Moralismo

De todas as humanas criações, poucas são tão inúteis quanto esta do título, visto que sua utilização somente pode ser feita num mundo de faz-de-conta, onde os velhos valores, que aliás, eram mais impostos que aceitos, lutavam para coexistir com os anseios das pessoas.

O moralismo é uma forma dos velhos (não necessariamente os de certa idade cronológica, mas sim ideológica), tentarem de alguma forma exercer certa influência no mundo a sua volta, e como não tem um discurso, nem atos novos, que venham de alguma forma chamar a devida atenção, preferem se algemar aos valores retrógados dos tempos de Cabral, para se mostrarem presentes, e como sabem que um discurso e um ato novo chamam mais a atenção, do aquilo que já passou, tratam de castrar tudo que venha a ser visto como uma ameaça, usando como desculpa o batido discurso de que fere os bons costumes e a moral. Dá-me nojo tal desculpa esfarrapada dada por estes que não se adéquam ao passar dos anos.

Este grotesco ser criou várias aberrações como a de que é errado querer, e, transar antes do casamento, mesmo que se tenha enorme vontade de transar loucamente antes (conheço casos assim), mas por algum motivo preferem se guardar para um parceiro perfeito que virá em seu corcel branco, com cabelos louros e barriga de tanquinho as fazerem ter loucos momentos de orgasmo. A vida é muito curta para se matar desejos que podem ser plenamente realizados. Querer colocar a culpa em dizer que é errado, apenas mostra as marcas que tal ideologia pode causar. Não apenas no tocante ao sexo que isso se nota, dei tal exemplo, por este aspecto ser tabu, infelizmente, na mente de pessoas que se prendem a essa ideologia sem nexo.

Outro exemplo que se verifica é no tocando da infidelidade feminina. Para começo de conversa, esse padrão de fidelidade que se impõe hoje assemelha muito aos donos de cachorros com seus animais. Se faz certo recebe carinho e um biscoito, se não é punido, mas se o dono trai se animal nada acontece. Digam-me se não parece com o marido que trai a mulher, nada acontece com ele, a mulher (de burra, por querer manter um relacionamento que já está fadado ao sepultamento, perdoa o marido e crê que ele nunca mais fará isso), mas se a mulher faz, em casos mais graves, vem até a ser morta.

O moralismo gerou tal distorção neste, e em tantos outros aspectos, que fez uma ilusão ser vista como realidade. O meu não existe quando se refere a uma pessoa, dizer tal coisa, é o mesmo que rebaixar uma pessoa a categoria de um objeto, quando ouço alguém falar “esta é minha mulher e meus filhos”, ou “este é meu marido e meus filhos” da vontade de perguntar onde fora feita a aquisição e se é possível fazer uma troca casa não se queira mais. A noção de fidelidade não é para ser norteada como com cerne em ser algo cobrado, mas sim conquistado, afinal de contas eu não coloco um amigo na parede e exijo que ele confie em mim, mas sim espero que o tempo faça tal trabalho, sendo assim, soa irracional querer exigir tal coisa da parceira.

Como visto, o moralismo é uma ilusão que somente gera outra ilusão, e como tal, sendo demasiada alimentada, somente vem a originar sofrimento. Termina sendo como aquelas pessoas que se entopem de produtos diet e light pensando que nunca irão engordar, mas quando a ficha cai, estão obesas, hipertensas, com as veias entupidas e se culpando por terem deixado que a ignorância fosse como a estrela que a guiou pelo deserto por tanto tempo.

Sinceramente não vejo utilidade nenhuma no moralismo, e toda e qualquer pessoa que prega talo discurso são passa de um hipócrita, que muito provavelmente não cumpre sequer 10% daquilo que fala, admito tal postura por saber que somos seres corruptos e corruptíveis, tornando nossos discursos moralistas a mais pura e pútrida falácia, pois quem é verdadeiramente moralista não perde seu tempo com belos discursos, mas sim com atos.

Regurgito minhas entranhas na face de quem me vem com palavras de tom moralista, ainda mais de pessoas de que não tem a mínima condição de adotarem tal discurso, é tão díspar quanto ouvir um nazista dizer que ama os judeus, ou que um amante das guerras profere sobre a paz, ou seja, não passa de falácia e de falso engodo.

A quem se diz moralista, falem menos e façam mais, o mundo não precisa de discursos, mas sim de gestos que o ajudem a crescer, e quiçá um dia ser um local onde se possa viver com dignidade. Como diz uma frase batida “de boas intenções o inferno está cheio.”

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