Mitose e Meiose: manutenção das características e gestão de diferenças.
No início, a experiência da simplicidade necessitava de processos que garantissem a manutenção dos avanços para a preservação da vida no planeta. Para tanto, o processo de Mitose veio responder tal anseio, produzindo células-flhas com as características das células-mães. Enquanto isso, o processo de Meiose garantia a perpetuação da espécie, produzindo gametas que levavam os avanços conseguidos pela Evolução e, por vezes, contribuía com alguns novos avanços através do crossing-over.
A Mitose ocorre nas células somáticas, produzindo novas células semelhantes.
Antes da divisão celular por Mitose, a célula somática passa por um estágio de vida
útil, denominado de Interfase. Ainda nesse estágio de Interfase, os cromossomos se
duplicam no interior da Carioteca, preparando-se para o estágio de Mitose.
No início da Mitose, no estágio de Profase, com os cromossomos duplicados, os centros celulares também se duplicam e começam umas migrações para os pólos opostos, interligando-se por fragmentos (fusos mitóticos). Enquanto isso, o nucléolo não é mais visível e a carioteca se rompe.
Após a Profase, há o momento da Metafase, quando os cromossomos, presos pelo centrômero aos fusos mitóticos, alinham-se no equador da célula, perfazendo a placa equatorial.
O terceiro momento, Anafase, os fusos mitóticos iniciam um processo de encurtamento em direção aos pólos, rompendo os centrômeros e separando as cromátides irmãs dos cromossomos.
Por fim, na Telofase, os cromossomos serão acondicionados pela carioteca, o nucléolo reaparecerá e a célula se dividirá num processo de citocinese, perfazendo duas células semelhantes à primeira.
A Meiose é exclusiva para os órgãos destinados a formação de células reprodutoras (gametas) (e para alguns organismos formam os esporos), produzindo ao final, quatro células-flhas com metade do número de cromossomos da célula-mãe. Também, no período de Interfase, há a duplicação dos cromossomos e logo em
seguida inicia-se o estágio de Meiose. São dois momentos: um primeiro, não obrigatoriamente, destinado a produzir pequenas mudanças na seqüência dos genes contidos nos cromossomos, através do crossing-over, quando há troca de parte dos cromossomos homólogos, “misturando” os genes. No segundo momento, a preocupação é dividir as células no sentido de reduzir seu número de cromossomos à metade.
No primeiro momento, na Profase I, os cromossomos duplicados podem
sofrer um alinhamento, na forma de pareamento, de forma que possam trocar
fragmentos com os seus pares homólogos (crossing-over). Ainda na Profase I, os
centríolos se duplicam e migram para os pólos, unidos pelos fusos que alinharão
os cromossomos. Ao final da Profase I, a arioteca se rompe e dá início ao momen-
to da Metafase I, com o alinhamento dos cromossomos no equador da célula.
Na seqüência, na Anafase I, os fusos encurtam e arrastam para os pólos, os cromossomos, porém aos pares duplicados, não havendo separação das cromátides.
Uma vez, os cromossomos arrebanhados nos pólos, inicia-se a Telofase I, que formará novamente a carioteca em torno dos cromossomos e promoverá uma citocinese, produzindo duas células com o mesmo número de cromossomos da célula-mãe.
Para reduzir o número de cromossomos, há o segundo momento, iniciado pela Profase II, que duplicará os centríolos que migram para os pólos opostos, unidos pelos fusos, enquanto a carioteca se rompe e liberta os cromossomos no citoplasma.
Durante a Metafase II, os cromossomos são alinhados no equador da célula e presos pelo centrômero nos fusos. Com o encurtamento dos fusos, há a separação das cromátides dos cromossomos duplicados, efetivando-se a Anafase II, com o arrastamento das cromátides para os pólos opostos.
Enfim, na Telofase II, as cromátides contidas em cada pólo serão acondicionadas no interior da carioteca que se formará novamente, enquanto cada uma das duas células, do primeiro momento da Meiose, sofre citocinese, formando mais
duas células, perfazendo um total de quatro células-filhas.
É importante ressaltar que as quatro células-filhas terão metade do número
de cromossomos da célula-mãe, caracterizando um processo de redução do nú-
mero de cromossomos. Além do número reduzido de cromossomos, é possível, se
ocorrer crossing-over, haver no final duas células com arranjos gênicos diferentes e
outras duas com os mesmos arranjos gênicos da célula-mãe.
Como foi possível experienciar a necessidade da Mitose e da Meiose para
um ser vivo, a experiência da Mitose que garante o crescimento corpóreo do indivíduo e a reposição de células perdidas, bem como a garantia da transmissão das características para os descendentes por meio dos gametas, pela Meiose; é possível transcender esse mecanicismo utilitário do processo de divisão celular e visitarmos nossa pessoalidade, tentar compreender as garantias que podemos dar aos nosso crescimento, enquanto pessoa, e a esse mesmo crescimento ao outro. À reposição das perdas do dia-a-dia e da nossa contribuição no ato de reproduzir os valores da pessoa humana no meio social da vida.
O recorte do fenômeno da Mitose e da Meiose para a compreensão de nós mesmos está embutido no sonho original, o sonho do SERVIR, pois há uma preocupação pela manutenção daqueles elementos essenciais à sobrevivência e principalmente quando se perde esse elemento, há uma emergência na sua restauração.
É muito rico refletirmos, nesse momento, a restauração dos elementos perdi-
dos. Eles podem ter sido perdidos por mau uso, envelhecimento, etc., nesse contexto,
quanto de nossos dons foram perdidos pelo mau uso ou até por envelhecimento pelo
não uso?
Os dons que possuímos são a essência de nossa existência enquanto pessoa humana, perdê-los por mau uso ou por falta de exercício de uso é um estado de negação da própria essência. Do mesmo modo que a Mitose e a Meiose são processos biológicos que garantem o exercício do essencial para a manutenção mecanicista da vida, há também exercícios para a manutenção dos dons essenciais da pessoalidade humana, uma experiência da espiritualidade.
Os “mecanismos” para o exercício dos dons podem ser resumidos em SERVIR, PERDOAR e AMAR. O exercício do SERVIR realoca o indivíduo para o grande sonho do universo: fazer parte do sonho do SERVIR dos antepassados e garantir o sonho do SERVIR dos descendentes. Esse exercício passa pelo
encontro com o outro e pela capacidade de nossa pessoalidade compartilhar do
mesmo sonho, garantindo assim a manutenção da essência da vida.
O PERDÃO é outro mecanismo de espiritualidade que constrói a pessoalidade
humana. A perda de um dom ou seu mau uso pode comprometer a essência de uma
pessoa. O encontro com o você e com outro é um encontro com seus dons e os dons do
outro, que por mau uso ou não uso, pode ter alterado o sonho dentro de você ou
daquela pessoa, e com certeza, haverá um descompasso entre a história de sua vida,
com a história de vida das outras pessoas e com a história do universo. PERDOAR
a si mesmo e ao outro é um exercício para a pessoalidade, que compreende as dificuldades da sua história, da história do outro,
e experiencia a compaixão com cada uma dessas histórias, sem julgar, sem condenar;
porém com o espírito da acolhida, aprende e PERDOA. Esse é um exercício que restaura em si mesmo no outro o sonho original, o dom perdido, a essência da pessoalidade.
Para o exercício do ENCONTRO e do PERDÃO de si mesmo e do outro é necessário o dom maior da pessoalidade, o AMOR por toda a experiência que nos leva a construir a nossa pessoalidade e a do outro, um AMOR incondicional que experiencia cada momento como um ato de vida no meio do sonho de ser vida para si e para o outro.