensou na melhor roupa, num bom perfume, engraxou um velho sapato de couro preto.
Um homem fino, educado, bem sucedido, reverenciado por todos, idolatrado pela mídia e pelo nobre povo, mereceria o que ele tinha de melhor..
Chegara a sua vez, afinal, de concretizar o seu literal sonho.
MAs na vida tem dessas coisas. Às vezes fantasiamos tanto um momento e de repente perdemos a fala quando ele nos chega sem avisar...
Ao abrir-se de súbito a porta do elevador, lá estava seu ídolo, ali, de "carne e osso" ao "vivo e a cores" no saguão do hotel, a flagar-lhe de uniforme, agachado, polindo um metal ao rodapé duma parede.
Disse-me que perdeu a fala...enrubeceu, acelerou o coração, tremeu as mãos, bambeou as pernas, sentiu tonturas, tudo aquilo que acontece quando estamos enfeitiçados por uma paixão.
Porém mesmo assim angariou forças para se levantar e frente a frente dizer ao seu ídolo: "Bom dia!".
Sequer ouviu a resposta.
A mim terminou seu relato dizendo que depois daquele dia todos os seu ídolos morreram e ele nunca mais sequer desejou ressuscitá-los.