ENSAIO SOBRE A SABEDORIA – parte 1

De Isaias Amorim – ENSAIO SOBRE A SABEDORIA – Livro 1

Hoje você vai conhecer uma história cheia de ensinamentos que será contada por um indivíduo muito especial; onde, em suas narrativas, ele sempre nos mostra como algumas pessoas muito diferentes reagem perante as mesmas situações e acontecimentos, entre as quais alguns cidadãos comuns, um filósofo ateu, e uma pessoa que segue, verdadeiramente, os ensinamentos de Jesus.

Testemunharemos, então, as muitas diferenças entre as suas soluções, as suas atitudes e os frutos dos posicionamentos de cada uma dessas pessoas.

Por isso estou aqui, neste ponto de ônibus onde ao fundo tem um muro muito alto e velho; vejam, há um pequeno buraco nele, parece que foi causado pelo tempo, pelo vento e pela chuva; perceba que cabe apenas, no máximo, algo que tenha a medida exata de uma cabeça de uma pessoa adulta. Este buraco se localiza exatamente no centro do ponto de ônibus e fica logo acima da altura das cabeças das pessoas.

Quando olharmos por esse buraco, conseguiremos enxergar boa parte do Hospício Municipal, onde centenas de pessoas estão internadas, algumas há muitos anos.

Podemos observar que aguardando no ponto de ônibus há uma dona-de-casa de meia-idade, parece que ela é mal-humorada, tem um homem que está um pouco acima do peso, acabando de chegar e ainda tem um rapaz magricela que aparenta ser muito desatento.

Perceba, amigo leitor, que, ninguém diz nada, cada qual está perdido em seus próprios pensamentos.

Mas, nesse momento, podemos observar que a quarta pessoa dessa hístória já está chegando, ela é uma vendedora ambulante de hot dog; ela parece estar um pouco preocupada; mas, estaciona seu carrinho e apenas olha para todos que estão esperando o transporte, ninguém, ainda, notou a sua presença.

A vendedora já devidamente instalada e tentando parecer que é simpática, finalmente, cumprimenta a todos:

-- Bom dia, pessoal! O dia está quente hoje, não é mesmo?

O magricela tentando ser agradável, responde:

-- Bom dia, dona. É sim realmente, está muito quente o dia hoje.

O homem que está acima do peso, suando muito, pois, correu até o ponto acreditando estar atrasado, e querendo ser, também, agradável, diz:

-- Bom dia. Que a senhora tenha um lindo dia!

A dona-de-casa que está olhando seu relógio, e com um sorriso falso diz:

-- Bom dia. Está quente mesmo! Espero que chova senão vou derreter …

A vendedora de hot dog oferece o seu produto:

-- Quem vai querer comer um hot dog especial fresquinho?

O homem que está acima do peso já salivando de vontade de experimentar o lanche, amistosamente, diz:

-- Eu bem que experimentaria um sim, estou até com água na boca, adoro um lanchezinho gostoso, mas, infelizmente, estou de regime, muito obrigado, desejo que a senhora faça muitas vendas.

A dona-de-casa, muito mal-humorada, faz " uma cara de poucos amigos ", e diz:

-- Acabei de lanchar em casa…

O rapaz magricela, que não gosta de comer na rua e, desdenhando dela diz:

-- Se eu comer essa coisa pouco saudável aí, não vou ter apetite suficiente para o almoço especial do dia das mães, com uma deliciosa e boa comida e, conhecendo a minha mãe, com certeza, sei que ela iria ficar muito chateada se eu não comesse bastante, com toda a nossa família.

A vendedora ambulante, visivelmente aborrecida, diz:

-- Poxa! Ninguém vai comer nem um único lanche, como vou pagar minhas dívidas se ninguém comprar nada? Meu aluguel está atrasado há três meses.

A dona-de-casa, rispidamente, responde a ela:

-- A vida não está fácil para ninguém, o meu marido ficou desempregado por seis meses…

O homem ainda com vontade de experimentar um cachorro-quente confessa:

-- Eu, igualmente, estou em dificuldades financeiras.

O rapaz, querendo pôr um ponto final nessa conversa chata, se mostrando entediado fala:

-- Minha senhora, as pessoas estão sem dinheiro e eu também… E outra coisa, ainda é muito cedo para se comer isso. E você não precisa e nem deve ficar aborrecendo as pessoas oferecendo o seu produto insistentemente; quem quer comer, sabe ir até aí e comprar um. Por acaso, é o seu primeiro dia vendendo isso?

A vendedora faz uma expressão de desânimo e diz:

-- Não, faz um mês… Estou tentando conseguir um dinheiro extra.

O rapaz magricela faz um sinal com a cabeça demonstrando que havia entendido e se cala.

O homem que está acima do peso, querendo se mostrar inteligente, diz:

-- Esse país precisa de um bom governante para olhar melhor os pobres, pois, “esses caras” que entram no poder, só querem roubar do povo, eles acham que foram eleitos só para desfrutar de privilégios e de vida boa às nossas custas e, não fazem nada para o bem do povo, só pensam, junto com a sua turma, em roubar do erario público …

A ambulante, parecendo que subiu em um palanque eleitoral, diz:

-- E, por falar em politica... Quero lhes informar que se eu fosse a presidente deste país eu seria muito sábia, governaria, visando, principalmente o bem dos mais carentes, oprimidos e injustiçados! Porque eu conheço a verdade, sou justa, muito justa. Eu, realmente, tenho capacidade extraordinária para governar melhor que essas pessoas que estão no poder! Sempre fui pobre e sei o que os pobres necessitam, entendo suas carências e desejos.

E o magricela, já se imaginando no poder, diz:

-- Se eu fosse governador, faria a melhor justiça, daria o melhor para o povo; no meu governo a paz e à harmonia iriam governar comigo. Minha justiça e sabedoria iriam fazer a diferença e o povo iria se orgulhar do meu governo, e esse meu jeito de governar, entraria para a história como exemplo de boa administração.

A mulher mal-humorada tem a sua vez de falar:

-- Eu queria ser prefeita dessa cidade, com minha sabedoria e justiça, governaria muito bem esse município. Acho que essa cidade precisa de alguém igual a mim para fazer dela um exemplo a ser seguido. Viriam postulantes a cargos públicos de todo o mundo estudar a mim e ao meu governo para aplicarem em seus países as minhas atitudes, os meus conhecimentos, e o meu plano de governo.

A ambulante, acreditando ser uma defensora dos pobres e dos oprimidos volta, empolgadamente, a se pronunciar:

-- Com toda certeza eu seria um exemplo bem melhor do que vocês todos juntos; todo o mundo iria se espelhar em mim e se todos me seguissem eu faria, para todos, um mundo muito melhor para se viver. Todos os países, todos os estados, todos as cidades e até cada uma de todas as aldeiazinha bem distantes daqui, iriam se inspirar em mim...

E o rapaz diz a mesma coisa e o homem que está acima do peso idem; todos estão convictos de que, cada qual, é o melhor exemplo de competência, justiça e sabedoria; acreditam, intensamente, que tudo mudaria com eles no poder; e até se imaginam recebendo grandes honrarias; inclusive, com várias estátuas deles sendo colocadas em muitos lugares importantes.

A dona-de-casa repara que o ônibus está demorando demasiadamente e olha de novo para o seu relógio; e a ambulante conta que já está saindo dali, pois, precisa vender seus lanches, mas, não vai imediatamente e revela aos que estão lhe ouvindo:

-- Estou exausta… Não dormi bem essa noite, pois, descobri que minha filha é uma perdida na vida e a expulsei de casa ontem a noite mesmo, quando a peguei vomitando no banheiro; e logo percebi que ela está grávida, pois sou muito esperta! E mandei ela ir para a casa do rapaz que ela escolheu, de livre e espontânea vontade, para ser o pai da criança que ela espera... Eu nem sabia que ela namorava! Não sabia que já tinha perdido a virgindade dela! Nunca a vi ela em compania de nenhum namoradinho. Para mim, ela era uma criança ainda, a semana passada, eu a vi brincando de boneca! E eu não consegui dormir nadinha, pois, tenho muito medo de dormir sozinha. O pai dela, nos deixou há dez anos, e desde que isso aconteceu, essa menina era a minha vida. Sabe, ela fez quinze anos ontem; eu acreditava que ela era uma boa menina, mas, agora, já que preferiu escolher essa vida de perdição… Pois, está grávida de quatro meses; parece que é de gêmeos! Ela nem queria me contar que está grávida, acreditam? Eu tive que dar uma "boa surra" nela para ela me dizer! E ela não quis me contar, de jeito nenhum, quem é o pai da criança… Sei que tenho de me acostumar com isso; fazer o quê, não é mesmo? Eu fiz o que pude… Estou com a consciência limpa; fiz toda a minha obrigação que uma ótima mãe faria! Dei comida, dei roupas, dei brinquedos; fiz tudo isso para ela, com muito trabalho e cansaço, eu só não tive muito tempo para dar carinho e para conversar com ela, pois, eu trabalho muito! E qual foi o meu pagamento à toda essa dedicação? E eu que pensava que ela iria arrumar um emprego para me ajudar; mas, não, claro que não; ela me apareceu com esses bebês!

E mesmo depois da ambulante falar todo esse absurdo, ninguém lhe dá uma única bronca ou conselho para ela, e o rapaz magricela, resolve falar sobre um outro fato, também, completamente despropositado de sua família:

-- A senhora, fez muito bem, essas meninas só pensam " uma coisa " na vida delas: em dar desgostos, em dar desonra, em trazer a vergonha e o constrangimento para dentro de nossas casas, no seio das famílias de bem e, que, são tradicionais. Minha irmã, de dezesseis anos, igualmente engravidou de um rapaz que ela nem o conhece direito, meu pai a pôs na rua; não ficaria bem a uma família de pessoas que tem moral permanecer com ela em nossa casa, pois, temos que dar um bom exemplo. Essas meninas perdidas só querem saber de vadiagem! Certamente, acredito que meu pai e a senhora deram boas referências e devem ser seguidos por todas as pessoas; assim as outras meninas que conviverem com essa situação, farão, com toda a certeza, escolhas bem melhores que essas, as perdidas, fizeram. Eu acredito, com convicção, que o modo que o meu pai educa, é a melhor alternativa!

O magricela defende isso com uma expressão facial de quem está dizendo a coisa mais certa de todo o planeta e se cala orgulhoso de si mesmo. E ninguém lhe avisa do absurdo do que ele falou.

A dona-de-casa que consegue ficar um minuto sem olhar para o seu relógio dá o seu parecer:

-- Eu que só cuido da minha própria vida, sou justa, mas, até já ouvi falar muito dessas meninas sem juízo, acho que, inclusive, tudo isso acontece por falta de, as mães dessas meninas, não darem algumas boas palmadas quando ainda são pequeninas para apagar de uma vez por todas esse fogo todo, e cortar o mal pela raiz… É o que a minha querida mamãezinha faria… Ela é quem sabe como educar corretamente…

O homem logo em seguida diz um outro absurdo:

-- Se eu fosse o governo daria um jeito nisso de alguma maneira muito correta, eu seguiria os conselhos do meu pai: mandaria esterilizar essas meninas pobres que são sem juízo na cabeça! Seria até um favor para elas isso; aí, essas infelizes, poderiam curtir o fogo que elas tem sem ter filhos que elas não podem cuidar! Então ficaria bom para todo mundo! Pois, com ceteza, são os filhos dessas meninas sem nada dentro da cabeça que contribuem com a maior parte, para o nosso país estar tão ruim assim: elas, colocam muitos filhos no mundo, um atrás do outro, num círculo vicioso sem fim… E na maioria das vezes elas nem sabem quem são os pais das crianças, então, sozinhas, criam os filhos e muitas vezes, quando " arruma " um homem que, normalmente, são muito piores do que elas, sempre apanham deles; e quando essas crianças crescem um pouco, cometem muitos crimes… Eles roubam, eles matam, fazem toda a sorte de barbaridades ruins que estão na nossa cidade… E quando vão presos temos que sustentar esses criminosos todos; e o sistema prisional que é muito caro e ainda tem a comida, as roupas e sem falar das custas dos processos e dos próprios predios que funcionam essas prissões e os foruns e sem falar no dinheiro gastos com os guardas e com os policias e com toda a estrutura que os fora da lei dá aos pagadores de impostos. Por isso que deveríamos obrigar essas mães a abortarem… Antes de o mal nascer!

Cada uma das pessoas que estão ali diz uma barbaridade, uma injustiça, uma crueldade pior do que a outra; acham que têm um jeito melhor, especial, de punir essas meninas e dar um exemplo, que sirva para todo o mundo, e reivindicam uma oportunidade de provar suas ideias, " competência, sabedoria e justiça " .

Mas, de repente, colocando a cabeça para fora, pelo buraco do muro do Hospício, um dos internos olha para cada um dos que estão do lado de fora e com uma expressão de um observador decepcionado e incomodado pergunta:

-- Ei, ei, psiu! Ei, ei, psiu! Parem! Parem! Eu não aguento mais ouvir tantos absurdos! Vocês se acham pessoas sábias e justas, realmente? Eu me pergunto se vocês pudessem estar no governo mesmo, acham que seriam bons governantes? Sejam sinceros! Acham mesmo que o que vocês fizessem em seus pretensiosos e absurdos governos teriam que ser copiados? Acham-se justos e sábios, mesmo? Isso até parece piada de louco. Fiquem sabendo que nem aqui dentro ouço coisas assim de gente sem juízo, semelhantes às tolices e devaneios que vocês falaram, e olha que aqui tem muitas pessoas bem perturbadas.

O interno diz isso e começa a rir sagazmente e após rir muito diz:

-- Vocês não têm um único pingo de entendimento e nem a mínima noção do que é justiça, nem uma gota de noção do que é real, vocês misturam tolices e tirania num espécime simbioticamente tão perfeita de modo tal que não é possível saber se vocês são mais tolos ou mais tiranos ou sei lá o quê… Confesso que nunca ouvi tantas maluquices, tantos absurdos, tantas injustiças juntas em tão pouco tempo! Vocês realmente são bons nisso… Parabéns! Espero que meu pai não tenha ouvido isso que vocês disseram… Mas, se vocês quisessem se internar aqui, eu poderia dar um jeitinho para que começassem o tratamento hoje mesmo. Estou aqui há pouquíssimo tempo, há dois dias apenas, mas, já conheço os diretores desse lugar.

Ao escutar o que o interno disse, a vendedora muito indignada com a petulância daquela intrusa e indesejada figura que está do outro lado do muro, responde:

-- Você está nos agredindo com suas palavras!

E o interno responde:

-- Vocês são quem me agridem aos meus ouvidos, a minha sabedoria, a minha inteligência, ao meu bom-senso e à minha lucidez com essas asneiras que estão dizendo… Eu estava descansando aqui detrás deste muro e não consegui cochilar, pois achei que deveria ajudá-los a não dizerem mais maluquices! Nem mais absurdos! Se vocês quisessem eu poderia curá-los… Basta vocês acreditarem em mim…

A vendedora de hot dog fica até vermelha de tanta raiva que sentiu e diz ao interno:

-- Fique quietinho aí, garoto bobo!

E o interno diz:

-- Eu acho um misto de graça e tristeza isso que vocês, tolos, fazem, quando se encontram e começam a falar, sem parar, uns com os outros, essa parte é bom e interessante, eu gosto disso, vocês começam a interagir uns com os outros, mas, como não têm conhecimentos de nada verdadeiro, falam tolices, como é comum aos tolos fazê-los e o fazem espontaneamente. Mas eu sugiro a vocês que só escolham um único argumento, uma questão, algo bem específico, que vocês gostem muito e o estudem com muito afinco e dedicação, e se transformem em especialistas, nesse assunto e, quando estiverem em um ponto de ônibus, por exemplo, com outras pessoas, possam dizer a elas,coisas que entendam e que sejam verdadeiras; assim, essa conversa, esse interagir de vocês, seria mais útil e edificante a todos, pois se cada um de vocês, tolos, compartilhasse algo que soubessem muito bem, essa conversa seria proveitosa a todos, inclusive para quem, como eu, a ouve quando está do outro lado de um muro tentando cochilar; e se vocês fossem como eu estou sugerindo, quando a conversa acabasse: todos vocês seriam pessoas com mais informação, com mais conteúdo e com mais conhecimentos e isso iria ajudá-los a serem pessoas bem melhores do que são, e vocês poderiam, repetir essa atitude boa em todos os lugares; e se vocês entendessem o que eu falo, e não brigassem à-toa comigo, e se me agradecesse, como seria o correto, seriámos, todos, bons amigos. Eu estou fazendo a minha parte de bom amigo falando a verdade para vocês, pois, tenho certeza que vocês nem sabiam que são tolos; e agora vocês poderiam, em retribuição, em sinal de boa vontade, me dizer algo, que eu ainda não saiba: para que a nossa amizade seja reforçada…

O homem muito bravo o interrompe e diz em seguida:

-- Eu vou falar algo que você não percebeu ainda! Você não passa de um louco! E está nos atrapalhando nessa conversa sádia aqui! Você está aí preso porque fez, faz e fará a mal à sociedade se estiver livre! É um doente mental…

E o interno calmamente responde:

-- Louco é quem não tem capacidade de distinguir a realidade e vive na imaginação, na fantasia e na aparência e vocês se enquadram nesse perfil muito bem, eu não!… A verdade e eu somos a mesma pessoa… Mas, sim… É um fato que estou cativo aqui, mas, não é totalmente contra a minha própria vontade, os internos me ouvem, estou aqui para ajudar eles e a todos que quiserem me ouvir… Com a autoridade que tenho, posso sair daqui quando eu quiser… Eu não faço mal às pessoas não! Eu as liberto!

A dona-de-casa, de tão irritada que fica com o interno, nem pensa mais no seu compromisso e diz:

-- Então por que você está preso aí e nós estamos aqui fora livremente?

O interno, prontamente, responde a ela:

-- Mesmo estando preso aqui dentro sou livre e, vou, em breve, estar na liberdade plena junto do meu pai; mas, vocês sim: mesmo estando do lado de fora, estão presos na ignorância; e pelo que eu pude ouvir, vocês fazem muito mal à sociedade, e, principalmente aos seus próprios filhos, com todas essas tolices que dizem e fazem… Saibam, vocês, que a incompetência e o desconhecimento são amigos muito íntimos da injustiça e da maldade… Por isso, em breve, vocês sim, certamente, estarão presos numa prisão, eternamente.

O interno, depois, faz uma expressão de tristeza e como se estivesse em um hospital visitando alguém à beira da morte, diz:

-- O mundo está muito doente; todos erram por falta de conhecimento e falta de entendimento… Erram quando julgam as circunstâncias e as pessoas apenas pela aparência… Erram também por ganância, erram pela grande maldade e pela imensa frieza de seus corações… Eu sou a única cura para esse mal de vocês… Estou cativo aqui porque eu falei a verdade a qual o meu pai me ensinou e me pediu para ensinar a todos… Mas, todos me detestaram e me rejeitaram… O que falei é loucura para todos, por isso me colocaram aqui dentro … Ainda bem que existe este muro, porque, na verdade, ele serve para me proteger das pessoas como vocês! Mas… Saibam de uma coisa… Se vocês fossem realmente governantes como desejam, iriam prejudicar muito todas as pessoas que estivessem ao redor de vossas tiranias! Seriam péssimos exemplos… Eu jamais votaria em alguém semelhante a vocês… Jamais os levaria para conhecer o meu pai… Mas, por causa do jeito que vocês são: não iriam gostar do meu pai, e por vocês serem assim do jeito que são: pessoas ruins, meu pai também não deixaria que entrassem na nossa casa… Só se vocês ouvissem tudo o que ele me ensinou e mudassem completamente as atitudes de vocês… Vocês teriam que rejeitar e renunciar a toda a tolice que aprenderam com os seus pais… E com os outros " *cégos " que estão guiando todos vocês para um buraco… Vocês teriam que acreditarem só no que o meu pai ensinou, porque: ele é o único que sabe o que é verdadeiro… Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor; todo ramo que, estavam em mim, não dava fruto, ele cortou; e todo que dava fruto ele podou, para que desse mais fruto ainda; por isso eu sou muito obediente, faço o que ele me mandou, por isso ele me ama… E se vocês se tornassem iguais a mim, meu pai os adotariam, seriam filhos de meu pai, então vocês seriam meus irmãos, seriam irmãos uns dos outros… E todos vocês poderiam ir para onde eu vou… Na casa do meu pai tem lugar para todos que forem iguais a mim…

O rapaz, aos berros, revoltado com tudo que o interno falou, diz a ele:

-- Nós nem conhecemos o maluco do seu pai!

O interno, com um imenso amor, diz:

-- Então vou falar um pouco sobre o meu pai para vocês.. Mas, quem me vê também ao meu pai vê, sou igual ao meu pai, quem conhece ao meu pai também me conhece, somos um… O meu pai me ama muito; mas, mesmo ele sabendo que vocês não vão me ouvir ele me pede para falar com vocês… O meu pai acredita que quanto mais as pessoas não merecem o meu amor, mais essas mesmas pessoas precisam dele, do meu amor; por isso que ele me quer junto de vocês… O meu pai quer que eu seja o governo de vocês, o meu pai quer que eu reine sobre todos vocês, ele quer que eu seja o rei de você; ele quer que vocês me amem e me obedeçam… Ele quer que vocês se tornem igual a mim… Obediente às coisas que ele me ensinou…

O rapaz mais revoltado ainda diz:

-- Não dêem ouvidos a ele; não vamos contrariar esse doido… Droga de ônibus… Por que será que está demorando tanto assim?

Ele diz isso tentando desviar a conversa e fazer com que o interno os esqueça de uma vez por todas.

E o interno dá um aviso:

-- O ônibus não vai passar aqui por algumas horas…

A dona-de-casa, se mostrando muito aflita, quer saber:

-- Porquê? O que houve?

O interno a responde secamente:

-- Porque, com a autoridade que me foi dada, eu faço que ele demore bastante para passar, quando eu preciso ensinar a verdade aos tolos, aos iludidos e aos que estão indo para o caminho errado e tem a sorte de parar aqui nesse ponto de ônibus e ter a portunidade de me conhecer e eu lhes indicar o caminho correto.

Todos, nesse momento, riram muito dele. E o interno disse:

-- O meu pai, ao meu pedido, até pararia a rotação do Universo para que, o Sol parecesse que estaria parado, no mesmo lugar, se eu pedisse a ele, caso eu precisasse… Mas, se eu pedisse isso, todo mundo, iria acabar achando que seria o Sol que estaria parado, e não o Univerdo todo, as pessoas não sabem de nada, sempre julgam só pela a aparência das coisas e pela as aparência do que pensam serem os fatos...

Quando ele disse isso todos novamente riram muito dele. Mas, ele diz:

-- Quem tem ouvidos para me ouvir, ouça, e seja livre da falta de conhecimento e nunca mais errará novamente: Se vocês soubessem o que é empatia e conseguissem se colocassem no lugar do outro seriam pessoas bem melhores, pois, julgariam mais parecido com a maneira que eu julgo, a maneira que o meu pai me ensinou… Se vocês conseguissem agir com amor seriam bem melhores… Pois, seriam mais parecidos comigo e com o meu pai… Eu posso ensinar a vocês todos a amar, ou ter empatia… Basta que vocês renunciem a si mesmo … O meu pai iria ficar muito feliz com vocês se me ouvissem com amor e carinho …

A dona-de-casa que, neste momento, está no limite da sua minúscula paciência se manifesta:

-- Meu rapaz… Vai tomar o seu remedinho, dorme bem gostoso e calminho, tudo bem? Aqui estamos falando sobre coisas sérias e importantes, só pode participar pessoas adultas e saudáveis mentalmente, não percebe? Pegue o seu rumo…

O interno em tom de deboche responde:

-- Estão falando sério?

De novo começa a rir e diz:

-- Nem quero estar aqui por perto, expondo os meus ouvidos sensíveis as tolices, quando vocês estiverem brincando de serem tiranos, injustos, ditadores, *cárráscos… Mas, direi mais uma coisa a todos… Não é necessário ser um governante para mudar o mundo e ser um exemplo a ser seguido… Vocês poderiam mudar o mundo pouco a pouco com pequenos e singelos gestos, com boas atitudes simples e cotidianamente; cada atitudes boas que fizessem, iriam resultar em pequenos e muitos bons frutos, e quando tudo isso fosse somado, o mundo estaria mudado. Veja bem, se cada pessoa se preocupasse em fazer somente o que é o certo individualmente, isso por si só já seria muita coisa, pois, quem faz o certo já ajuda o outro a não *érrár por vários motivos, um deles é o exemplo, o outro, os filhos vão imitar, a pessoa vai ter moral para corrigir os outros, quanto mais gente fazendo o certo menos gente estará fazendo o errado.

Todos riram do interno nesse instante; a ambulante quase não consegue falar por não conter o riso e com um falso tom de bondade, como é muito comum fazerem os tolos, diz:

-- Parabéns, garoto, conseguiu passar no teste que inventei, neste instante, testei a sua maluquice e você, com certeza, é o maior de todos loucos que eu já vi! Por falar nisso… Não está mesmo atrasado para tomar o seu remedinho e ir dormir? Quantos aninhos você tem? Dez? Onze?

Quis saber a ambulante, e o interno aponta com a mão direita, doze dedos, em três vezes, abrindo e fechando a mão com quatro dedos cada vez. E tentando mostrar a todos que o que ele está falando tem coerência, então, calmamente, diz:

-- Mas, é verdade o que eu lhes disse, vocês iriam tornar o mundo melhor, verdadeiramente, mesmo, com apenas pequenos e singelos gestos corretos… Mas, por outro lado, se vocês, fossem governantes, cometeriam grandes injustiças com o povo… E iriam entrar para a História como os grandes tiranos… Mas, vocês querem saber o que mais poderiam fazer para mudar de uma maneira positiva e, efetivamente, boa parte de todas as civilizações?

Todos, em uma só voz, respondem:

-- Não, não queremos! Guarde para você mesmo as suas ideias de maluco.

Mas o interno assim mesmo diz:

-- Esses são apenas alguns dados que mostram como as crianças são tratadas: Em todo o mundo morrem por mês cerca de novecentas mil crianças: devido à pobreza… A mortalidade infantil no mundo, diariamente, dezesseis mil crianças morrem sem completar cinco anos… No mundo todo, a cada minuto, cinco crianças morrem por desnutrição; a cada minuto uma criança sofre acidente de trabalho. Acidentes domésticos lideram causa de morte de crianças no Brasil… Síndrome dos maus tratos às crianças aumenta trinta e seis por cento, e… As mães estão entre os principais agressores… Setenta e cinco por cento das vítimas têm menos de dois anos… Cinco em cada cem crianças agredidas morrem por causa da violência… Os meninos são as principais vítimas, pois, têm mais cólicas e choram mais, o que faz alguns adultos perderem a paciência… Quarenta crianças são abusadas sexualmente a cada dez minutos… Pouquíssimas pessoas fazem algo para proteger essas crianças. As pessoas não se comovem, parece que as vítimas são apenas números… Parece que todas as pessoas acham que isso é um problema que só o governo deve resolver… Essas crianças precisam, urgentemente, serem protegidas, o meu pai ficaria muito feliz com quem, verdadeiramente, protegessem essas crianças, por isso que ele me pediu para falar com as pessoas… Sobre isso…

O interno faz uma pausa e depois continua:

-- Vocês poderiam esquecer essa história de mudar o mundo sendo governantes, pois, vocês são tolos… E ainda, seria muito difícil de vocês chegarem ao poder, nunca chegariam, parem de falar bobagens… Esqueçam isso… Mas, vocês poderiam, sim, mudar o mundo, simplesmente, sendo bons pais educando e protegendo muito bem os seus filhos. Isso vocês poderiam fazer, isso vocês devem fazer… Mas, o modo correto de fazer isso, educar as crianças, é copiando como meu pai me educou, por isso que eu sou assim… Eu nunca erro, pois, só faço as coisas exatamente como o meu pai me ensinou… Mas, voltando ao assunto já que vocês não me ouvem, pelo menos vocês teriam que procurarem uma boa educação orientada por especialistas, então teriam que abrir mão do tempo que vocês gastam fazendo coisas erradas e usar esse mesmo tempo precioso para fazerem o bem para as suas crianças. Mas, para isso vocês teriam que estudar muito a questão, cada detalhe, levar bem a sério mesmo o estudo, se dedicar, tem que praticar, se esforçar e aplicar os conhecimentos; mas, se vocês fizessem isso tudo como eu estou falando, iriam colher bons frutos, vocês mudariam o mundo para melhor aos poucos, mas, continuadamente, com cada geração sendo melhor que a geração passada e as futuras gerações também sendo melhores que as que vieram antes delas. Eu estou dizendo isso porque me preocupo muito com os seus pequeninos, preocupo-me com a maneira como vocês se comportam, e, como estão educando pessimamente as suas crianças, são pais horríveis… Vocês receberam péssimas educação e valores dos seus pais e estão passando isso aos seus filhos… Vocês são muito preconceituosos e sem orientação… E do jeito que vocês pensam e educam seus filhos, e eles ouvindo os seus conselhos e vendo as suas atitudes e as copiando: esses inocentes serão duas vezes mais insensatos do que vocês… E eles vão educar as crianças deles, por causa de vocês, de modo que serão três vezes mais insensatos do que vocês, e os filhos deles, por causa dos seus filhos que vocês educaram mal … Serão péssimos pais … E eles vão julgar as pessoas muito mais insensatamente do que vocês o fazem agora… E o meu pai não gosta nenhum pouco de como vocês são… Ele não gosta de como vocês influenciam os pequeninos inocentes que estão sobre suas responsabilidades…

O homem que está acima do peso, acreditando que é um ótimo pai, e, indignado com o que acaba de ouvir do interno, imediatamente, diz:

-- Por que diz essas coisas sobre nós? Você não tem esse direito; pagamos caro os nossos impostos para você ter esse bom tratamento de graça e nos retribui com essas ofensas gratuitas e sem sentido?

O interno prontamente com uma atmosfera de desafio responde com uma pergunta:

-- Vocês sabiam que eu também inventei um teste? Sim; eu inventei agora: para provar que vocês não seriam bons governantes… Eu poderia propor esse teste e mostrar para vocês que tenho razão no que estou lhes dizendo? Se eu pusesse vocês dentro do meu super simulador de realidade virtual e o programasse para que ele tenha todos os elementos totalmente detalhados do contexto de uma história que uma pessoa é um governante e tem um grande problema relacionado com crianças para resolver, vocês poderiam, por favor, me responder o que fariam no passo seguinte da situação, quando fosse pausado o simulador?

E as quatro pessoas que estão no ponto de ônibus, em uma só voz, perguntam:

-- Você tem mesmo esse super simulador aí dentro?

E o interno ri muito deles e depois diz:

-- Claro que não, deixem de ser bobos, eu sou um interno em um hospício, como eu iria ter alguma coisa desse tipo aqui dentro? E esse tipo de simulador nem existe… Mas tenho algo que pode funcionar ainda melhor.

E todos querem saber o que é:

-- Se eu fosse um escritor eu seria muito bom, então posso criar esse contexto e ir contando e vocês escutam e simulam em suas cabeças o ambiente e entram no clima da história e se imaginam totalmente dentro dela. Sabia que a melhor maneira de ensinar alguém é contando uma história? Vocês sabiam que eu sou o melhor inventor e o melhor contador de *parábôlas que já pisou nessa terra?

Todos se entreolham e riem do interno, mas, mesmo zombando muito dele aceitam o tal teste, querem rir mais dele, e ele faz uma cara de quem vai dizer algo muito importante e, finalmente, diz:

-- Então prestem a atenção. Vou contar o começo de uma história muito chocante e triste, mas, igualmente importante e vocês terão que me responder algumas perguntas sobre a continuação dessa história, e através de suas respostas, eu darei o resultado para ver se vocês seriam, mesmo sábios e justos, e se seriam mesmo, bons governantes, e se seriam bons protetores de crianças inocentes, e se seriam mesmo copiados com todas as honrarias pelo mundo todo… Certo? Vocês entenderam? Vocês aceitam responder o teste?

E todos ficaram tão curiosos para ouvir a história que até se esquecem do ônibus que estranhamente ainda não passou.

O interno suspira profundamente e começa:

-- Imaginem que um super carro esportivo importado, novíssimo, com certeza acabou de sair de uma revendedora; vem em uma velocidade superior a cento e oitenta quilômetros por hora em uma avenida muito comprida que começa plana, tem uma descida bem acentuada que termina onde tem uma curva para a direita e outra para a esquerda formando um “T” gigante em frente a um muro do Parque Nacional. Imaginem que o motorista não consegue fazer a curva nessa velocidade toda, e perdendo desta forma o controle da direção do carro, e na sequência atropela e mata no ato, duas crianças que, inocentemente, brincavam no meio-fio da calçada; uma das vítimas tinha apenas dois anos e meio e a outra mais jovem ainda, quase um bebê, ela tinha apenas e tão-somente um ano e meio. O automóvel pára somente quando se choca em uma proteção enorme e improvisada feita de pneus usados. O carro fica totalmente comprometido, perda total. O motorista está inconsciente, mas, ele se salva ileso, pois, usa cinto de segurança e o sistema de airbag do seu carro importado e muito caro funcionou perfeitamente. Alguns minutos depois, os pais dos inocentes, que moram a uma quadra dali, à esquerda da curva do atropelamento, em uma ocupação irregular, junto com os amigos, vizinhos e outras pessoas que chegam, olham e querem dar cabo da vida do motorista a pauladas, a chutes, a socos, a pontapés; e outras pessoas têm em mãos ferramentas de trabalho, vários tipos de armas de fogo e com outras coisas que podem ser muito úteis para dar fim a vida de um homem de uma maneira muito cruel e sanguinária… E isso tudo está acontecendo num sábado às 20h35min.

Tudo isso que está acontecendo é muito perto do palácio real; é apenas a uma quadra à direita da curva do acidente.

Dentro desse palácio está acontecendo um evento muito importante, faz apenas dois dias que um homem foi coroado rei. Agora ele está sendo entrevistado pelas vinte mais respeitadas emissoras de televisões de todo o planeta, por ele ter sido considerado a pessoa mais sábia e justa de todos os tempos, com base num teste feito por uma importante agência especializada mundialmente reconhecida. Essas emissoras de televisões, estavam há dois meses anunciando essa reportagem, e agora a transmitem, ao vivo para o mundo todo. Esse evento, meio entrevista meio aula, foi bastante recomendada por vários dos maiores cientistas de muitos setores, por filósofos, por professores e por psicólogos, por antropólogos e outros profissionais; esse evento importante é um presente para toda humanidade, pois, o mundo todo está cheio de ignorância e injustiça e a ideia é que, sendo o rei o homem mais sábio e justo de todos os tempos; pudesse inspirar sua sabedoria e justiça nas pessoas de todas as nações, pois, há uma finalidade em especial: tornar o mundo um lugar completamente seguro para as crianças.

Entretanto, o rei não dormiu bem essa noite e está muito indisposto, quase que ele cancelou de última hora esse evento, mas, seria muito complicado mudar a data para outro dia distante, então, por esse motivo, resolveu fazer esse grande esforço de ensinar ao povo.

No momento em que acontece o atropelamento e as mortes das criancinhas o rei fala sobre grandes feitos realizados pela autoria de sua própria sabedoria, quando entra desesperadamente um dos guardiões do palácio e se atreve a se aproximar do monarca e o interrompe no meio da entrevista e todos acham que, “ o intruso “, jamais poderia ter feito tal coisa num evento desse porte; e na sequência ele chama o rei num lugar privado próximo e conta que há uma multidão se organizando para linchar um motorista que matou duas criancinhas, em um atropelamento onde, por todo o lugar que se olhe, há muito sangue inocente derramado.

Um jornalista, de uma televisão famosa, sempre muito atento, ouve o guardião relatar a questão ao rei, então ele, atrevidamente, mais do que o guardião, ousa chamar o rei na frente das câmeras: sugere e solicita ao monarca para que ele mostre, ao vivo, ao mundo todo, como resolver um problema dessa magnitude, com sabedoria e justiça, para que seu exemplo possa ser compartilhado por todas as pessoas, pois, é esse o objetivo da entrevista: ensinar o povo a ser sábio e justo, e como há crianças envolvidas, resolvendo ao vivo um caso desse: poderia ser mais educativo, e as crianças seriam eficazmente protegidas da violência.

O rei aceita a sugestão e começa a se deslocar e todas às cerca de setecentas pessoas, deixam rapidamente as dependências do palácio real e acompanham o rei em direção ao local onde parece que, infelizmente, teremos um iminente linchamento.

Nesse momento a metade da população mundial está vendo tudo isso, pois, essas pessoas se lembraram que haveria esse evento e se interessaram e puderam assistir à entrevista, agora estão em choque e extremamente comovidas com a situação, e toda essa metade que está assistindo ao vivo, e em prantos, todos eles têm o mesmo pensamento: avisar sobre o ocorrido à todas as pessoas que conhecem; e é a primeira e a única vez na história que todos os telefones do mundo inteiro entram em atividade simultaneamente, todos estão fazendo ou recebendo chamadas: são pessoas avisando para os amigos, avisando para todos os parentes, ligando para os vizinhos e assim todas as pessoas são avisadas do que está acontecendo, e todas que foram avisadas deixam seus compromissos e seus afazeres, mesmo os mais importantes.

Agora o mundo todo está diante de suas televisões, pois, as emissoras estão fazendo com que a coisa toda fique cada vez muito maior, muito mais dramática, mais emocionante, e tudo isso, por causa de como são mostradas e narradas todas as cenas do acidente pelos apresentadores de televisão sensacionalistas e pelos jornalistas irresponsaveis; eles mostram cabeça num canto do muro, braços em outros lugares próximos, pernas em outro canto, e sangue por todo lado, e todos que estão assistindo ficam, cada vez mais comovidos e profundamente chocados com que aconteceu com as criancinhas inocentes nesse impressionante acidente de carro ...

Todas as pessoas estão muito ansiosas para saber do desfecho desse violento e inesperado caso e saber como se faz para ser uma pessoa sábia e justa. Muitas das pessoas estão até com bloquinhos de notas ou cadernos e canetas para anotar cada atitude, cada detalhe e cada reação, do homem mais sábio de todo o planeta. Não querem esquecer de nada e aprender, definitivamente, com uma pessoa sábia e justa conduz os acontecimentos, os fatos.

Ainda, desejam aprender a ser uma pessoa protetora de crianças.

Talvez por causa de todo o sangue, ou, por tudo, que a situação em si causa e mexe com o ser humano: todas as pessoas prometeram para si mesmo e para todos os que estavam perto deles e principalmente para as crianças que iriam fazer exatamente tudo o que o monarca sábio mandar: pois, amam as crianças mais do que tudo na vida, e cada qual, imaginando as crianças mortas, pegam no colo seus filhos e abraçam bem forte e ficam felizes e aliviados por não serem os filhos deles os mortos.

Quando o rei chega ao local da tragédia logo vê que a criancinha de dois anos e meio está com metade do seu corpinho no capô do carro e a outra metade no interior da máquina que custa meio milhão de dólares que lhe ceifou a vida. A pequena vítima está sem o braço esquerdo e o resto do seu corpo está todo retorcido; jorra sangue inocente de cada *póro de seu cadáver infantil que ainda retém um pouco de calor.

A outra pequeníssima vítima, de apenas um ano e meio, foi arremessada contra um poste, tendo a cabeça e os braços decepados; o frágil corpinho está todo desfigurado. O sangue inocente das pequeninas vítimas " lava toda a calçada “. O rei olha para o motorista e ele “ dorme “ como se estivesse em sua própria cama, tranquilamente, “dorme” como se estivesse feito a coisa mais linda do mundo e agora está dormindo “o sono dos justos” e nem passa por sua cabeça que ao seu redor o povo está afoito para fazer o que essas pessoas chamam de justiça com as próprias mãos.

Nesse instante, o rei concentra o seu olhar no motorista, e é interrompido pelo choro de uma mulher que se aproxima, se ajoelha aos seus pés e com muita dificuldade, diz:

-- Majestade, me escuta, por favor, sou a mãe destas criancinhas assassinadas por esse monstro! Quando me casei era muito jovem, todos cobravam que eu tivesse filhos, eu nem queria ter filhos logo, mas, também, eu não conseguia engravidar, precisei fazer muitos tratamentos para conseguir, enfim, depois de dez anos consegui. Sofri muito com os *enjôos, com as dietas, com os exercícios, os partos foram difíceis, demorados, perigosos e doloridos. Depois que meus filhos nasceram tivemos muitos problemas financeiros; eu não tinha mais tempo para fazer as coisas que fazia antes deles chegarem, mas amor, carinho, cuidado e dedicação isso nunca faltou não! E agora, depois de tudo que eu passei; aí, vem, este assassino e tira de mim os meus filhinhos amados e queridos? Eu quero… Quero não! Eu exijo que vossa majestade o mate também! Ele matou minhas criancinhas inocentes. Mate quem provocou esta dor profunda em mim! Mate quem deixou esse vazio em mim! Mate quem matou a minha alegria de viver! Mate o culpado! Faça a justiça! Dê um exemplo para que outros assassinos pensem bem antes de tirar a vida de inocentes e indefesos! mate esse destruidor de famílias felizes! Majestade, o senhor tem que punir ele por isso!

A mãe das crianças atropeladas diz isso e no momento seguinte está lançada ao chão e ela faz um escândalo e chora a plenos pulmões e é consolada pelos seus parentes e amigos.

O pai das crianças também exige do rei que faça o que é certo e “ensina” ao poderoso monarca o que é " justiça ":

-- Majestade, o senhor, com certeza, sendo um sábio e justo igual a mim, deve condenar este assassino à morte! É preciso dar o exemplo! Alivie a dor que paira sobre mim, sobre minha esposa e sobre todos que estão aqui. Todos que estão aqui conheciam, e se importavam muito com eles, e, se preocupavam bastante com esses inocentes! Queremos que, vossa majestade, faça a coisa certa: a morte deste assassino, ou, no mínimo, a prisão perpétua com chicotadas o tempo todo neste louco, matador de criancinhas! Eu o peço, vamos matar o responsável por todo este sangue inocente derramado! Esse assassino matou estes inocentes sem a mínima necessidade! Por que eles tinham que morrer? O que eles fizeram de errado? Eles não tiveram a mínima chance de defesa! Tiveram? O que eles poderiam fazer para se defender? O senhor não acha que são os filhos que devem enterrar os pais deles? Se esse motorista assassino não tivesse feito isso eles estariam vivos, não estariam? O senhor sabe muito bem que tudo foi culpa dele, não sabe? Sabe que ele os tirou o direito à vida por pura maldade, não sabe? Então, faça o que o meu pai diria: mate esse monstro para que as mortes dos netinhos do meu pai não seja e vão; e, pelo menos sirva de exemplos para salvar outras crianças… Meu pai, majestade, só me ensinou coisas boas, tenho sempre feito o que ele me ensinou; eu queria passar isso para os meus filhos, mas, esse monstro assassino deu fim a toda a minha descendência .

O pai das crianças precisou ser amparado senão iria cair no chão, então foi levado para longe da presença do rei.

Cada pessoa, que se encontra, ali dá ao rei uma ideia " melhor " de qual seria a maneira " correta " de punir o motorista; muitos desejavam matá-lo com as próprias mãos, pois, estão revoltados com o que estão vendo e realmente não está com uma boa aparência essa cena; o acusado ainda está desmaiado dentro do carro.

O interno ao chegar nessa parte da história do seu teste diz às pessoas que estão no ponto de ônibus:

-- Cada um de vocês será o rei dessa história… Querem todo o poder para julgar? Terão todo esse poder que querem! O que vocês disserem será considerado a verdade absoluta suprema e irrevogável e tudo o que fizerem vai servir de inspiração para todas as pessoas, portanto, resolvam este problema da forma mais sábia e justa que forem capazes. Imaginem que vocês estão em um reino onde vocês têm o poder absoluto, vocês terão o poder do Estado: totalmente, vocês serão o Estado, e tudo que vocês acharem ser justos podem ser aplicados quando, e, do jeito que quiserem, vocês serão A Lei; cada um de vocês quando for responder o teste, saiba que serão os três poderes em uma pessoa só; podem fazer novas leis, podem aplicar cada uma delas imediatamente se quiserem e, ainda podem dizer que as suas leis são justas e, ninguém irá questionar isso; o Estado e toda sua e estrutura estará voltada a adaptar tudo que for necessário a suas justiças, tudo estará as vossas disposições; então, nada os impedirá de fazer o que é justo, nada mesmo… Aliás, só uma coisa os impedirão de fazerem a justiça: se vocês não serem capazes de saber o que é justo, só isso!

O interno suspira profundamente e continua:

-- Mas, se, na verdade, vocês não forem realmente tão sábios e justos o quanto acreditam que são, farão muito mal ao mundo; e eu, sabendo disso tudo os advirto: vocês, com certeza, irão é piorar ainda mais o mundo. Vamos ver se vocês seriam bons governantes então? Vamos ver se consertariam verdadeiramente ou o afundariam mais o mundo todo?

As pessoas que estão no ponto de ônibus ao escutar cada palavra do interno se entreolham espantados e o interno continua:

-- Agora vocês farão o papel desse rei, se colocarão no lugar dele, e julgarão o motorista; então: façam leis que acreditem ser corretas, o mundo todo vai copiar essas suas atitudes e as leis que vocês acreditam que são justas, então me mostrem como inspirar positivamente com seus ensinamentos e com as suas justiças, espalhem o que há de melhor dentro de vocês. Aproveitem a chance que têm, protejam as crianças… Eu só os advirto e lhes aconselho a ensinar as pessoas de um modo que eles entendam o que exatamente cada um de vocês pensam e e façam a justiça de um modo que eles possam aplicar em todos os lugares onde estão.

O interno olha fixamente para cada um dos seus interlocutores:

-- Vocês poderão tomar a atitude que quiserem, mas, o objetivo é apresentar soluções para que nenhuma criancinha, nenhum inocente morra injustamente.

E dizendo isso o interno suspira profundamente e em seguida diz:

-- Tem mais uma coisa para ajudar vocês… Tudo o que precisarem saber eu posso lhes dizer, no ato de suas perguntas, responderei tudo. Tudo mesmo! Se acharem importante saber a cor do carro ou a idade de alguém, se quiserem até um exame ou uma perícia qualquer eu lhes dou os resultados imediatamente, basta que me perguntem, basta me dizer a suas dúvidas. Até mesmo se precisarem saber o que surgiu primeiro: se foi o ovo de galinha ou se foi a galinha propriamente dita, eu lhes conto. Eu respondo a toda e a qualquer pergunta que me fizerem. Respondo a todas as dúvidas, pois, sei todas as respostas: já que foi eu mesmo que inventou esse teste, e conheço a cada detalhe do desenvolvimento dessa história do começo até o fim dela. Por tanto não hesitem em me perguntar… Pois, vou responder de maneira tão, clara, rápida, e precisa; será impressionante… Vai parecer que vocês estão mesmo falando com as próprias pessoas que pertencem a esse enredo do teste; será como se aquele simulador que eu brinquei sobre ele com vocês: existisse de verdade e vocês estariam dentro dele, fazendo parte dessa história se integrando a ela… Percebem esse acontecimento fantástico? Notaram que vocês terão todos os elementos para os ajudarem a viverem uma situação bem próxima da realidade? Mas, não se esqueçam que o objetivo é que tenham atitudes que visem proteger as criancinhas do perigo em todo o mundo. Mas, não se esqueçam que se vocês ensinarem coisas erradas; enfiar os pés pelas mãos, ensinar as pessoas a trocarem o certo pelo errado, ou ensinarem a trocarem algo certo por algo duvidoso, ou ainda trocar um conceito errado por outro conceito igualmente errado: todas pessoas vão copiar isso também, pois, por causa das televisões, que espalharam sobre a sabedoria de vocês: já que todos acreditam em tudo o que as televisões anunciam... Então, todos acreditam que vocês são as pessoas mais sábias e justas de todo o planeta e vão obedecer sem questionar o que vocês mandarem, pois, como foram conduzidas as publicidades nas televisões: estão realmente a fim de receber ensinamentos de vocês. Estão, todos, com cadernos e lápis em mãos, para anotar e fazer tudo o que vocês os orientarem! Mas, vocês querem mesmo responder a esse teste? Ou preferem desistir? Eu entendo e desculpo quem assume que não é sábio, acredito ser muita sabedoria reconhecer a própria ignorância. Reconhecer a própria ignorância é o princípio da sabedoria. Pois, quando alguém descobre que não sabe e consegue reconhecer isso, ele começa a procurar a sabedoria imediatamente. E quem não sabe que é um tolo continua a ser tolo… Se eu fosse igual a vocês: tolos… Francamente; eu diria que não seria capaz de responder à essas perguntas sem piorar o mundo, diria isso, e iria embora calado, assumindo que seria apenas um tolo, e não iria fazer mal ao mundo ensinando coisas erradas… E isso seria a primeira e a única coisa realmente sábia que vocês teriam me dito aqui… E o meu pai iria ficar muito feliz com essa atitude de vocês… Eu ficaria feliz com vocês também e lhes daria um abraço em cada qual… E vocês poderiam voltar aqui todos os dias, na parte da manhã, com cadernos e lápis e eu os ensinaria a entenderem as palavras, interpretação de textos, entender os contextos, entender os sentidos das coisas, ensino os conceitos e ensino a serem pessoas sábias e justas verdadeiramente; mas, vocês teriam que me respeitar como seu mestre, essa é a única condição que eu os imponho…

Todos no ponto de ônibus ficaram estáticos, sem nada a dizer e sem gesto algum; o interno continua:

-- Então, vejam bem a situação… As televisões estão dando closes no rei, nos corpinhos dos menininhos mortos, nos pais deles, no motorista e na multidão. O motorista nesse instante acorda e " dá uma olhada na situação” e o povo começa a gritar: Morte ao assassino! Morte ao assassino! Quem mata crianças inocentes não merece viver não.

O interno sempre com paciência explica:

-- O motorista, muito assustado, olha em sua volta, vê os corpinhos das crianças despedaçadas, vê a metade ensanguentada do cadáver de um menininho ao seu lado, vê as câmeras de televisão que filmam por ali… Vê tudo e se apavora quando vê a multidão com tantas armas e ferramentas em mãos, dizendo frases de morte ao assassino! Ele fica muito assustado, pois, percebe que o tal assassino à quem o povo enfurecido se refere é ele mesmo e fica tão apavorado que não consegue ter reação alguma, ele começa a suar muito, tenta falar algo, não consegue dizer nada; mas, olha para o rei, e se lembra sobre que havia uma entrevista do homem mais sábio e justo da já existiu; por isso, ele olha no fundo dos olhos do monarca e não consegue dizer nada ainda, com palavras, nesse instante, então, apenas com o olhar, ele suplíca ao sábio ao seu lado: “Por favor, ajude-me?”.

E o interno ainda diz:

-- Olhem nos olhos do motorista e me contem o que fariam a partir desse ponto; suas respostas vão mostrar, se vocês, seriam bons governantes! Mas, lembrem se que todas as pessoas vão se inspirar em suas atitudes antes de resolverem os problemas públicos, sociais e pessoais: todos terão o rei como referência!

E o interno continua:

-- Digam-me também o que vocês acreditam que irá acontecer com o mundo todo quando todas as pessoas fizerem o que vocês propõem? Quando todos agirem como vocês, como nascerão bons frutos disso? Expliquem para mim… Quero que tenham atitudes realmente sábias e justas, impedindo que mais crianças morram de maneiras semelhantes a essa que acabei de narrar! Quero que vocês criem um perfeito paradigma: exemplo que serva como modelo para todas as pessoas usarem para serem sábios e justos!

A vendedora de hot dog olha para as pessoas que estão ao seu lado e responde em seguida, sem vacilar, convicta de sua sabedoria e justiça:

-- Mandaria matar ele, com certeza, imediatamente! Porque, com toda certeza, ele é um assassino frio, calculista e cruel!

Quando ela diz isso, se imagina na frente do " criminoso " , se imagina portando um fuzil de guerra eliminando o seu desafeto; e ela continua dando a sua resposta:

-- Assim, todas as pessoas tomariam muito mais cuidado quando fosse dirigir! Agindo assim, como eu agiria, tenho a certeza de que nenhuma criança inocente iria morrer em circunstâncias semelhantes a essa. Como vocês podem ver, as pessoas pensariam muito bem antes de entrar em um carro e correr igualmente fazem os irresponsáveis e os loucos. Acredito que agindo assim, teríamos um bom exemplo, e todos o seguiriam! E eu seria reconhecida como a mulher que consertou o mundo, e todos me seriam muito gratos, e me fariam muitas homenagens, e muitas honrarias merecidíssimas… E eu, seria a embaixadora e protetora mundial das crianças, e todas elas iriam me adorar. E meus pais iriam se orgulhar de mim.

Ela disse todos esses absurdos, com lágrimas nos olhos se imagianando na presença de seus pais, e olha para o lado para conferir se todos em volta, estão anotando a sua resposta para aprender e começar a praticar. Mas, ninguém lhe deu crédito; e ela disse em voz baixa consigo mesma que todos são ignorantes demais para entender o que ensinou, e a infeliz concorda com ela mesma e se contenta por ser tão sábia a ponto de ninguém alcansar a sua mente.

Agora é a vez do rapaz magricela que, com uma demonstração no rosto de reprovação à resposta da ambulante, então, articula, com os olhos esbugalhados, igualmente a vendedora, convicto de si mesmo, e diz:

-- Não concordo, se ele fosse morto assim não iria sofrer nada e, morrer seria um alívio, seria um grande prêmio para esse crime gravíssimo desse assassimo; então, seria melhor, fazer como sempre o meu pai diz, em casos parecidos com esse, o certo é: prender e mandar dar boas surras todos os dias: uma pela manhã, uma à tarde e uma à noite; pegaríamos uma navalha todos os dias, e vamos cortar alguns pedacinhos do seu corpo para que pagasse o castigo por beber e dirigir dessa maneira, porque, com certeza: está totalmente alcoolizado! E tem um agravante nesse crime: ele não deu chance de defesa para as vítimas!

Quando ele diz isso faz gestos como que pegando a cabeça do motorista e lhe cortando o pescoço de tanto ódio do acusado; e ele continua a falar:

-- Agindo assim, duvido que algum dia alguém assassine outras criancinhas! Sabe, estou revoltado só de pensar nisso! Alguém já deveria ter tomado essa atitude há muito tempo, pois, se assim fosse feito o mundo estaria mais seguro para as crianças! Acredito que mesmo uma punição com tortura para esse criminoso ainda é muito pouco! Estou tão revoltado, imagino se fosse meus filhos: arrancaria o coração dele com minhas próprias mãos!

A dona-de-casa mal-humorada faz uma expressão discordando imensamente do que o rapaz disse e com a voz bem alta quase gritando, diz:

-- Acredito que o certo seria que ele pagasse uma indenização muito alta para a família das crianças… Veja bem o porque digo isso, essas coisas são do jeito que minha querida mamãe sempre diz: que, quando dói no bolso as pessoas pensam bem melhor… É claro que isso não iria trazer as crianças de volta, mas, amenizaria a dor da família que amava muito os seus pequenos. Mas, seria um consolo, pois, poderia pagar um novo tratamento para que seus pais possam tentar uma nova gravidez e ter outro filho e trazer a alegria de volta ao lar deles, pois, estão sofrendo muito por causa deste assassino sanguinário.

Quando ela diz isso imagina estar cara a cara com o acusado contemplando ele assinar um cheque de milhões e ela sorri bastante satisfeita e diz:

-- Não acho justo esse motorista interromper o sonho alheio. Acredito que tirando esse dinheiro dele isso o faria refletir melhor! É claro que isso iria ser um exemplo a ser seguido por todos… E o mundo seria um lugar mais seguro para as crianças, graças a mim!

Quando ela termina de falar isso faz um gesto esperando aplausos pelo seu discurso que acredita ser revolucionário e exemplar. Mas, ninguém a aplaude e ela fica séria e decepcionada e se cala.

O homem que está acima do peso, muito empolgado para dar o seu parecer: agora é de " fome de justiça” que está, então, ele, olha para o interno que nesse momento coloca a cabeça de volta para dentro do buraco do Hospício, e finalmente o homem que está acima do peso articula o seu pensamento, e diz:

-- Faria bem diferente, ou seja, o certo de verdade a ser feito é como o meu pai me fala desde quando eu era um menininho, seria melhor mandar esse homem assassino prestar, sem remuneração, serviços, eternamente, à sociedade… Teria que trabalhar duro para pagar por seu crime horroroso demais, pela perda e dor que causou a essa família e à sociedade… Talvez, agindo assim, a sua consciência iria atormentar ele para sempre, e nunca mais mataria alguém! Todas as pessoas iriam seguir esse meu exemplo maravilhoso e nenhuma única criança morreria dessa maneira, nunca mais! Não acho justo mandar esse assassino para a cadeia onde este comeria à custa das pessoas que pagam impostos altíssimos!

Quando ele diz isso se imagina vendo de longe o acusado trabalhando quinze horas por dia, seis dias por semana numa prisão. E o homem abre os olhos e continua a explicar a sua resposta:

-- Tem é que pagar pelo seu crime com trabalho… Muito trabalho mesmo! Acredito que agindo assim seria o melhor exemplo que poderíamos dar ao mundo todo! Mas, é uma pena eu não ser o governador também fora desse simulador, senão consertaria esse país decadente e seria um exemplo para todos e com essa atitude as crianças estariam bem protegidas… E agora sim vocês tem um bom motivo para me aplaudir, sou um verdadeiro herói. Sou um sábio, igual ao meu pai!

Parece que o homem que está acima do peso, do mesmo modo que os outros que responderam ao teste, quer ser aplaudido quando termina de falar. Mas, igualmente aos demais, também não ganha aplausos, pois, cada qual acredita que deu a melhor resposta e se sentem injustiçados.

Depois de ouvir a totalidade das respostas, o interno, para a revolta geral, diz:

-- Vocês acreditam que são sábios e justos, que fariam bem à sociedade e que seriam bons paradigmas de justiça; melhorando muito o mundo? E ainda sonham em ser copiados? Buscam as glórias mundiais? Porém, vocês, todos, sem exceção, de acordo com os resultados rigorosos e infalíveis dos testes, foram diagnosticadas como pessoas muito injustas e muito pouco sábias… Com vocês no poder, com suas atitudes tolas julgaram erroneamente, vocês piorariam muito o mundo… As crianças continuariam a morrer de maneiras lamentáveis em seus governos e nos governos de seus seguidores. Vocês não ajudaram em nada as criancinhas inocentes… Todos vocês entrariam para a história como déspotas ou como simples tolos. Vocês todos agiram exatamente como fazem os típicos tolos: deram muita importância para o que vocês " acham "... Mas, não se preocupem, isso é muito comum aos tolos: julgarem sempre se baseando apenas na aparência, e se comovendo demasiadamente com as mortes de inocentes como o ponto central para dar a sentença… Então, por isso, eu não esperava coisa diferente de vocês, pois, não pode uma árvore boa dar maus frutos; nem uma árvore ruim dar frutos bons. Toda a árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo. Portanto, pelos seus frutos serão reconhecidos.

A vendedora de hot dog olha revoltada para as pessoas que estão no ponto de ônibus, e com um tom de ironia, acreditando que não obteria uma resposta melhor do que a dela, pergunta:

-- Então se coloque no lugar do rei, vossa majestade, e nos mostre o que um rei verdadeiramente sábio e justo faria nesse caso… Pode nos dizer?

Ela diz isso e começa a rir sem parar e todas as pessoas a acompanham na sua alegria; mas, o interno a responde assim:

-- O rei verdadeiramente sábio dessa história faz o seguinte: quando ele olha para o motorista e vê que ele está tonto e confuso lhe pergunta:

-- Meu amigo, você está bem?

O motorista balança a cabeça acenando que está bem.

-- Você sabe quem sou eu?

O acusado outra vez acena a cabeça afirmativamente.

O rei coloca sua mão direita em frente aos olhos do motorista com dois dedos levantados: o indicador e o médio e os demais todos abaixados fazendo o sinal do " V da vitória " e lhe pergunta:

-- Quantos dedos você consegue ver aqui?

O motorista lhe responde prontamente:

-- Cinco …

O povo quando ouve a resposta dele se enfurece acreditando que esse " cretino " não poderia zombar do rei depois de matar as crianças.

O povo acredita que a resposta é outra e grita em em uma só voz:

-- " Dois dedos! Dois dedos! “.

Mas o rei disse que o motorista acertou a resposta e viu que o acusado está em condições de falar, pois, era essa resposta mesma que o monarca queria, pois, precisava se certificar de como está a capacidade dele em raciocinar.

O povo entendeu como se a pergunta do rei fosse " quantos dedos levantados você consegue ver aqui? ", mas, não havia a palavra " levantados " na pergunta e sim " quantos dedos consegue ver " .

O rei para ter certeza que o motorista está realmente bem lhe faz outra pergunta:

-- Se eu lhe desse, dez laranjas e você as levasse para a casa de sua mãe e dissesse a ela que dividiria em quantidades iguais e depois da partilha você se lembrasse que ela te fez um favor ontem e para demonstrar o quanto você lhe é grato cortasse então uma das suas laranjas ao meio e desse a ela uma das metades, quantas laranjas ela iria ter a mais do que você? Você entendeu a pergunta? Se entendeu me responda imediatamente…

-- Uma laranja inteira, majestade …

Quando o motorista responde isso o povo faz um pequeno tumulto e querem matar o motorista pela falta de respeito com a qual ele fala com o monarca.

Mas o rei diz:

-- Ele, novamente, acertou a resposta e se mostra capaz de conversar e de explicar o que aconteceu, e é capaz de dar a versão dele dos fatos.

Quando o rei diz isso o povo fica incrédulo.

O assistente do repórter da televisão famosa questiona o rei:

-- Majestade, se ele deu apenas meia laranja, com certeza, só poderia ter meia laranja a mais; por que o senhor está acobertando esse assassino?

E o monarca diz:

-- Só estou vendo se esse homem, esse cidadão é capaz de pensar corretamente e se está bem.

Nisso o assistente diz ao rei:

-- Mas, agora, o senhor, vê que ele não tem noção da realidade, não é mesmo? Ele está debochando do senhor, majestade, ele quer morrer…

O rei responde a ele:

-- Pelo contrário, ele parece que está bem e entende muito bem a realidade, ele respondeu corretamente aos testes… Não é um deboche, ele só está me mostrando que está bem… Eu vou fazer a mesma pergunta para você, mas, de uma maneira mais fácil de ser percebida a resposta: se eu lhe desse uma única laranja e você a levasse para a casa de sua mãe e a dissesse que dividiria em quantidades iguais com ela e depois da partilha você se lembrasse que ela te fez um favor ontem e para demonstrar o quanto você lhe é grato, desse a ela a metade da sua laranja, quantas laranjas ela iria ter a mais do que você?

O assistente do repórter da televisão famosa responde prontamente ao rei:

-- Uma laranja, majestade.

E o rei pergunta a ele:

-- Entendeu agora como ele está certo?

O assistente do repórter diz ao rei:

-- Sei que eu estou certo de que é uma laranja na minha resposta, mas, na resposta dele sei que está errado, pois, é só meia laranja.

O rei explica:

-- Mas, como pode ser isso? Nos dois casos a pessoa deu meia laranja e a outra pessoa recebeu meia laranja por isso sempre que alguém der meia laranja a pessoa que receber terá uma laranja a mais do que quem a deu.

O assistente diz ao rei:

-- Eu acho que isso só funciona quando tem uma laranja só.

Quando o assistente diz isso o povo todo concorda com ele.

O rei diz:

-- Vocês têm que fazer duas contas simultaneamente, calcular o que uma pessoa ganhou e o que a outra perdeu, uma perdeu meia a outra ganhou meia, meia com meia da, uma.

o assistente insiste:

-- Mas, como é isso, a mesma meia laranja? Como a mesma meia laranja pode ser considerada perdida e ganha ao mesmo tempo?

O rei sempre com boa vontade explica:

-- Ela é ganha e perdida por pessoas diferentes ao mesmo tempo. Quando um ganha outro perde. Soma-se a perda e o ganho…

O povo balançava a cabeça, incrédulo, o rei diz:

-- Olha gente, cada um tinha cinco, quem deu meia ficou com quatro e meia, quem recebeu ficou com cinco e meia, cinco e meia menos quatro e meia o resultado é uma, uma laranja inteira.

Nisso o repórter atento entende e aplaude o rei. E todos, mesmo não entendendo muito bem, aplaudem assim mesmo, não querem se passar por tolos.

Então o rei dá uma bronca no povo:

-- Olha só, eu conseguiria fazer esses testes em um minuto apenas se vocês não me interrompesse a cada instante com tolices, me fizeram perder tempo… Calem-se todos…

O monarca disse isso e depois volta-se para o motorista e diz:

-- Então você está realmente bem? Sabe o que está acontecendo aqui? Sabe que essas crianças foram mortas pelo carro dirigido por você; carro esse que veio em alta velocidade? O que tem a dizer em sua defesa?

O motorista, apenas acena com a cabeça para dizer que sim, está bem, e dá outros acenos para dizer sim para todas as outras perguntas.

O rei pede que tragam água ao motorista.

Mas quando o rei fez aquelas perguntas ao motorista algumas pessoas ao seu lado o questionam:

-- Vossa majestade, ele vai ficar bem mesmo quando estiver morto! Bem morto! Não sabemos o porque o senhor quer dar água para alguém que já vai morrer. Ele vai ficar “bem”, igualzinho as crianças que ele as matou covardemente! Queremos matá-lo! Vivo, ele não vai sair daqui, não, nunca!

O sábio monarca diz ao povo:

-- O que aconteceu aqui,, neste momento,, com essas pobres crianças e esse infeliz motorista, pode ser considerado com uma vacina para curar essa deficiência que causou essas mortes, se nós aprendermos com tudo isso que aconteceu, será, sim uma vacina, muito poderosa… Vou dar água para esse homem, sim, pois, precisamos escutá-lo… O erro dele pode ajudar a todos nós a sermos melhores que somos… Ao escutarmos com atenção e respeito quando nos contar o que fez ele cometer esse erro, todos nós estaremos imunizados com a sua experiência… E nunca mais algo semelhante ocorrerá novamente, e nenhuma criança mais morrerá em situações semelhantes a essa… Então temos que escutar o seu depoimento e nunca mais nos esquecermos de tudo isso… Quando terminar de explicar tudo, nós consertaremos todos os detalhes, pormenores, que ajudaram ele a *érrár… E depois, em posse dessas informações todas, vamos aplicar uma pena justa que lhe couber… E todos nós nos beneficiaremos do conhecimento, sem precisar passar por uma punição como vai acontecer com esse motorista…

O povo que está ali perto não gosta de ouvir o que o rei disse, e ele, nesse momento, ordena que os profissionais que irão fazer a remoção dos corpinhos se apressem a começar seus trabalhos; ainda ordena o isolamento completo da área com muitos guardas que acabaram de chegar, e ainda ordena que coloquem alguns tapumes ao redor de tudo e ninguém poderá ver mais as cenas tão tristes, principalmente as crianças e as pessoas mais emotivas. Ele sugere que os seus súditos que fossem para suas casas, e não deixem as crianças ficarem vendo pelas televisões o ocorrido, sugeriu, ainda, para ninguém fazer comentários perto das crianças para pouparem elas de toda essa dor; e ele mandou que todos obedecessem para facilitar os trabalhos; e quase todos atendem, prontamente, a sugestão do poderoso monarca.

O rei avisa que irá levar imediatamente o motorista para conversar com ele em particular em um ambiente bem mais apropriado e indicado para um caso dessa gravidade toda.

E nesse momento o mesmo repórter que havia sugerido ao rei que julgasse o caso ao vivo para ensinar o mundo todo; novamente implora ao rei que considere a oportunidade de continuar ali mesmo o julgamento a fim de dar andamento os ensinamentos para as pessoas de todo o mundo; e, ele ainda usa a expressão em nome do BEM MAIOR, "alteza; com todo o respeito que essa situação que o luto merece, espero que o senhor entenda e atenda o meu pedido “.

E o repórter diz que ele mesmo vai explicar a questão ao motorista ver se ele entende a importância da questão e depois irá consultá-lo sobre se ele pode participar do evento.

Depois de tudo explicado a ele, o rei pergunta ao motorista:

--Você se sente capaz de responder isso agora? Ou prefere aguardar o julgamento em um lugar tranquilo e apropriado? Mas, se você aceitar eu mesmo serei o seu advogado…

Nisso se percebe que quase duzentas pessoas não autorizadas ainda estão ali por perto, misturadas entre os jornalistas do mundo todo e outras pessoas que os acompanham, pois, se ouve os súditos dizendo:

-- Morte! Morte!

O rei olha para as pessoas que disseram isso e diz:

-- Não se manifestem! Deixem-me, pois, sei o que estou fazendo… Não atrapalhem a pessoa do rei quando ele estiver em investigação real para algo tão relevante!

Nesse momento já prepararam um local ao ar livre ao lado, fora da área do acidente e com apenas cento e trinta passos todos já estão lá.

E o rei tranquilamente pergunta:

-- Você pode mesmo me responder a todas as perguntas que eu lhe fiz há pouco? Você entende todo esse evento, que o mundo todo está vendo pelas televisões?

Nesse momento o rei olha para o motorista e nota que os olhos dele se encheram de lágrimas, e quase as vertendo, pois, está muito emocionado, e mesmo assim consegue dizer:

-- Sim, vossa majestade, estou bem… Sim, se o senhor estiver querendo saber se estou bem no sentido de estar consciente e sem dor física… E sei sim, agora, o que aconteceu… E não preciso ir para outro lugar se o senhor puder garantir minha segurança… Eu colaboro com o senhor nessa questão de educar o povo e me usar nesse processo… É o mínimo que eu posso fazer depois do que aconteceu aqui com essas crianças e toda essa dor envolvida. Então eu ajudo nesse evento sim… Porque se o senhor for o meu advogado para mim é melhor mesmo; nunca eu iria poder pagar alguém como o senhor, então, para mim, é vantajoso aceitar a sua proposta ... É uma chance muito grande de eu provar a minha inocência, pois, o senhor é muito sábio e justo, eu vi isso na televisão...

Nesse instante, o povo começa a praguejar contra o motorista, mas, o rei vendo, que ele ainda está com receio de ser linchado, então dá ordens para o povo não se manifestar e todos obedecem prontamente e ele pergunta ao motorista:

-- Poderia me dizer por que estava correndo tanto com esse super automóvel? Você se sente capaz de me explicar ou não? Tem condição de fazer isso, ou não? Pois, só é justo se você estiver em condições de falar a verdade, somente a verdade, para o bem da justiça.

O rei quis saber se ele fazia uso de bebidas alcoólicas, se usava remédio forte, se usava drogas ilícitas ou se ele tinha problemas mentais; e o motorista disse que não para todas essas perguntas.

Parece que o rei quer saber o que causou o acidente para poder dar a punição exata para o seu crime.

O monarca, queria saber se o motorista corria por negligência, por loucura, ou se o carro teve algum problema mecânico ou elétrico em alguma parte e teve uma aceleração involuntária por um desses ou por outro motivo misterioso. O rei não conseguia imaginar que alguém, em seu juízo normal e sem a influência de alguma substância, poderia, deliberadamente, pegar um super carro e sair por aí matando crianças por simplesmente, apenas, divertimento, ou, só por não ter medo de ser punido.

Então o rei pede ao motorista o depoimento dele:

-- Fique calmo, meu amigo! Só me responda o motivo pelo qual estava correndo tanto e ninguém vai fazer nada contra você, só se eu os autorizar… E não pretendo fazer isso…

O motorista agora muito mais calmo diz:

-- Sabe, majestade, quando eu tinha apenas quatro anos de idade e morava no interior deste reino; então: tudo começou quando vim para a cidade grande e vi uma maravilha que me fascinou muito… Era uma maravilha muito grande que eu nunca tinha visto antes, e quando a vi me apaixonei totalmente por ela, ao fim do mesmo instante…

O rei, muito calmo, como sempre, quis entender:

-- E o que seria essa maravilha?

O motorista ainda procurando conseguir mais fôlego e com um estranho brilho nos olhos responde:

-- Era um carro… Um carro muito lindo, quase igual a esse, majestade…

O rei querendo entender direito o que acabou de ouvir:

-- Apaixonou-se por um carro, é isso?

O motorista, novamente, quase não conseguindo conter as lágrimas e enxugando o nariz responde:

-- Sim, majestade, um carro…

O rei suplica-lhe:

– Por favor, faça-me entender isso… Eu lhe perguntei o por que você estava correndo hoje e agora, e você fala sobre quando tinha quatro anos… Você entendeu bem a pergunta?

-- Eu entendi sim, e vou lhe explicar, aliás, é isso que estou fazendo nesse instante. Não sei como explicar exatamente como e nem o porquê isso aconteceu comigo. Mas, quando eu vi aquele carro novinho, fiquei desejando possuir um carro igual… Queria um carro para mim… Queria um carro vermelho, igualzinho àquele que eu vi… Um carro novinho cheirando a um bebê…

O rei perplexo querendo entender essa história sem sentido algum, pergunta:

-- E o que tem a ver isso tudo com o motivo pelo qual estava correndo tanto, tirando a vida de duas crianças inocentes e indefesas?

E ele responde com aquele estranho brilho de encantamento em seu olhar:

-- Vossa majestade… Quando fiquei loucamente fascinado por aquele carro maravilhoso, talvez o meu sonho tenha sido tão grande que influenciou o meu pai também, pois, ele não se esqueceu mais dele; ele gostou tanto do meu sonho que eu tive a impressão que ele gostou mais do meu sonho do que eu mesmo… E logo depois que chegamos em casa, no mesmo dia, eu fui brincar de bola com meus coleguinhas, eu adorava jogar bola, e meu pai me mandou chamar e já me trouxe, muitos cofrinhos, de todos os tipos; tinha de porquinhos, de cavalinhos, de boizinhos e muitos outros… Meu pai, nesse momento, me disse: "que filho maravilhoso que temos, com quatro aninhos de idade apenas e já tem um sonho, com quatro anos já sabe o que quer ", eles tiveram muito orgulho de mim ... E meus pais sempre falavam de mim e do meu sonho para todos os amigos, parentes e conhecidos, esse era o assunto que meus pais mais falavam. Nisso eu ficava mais encantado ainda, meus pais me faziam me sentir muito importante para eles, e com isso me sentia uma pessoa especial e eu era muito feliz. Então, a partir daquele momento, juntava todas e a qualquer moedinha que passaram por minhas mãozinhas, guardava todas, cada uma delas em cofrinhos para comprar o meu carro novinho… Nunca gastei uma moedinha sequer, acredita? Nunca comprei sequer uma balinha para mim, acredita? Pois, esse carro é muito caro… Eu fiz da minha vida uma luta intensa para adquirir muito dinheiro para mim, pois, tinha que ser um carro novinho cheirando a um bebê… Não sei lhe explicar, mas, só um carro assim poderia me fazer feliz… Não poderia mais viver sem um carro igual aquele… Eu já sabia disso mesmo tendo apenas quatro anos de idade, incrível, não é mesmo? Lembro me como se fosse ontem: todo mês meu pai e eu contávamos a todas as moedinhas de cada um dos cofrinhos que tínhamos juntado em casa, antes de depositar no banco, era tão bons esses momentos, com meu pai, ele se orgulhava tanto de mim… Nesses momentos ele me abraçava bem forte e me olhava com tanta admiração e orgulho … Eu jamais iria desistir de comprar esse carro, meu pai iria ficar muito decepcionado comigo…

O rei suplica mais uma vez:

-- Pode ser sucinto, objetivo e explicar com clareza? Diga-me o que aconteceu depois disso? Que relação tem sua infância com o que acabou de fazer a essas crianças?

-- Sim, majestade… Depois que coloquei sozinho esse sonho, esse desejo na minha “cabecinha de menino sonhador”, comecei a juntar moedinha por moedinha para comprar esse carro, porque era um carro muito caro, e ele não é fabricado nesse reino… O problema todo é que tinha que ser um desses.

-- Interessante, -- diz o rei – prossiga:

-- Nos meus aniversários, sempre, eu pedia dinheiro de presente aos meus amiguinhos e parentes, para guardar, juntar e comprar o carro… Meus pais me davam moedas para tudo o que fazia, quando arrumava minha cama, quando levava o lixo para fora, quando eu ficava uma semana sem falar aquelas palavras feias, eu tinha muitas tarefas para fazer o dia todo e todas me rendiam moedas que iam, imediatamente, para os cofrinhos… Eu fazia ainda pequenos trabalhos para os meus vizinhos e para meus amiguinhos… E isso aumentou mais ainda quando eu me tornei um adolescente… Mesmo depois que me casei, mesmo tendo que viver em casa de aluguel, mesmo depois que meu querido filho nasceu continuei economizando tudo que podia e até o que não podia para realizar o meu sonho lindo… Meu filho só usa roupas doadas e brinquedos só emprestados… Eu só deixo minha esposa comprar as coisas mais baratas e as que estão em promoção, nunca passeamos… Tudo em prol do meu carro…

Ouvindo isso o rei coloca a mão no queixo e faz um gesto com a mão para que o motorista continue o seu relato:

-- Majestade, eu trabalhava fazendo horas extras todos os dias até as 23h30min. Trabalhava aos sábados, domingos, feriados e inclusive nas minhas férias. Para realizar o meu desejo, trabalhei muito duro por trinta longos anos… A ansiedade quase me matava… Não via a hora de estar com meu carro novinho cheirando a bebê…

-- Hum!

O rei fica pensativo e anda de um lado para o outro.

-- Sabe, majestade, eu tenho trinta e oito anos; consegui o dinheiro todo há três dias apenas e comprei esse carro… Confesso a todos que nunca passei por esse lugar antes, só hoje, pois, é o aniversário de meu único filho… Um filho que praticamente nem conheço por estar sempre ausente, por estar sempre trabalhando. Na verdade, não conheço muito nem a minha própria mulher… Então, eu estava passando por esse lugar por causa da minha cunhada que mora na rua de cima, ela trabalha perto do meu emprego e me pediu uma carona. Eu a peguei no seu emprego e a levei à sua casa; ela me disse que queria pegar uma lembrancinha que havia comprado para meu filho, o sobrinho dela… Ela disse que iria entrar e sair rapidinho, que demoraria apenas dois “minutinhos”…

Nesse instante o rei faz um gesto com a mão e o motorista pensa que o monarca vai dizer algo, mas, ele permanece calado ouvindo o que o acusado diz:

-- Então, majestade, fiquei dentro do meu carro, motor acelerado e o coração disparado pela emoção, a imaginação " a mil quilômetros por hora " . Fiquei feito um bobo, babando pelo meu carro… Minha cunhada começou a demorar muito, mas, nem me importei, pois, contemplava o meu sonho que acabava de virar uma realidade. Nada poderia me roubar a felicidade que estava sentindo naquele momento… Eu ficava ligando e desligando os botões… Todos! Testava tudinho… Cada botãozinho… Comecei a pensar no tanto que havia trabalhado para conseguir realizar o meu sonho… Fiquei imaginando: finalmente havia conseguido comprar e realizar o meu sonho tão desejado… O único problema é que eu queria o meu carro vermelho e só tinha esse carro amarelo disponível na loja… Mas, por causa da festa, aceitei esse amarelo mesmo ... E também não pude fazer o seguro do meu carro, não deu tempo de fazer…

-- Que pena!

Diz o rei, fazendo um sinal ao motorista para ele continuar:

-- Majestade, durante o tempo em que estive esperando a minha cunhada, fiquei imaginando poder passear com o meu filho, imaginei-me finalmente conhecendo o meu lindo filho, poder brincar com ele, poder ir pescar com ele… Eu prometia para mim mesmo que iria repôr todo o carinho que eu não dei, todo o amor que lhe faltou, todas as roupinhas que eu não lhe dei, passeios que eu não fiz e todos os brinquedos que não lhe dei, todas as brincadeiras que eu deixei de fazer com ele… Imaginava tudo isso… Imaginei uma nova e verdadeira lua de mel com minha mulher, dar a eles tudo que eu os devia há tempos… Eu me imaginava com meu filho e minha esposa fazendo um passeio em um lago, todos dentro do meu belo carro… Depois, imaginei, eu correndo com meu filho, abraçando ele… Nesse momento, eu estava em êxtase, e pensei: “hoje é o primeiro dia do resto da minha longa e feliz vida”… Quando eu estava pensando exatamente em tudo isso, senti um cano bem frio no meu ouvido e ouvi uma voz que dizia:

-- “Fique quietinho aí, tiozinho… Se você se mexer eu te mato… Assalto!”.

Ao ouvir isso o rei fica atento:

-- Nessa hora, majestade, fiquei com muito medo que esse menino que aparentava ter apenas uns dezesseis anos de idade me levasse esse carro… Pensei: meu carro não tem o seguro… Eu não poderia viver sem esse carro… Trabalhei muito tempo por ele, não era justo ficar sem ele… " Se esse ladrãozinho me levar o carro eu teria que trabalhar mais trinta anos para comprar outro "… Minha mulher, com certeza, e eu até entenderia ela, não iria me querer mais se ela tivesse que me esperar por mais todo esse tempo. Prometi a ela que quando eu comprasse o carro ficaria o tempo todo com eles! Meu filho iria estar com trinta e dois anos quando eu comprasse outro… Majestade, por favor, acredite! Ainda, quando imaginava tudo isso em apenas um segundo, veio uma coisa pior em meus pensamentos: “E se esse ladrãozinho me der um tiro agora?”… “Poxa! eu nem conheço o meu filho, nem desfrutei da minha vida… Meu filho vai ficar sem o meu amor de papai? E minha amada mulher, como ela vai ficar? E minha mãe, meu pai, meus parentes e amigos?” Majestade, pensei tantas coisas em fração de segundos!

O motorista se cala por um segundo e olha para o rei e continua:

-- Majestade, quando imaginei que nunca mais iria ver o meu filho e minha família eu… Eu fiquei com muito medo de morrer… Sempre ouço falar que assaltantes matam suas vítimas em casos assim. Majestade, eu pensei " que minha vida seria em vão, pensei daquele momento que a vida é algo sem sentido, que a vida não tem um porquê… Quando pensei nisso tudo, em questão de segundos me desesperei… Acredite, majestade! Eu imaginei o rosto do meu filhinho tão queridinho lá nas nuvens, ele dizia: “Vem me ver, Papai?… Não quero que você morra, Papai… Vem me ver, Papai!”

Nesse momento o motorista olha nos olhos do rei e diz:

-- Nesses segundos eu fiquei terrivelmente apavorado, com muito medo de morrer e ficar sem tudo que tenho! Aquela arma que estava na mão daquele ladrãozinho iria me privar de continuar a minha vida! Minha história! Majestade, eu não queria ficar sem o meu carro que tinha cheirinho de bebê… Não queria morrer… Não queria que tudo acabasse assim! Majestade, naquele instante imaginei ouvir a voz do meu filhinho… Acho que isso estimulou os meus instintos e eu só queria ficar longe daquele revólver! Então, sem que eu percebesse comecei a acelerar… Acelerar e acelerar cada vez mais e mais! Eu não queria morrer… Queria sim ver o meu filhinho… Queria ficar cada vez mais longe daquela arma que poderia me afastar do meu filho e de tudo que planejei para minha vida! Eu estava completamente apavorado! Aquela arma iria me privar de ver o meu filhinho querido inocente!

O motorista enche os pulmões de ar e diz:

-- Majestade, planejei tantas coisas na minha vida! Eu não estava preparado para morrer, eu só me preparei para viver… Eu acelerava a cada vez mais o meu carro e ia de encontro à imagem do meu filhinho lindo que minha mente, minha saudade, meu amor por ele e o meu medo projetou nas nuvens… Meu filhinho amado e lindo que faz aniversário de dois aninhos hoje… Aquela arma iria tirar a vida do papai de uma criancinha inocente… Não é justo que uma criancinha fique sem o seu papai! Majestade, naquele momento não me lembrava mais de estar dentro de um carro, na minha mente eu estava flutuando perto das nuvens, indo ao encontro do meu filho no ar, no alto, longe do revólver, longe da rua, majestade… Não me lembrava que havia ruas no mundo, que ruas têm curvas, e que há crianças inocentes brincando nas curvas das ruas. Majestade, acredite… Eu não conseguia pensar em nada, a não ser em salvar a minha vida e levar os meus abraços até o meu filho e a minha esposa… Abraçar meus pais e meus parentes e amigos… Queria abraçar o meu sonho lindo que havia lutado tanto para ter... Naquele momento, majestade, eu estava entregue ao medo, ao desespero e a um infinito de emoções intensas e contraditórias… Me sentia num abismo sem fim… O medo de morrer estava comigo… A vontade de viver, de ver o meu filho e viver o meu sonho há muito planejado e idealizado…

O motorista toma mais fôlego, e ainda com lágrimas nos olhos diz:

-- E quando acordei vi essas criancinhas, inocentes, sem vida; vi vossa majestade me olhando e todas essas pessoas com aquelas expressões de ódio nos rostos, olhando para mim, querendo me tirar a vida! Chamando-me de assassino e apontando seus enormes dedos indicadores em minha direção… Eu vi apontados para mim muitos dedinhos de criancinhas, algumas delas da idade do meu filho. Essas crianças me xingando, imitando os gestos de seus pais… Até enxadinhas de brinquedos elas tinham em suas pequenas mãos… Tinham também armas de brinquedos e tudo que seus pais faziam ou falavam eles imitavam, até os olhares de ódio em minha direção… Acusando-me também de ser um assassino… E todos… Ameaçando minha integridade física e também a moral…

Nesse instante o rei começa a andar de um lado para o outro sem parar; as câmeras de televisão o seguem em cada movimento seu; e ao fim de um pequeno instante ele pergunta ao motorista que está com uma expressão típica de pessoas que estão profundamente arrependidas do que fizeram:

-- Naquele momento exato, você estava tão apavorado de medo de perder o seu bem maior: a sua preciosa vida, e ainda: o seu filho, a sua esposa, os seus familiares e o seu carro, e foi isso que instintivamente te fez acelerar tanto essa máquina luxuosa, e que, por fim, tirando a vida de duas crianças inocentes?

O motorista olha para o rei e em nova choradeira, diz:

-- Sim, majestade, eu, infelizmente, perdi toda e qualquer noção do que acontecia ao meu redor e principalmente à minha frente, eu nem sabia o que estava fazendo! Nem conseguia pensar nas consequências… Se eu conseguisse imaginar que poderia ter crianças eu… Com certeza...

Nesse instante o povo começa a gritar em em uma só voz.

-- Morte ao assassino das crianças! Morte ao assassino das crianças! Morte ao assassino de crianças! Como ele iria se sentir se alguém matasse o filho dele?

Outros populares dizem:

-- Matou as crianças, nem pensou nelas! Agora chegou a vez dele morrer!

O rei profundamente compreensivo, diz:

--Sim, ele conduziu sim uma máquina maldita, essa máquina maldita que ele conduzia atingiu sim, as crianças, é um fato… Mas, ele não as atingiu deliberadamente… Não creio ser culpa dele… Como vou condenar alguém que cometeu um erro gravíssimo contra a vida de crianças por ter medo de perder o seu bem maior, a sua própria vida? Ter medo de morrer e querer estar com a sua família não pode ser um crime! Quem não foi omisso com a própria vida não pode ser considerado um criminoso… O instinto de proteção à vida e ao seu patrimônio foi ativado nesse caso… Não imagino que alguém em sã consciência possa condenar este homem, se ele estiver realmente falando a verdade. Pelo que eu entendi aqui, me parece que a culpa dele é nula, ou bem próxima disso, pouca culpa… Para mim esse motorista teve um surto…

Quando o rei diz isso, o povo muito compadecido com as crianças mortas, mais uma vez fica incrédulo com a atitude dele e se sentem traídos pelo soberano.

O rei não tem ideia de como proferir uma justa sentença que para culpabilizar, justamente,

alguém por ter cometido esse tipo exato de crime nessas condições improváveis; mas ele não sabe ainda se tudo que o motorista havia dito é realmente verdade; ele precisa de mais informações para fazer uma sentença justa, então, houve um grande silêncio momentâneo, e ele coloca a mão no ombro do acusado e diz:

-- Meu bom homem, como podemos acreditar em tudo que você nos contou? Há um modo de evidenciar o que disse? Pode nos convencer disso? Se puder, pode começar, seremos todos seus ouvintes atentos… Mas, cuidado para não cair em contradição! Fale somente a verdade, seja ela qual for e me terá como um amigo, estarei com você, e eu serei o seu advogado… Mas, se você mentir ou tentar me enganar acabará por inflamar esse povo e se você tentar me enganar eu e você seremos inimigos e se eu fosse você eu não iria querer ser inimigo de um rei que tentou enganar, então, não minta para mim. Aconselho a dizer a verdade, somente a verdade… Nada a além da pura verdade… Senão, tudo o que disser poderá ser usado para te condenar! Poderá responder severamente pelo que você disser, mas, também poderá se explicar e você só vai pagar por exatamente tudo o que fez e nada à, além disso, e nada à menos também, vamos fazer a justiça; ainda você pode ser considerado totalmente inocente… Só depende de você. Não precisa dissimular nem contar a história de outro jeito achando que eu não vou entender, conta como se você estivesse falando para você mesmo diante de um espelho. Nunca minta para mim, senão eu faço uma lei e coloco o seu nome nela e essa lei vai castigar severamente quem mentir para mim sem razão alguma… Vou fazer uma lei que quando o acusado já falar a verdade logo de *inicío vou diminuir a pena em um sexto, e vou aumentar a pena para o dobro, para quem mentir e eu descobrir.

O motorista parece estar mais calmo, o rei parece acreditar na inocência dele, mas, quer ter a certeza e o acusado diz:

-- Majestade, sim, eu confio, entendo, acredito, acho justo o que o senhor está propondo… Olha, eu vim com a minha cunhada, ela mora…

Quando o motorista diz isso, aponta para o alto da ladeira com o dedo indicador, e nisso se ouve um grito no alto da ladeira interrompendo a sua resposta.

-- Cunhado! Meu Cunhado! O que está acontecendo? Eu demorei um pouquinho… Resolvi tomar um banho rapidinho e trocar de roupas, mas, até escolher qual… Você, sabe como é, sou uma mulher! Mas, me diga logo, o que aconteceu?

Perguntou, aflita, a cunhada do acusado:

Todos percebem que a mulher trazia em suas mãos um pacote muito grande, embrulhado num papel de presente; o rei percebe que essa parte da história do motorista pode realmente ser verdadeira e ele quer confirmar e pergunta a cunhada:

-- Você estava com esse homem há pouco e ele te deixou em sua casa e estava te esperando?

-- Sim, majestade, é o aniversário do filho dele, o meu sobrinho lindo, ele faz dois aninhos hoje… Há uma festa nos esperando nesse momento sim senhor, alteza…

O rei faz um resumo do que aconteceu e do que motorista lhe falou. E ao fim de um instante pediu para que a cunhada do motorista lhe confirme ou não a sua explicação e ela confirma dizendo:

-- Sim, majestade, tudo que ele falou é verdade… Ele queria mesmo esse carro maldito. Olha para o meu cunhado, majestade, ele é todo pálido, acho que nunca pegou um único raio de Sol, nem mesmo na face; majestade, eu lhe pergunto se esse infeliz não parece um zumbi? Ele só trabalha e trabalha; minha irmã, por muitas vezes, até ameaçou se separar dele por conta dessa obsessão maldita pelo carro que cheira a bebê. Minha irmã quando falava em separação por viver como uma mendiga por causa disso o meu cunhado entrava em desespero e ela ficava sem saber o que fazer e não se separava dele: ela queria evitar uma tragédia, afinal ele é o pai do filho dela… Quando nosso reino tinha inflação alta ou quando tinha a desvalorização da nossa moeda esse carro ficava mais longe dele e ele ficava cada vez mais sobre pressão, da minha irmã, dos pais dele, dos amigos, por isso que ele tem essa cor de zumbi. O meu cunhado também tinha síndrome de pânico quando era uma criança… Veja o rosto dele, é cheio de cicatrizes porque ele, quando ele era apenas um menininho, tinha medo do “bicho-papão”… Quando sonhava que esse bicho iria pegá-lo, saía correndo feito um tonto no escuro de seu quarto batendo a cabeça e o rosto em tudo que estava à sua frente, por isso fez vários ferimentos horríveis na face toda… Olha o rosto dele, majestade… Mas, quando ele fez onze anos parou de acreditar nisso, pois, ter medo do bicho-papão pegar e matar é coisa de criancinha, depois disso ele nunca mais sonhou com esse bicho… Nunca mais teve medo de perder a sua vida… Acho que só hoje ele realmente teve outro grande medo de perder a sua vida… Talvez isso explique a sua disparada com esse carro maldito, atropelando e matando esses inocentes… Pobres crianças e infeliz do meu cunhado! Pobre e desgraçada da minha irmã, eu que apresentei ele para ela, me sinto culpada… Ele teve um surto, majestade?

A cunhada do motorista diz isso e derrama uma lágrima pelas crianças mortas e pelo seu cunhado e quando tudo isso foi dito do motorista, se aproxima um homem que segurava uma sacola de compras e com indignação diz ao rei:

-- Desculpe-me, majestade, mas, acho que da distância de onde estava o carro até aqui dava muito bem para esse homem se lembrar que estava em um carro, e que carros não voam... Dava sim para ele se lembrar também que havia ruas… E que carros andam em ruas… E que poderia ter alguém nas ruas e, é claro, parar o carro e evitar as mortes dessas crianças inocentes! Ele é culpado, muito culpado! O único culpado! Se esse assassino tivesse se espelhado em mim, que faço tudo certo isso não teria acontecido…

Nisso o povo levanta suas armas: paus, pedras e ferramentas para matar o motorista dizendo:

-- É, esse homem está certo! Totalmente certo!

O rei pergunta ao homem da sacola de compras:

-- Meu bom homem, você é profissional da área da mente humana? É psicólogo, psiquiatra, filósofo ou o quê? Qual é o seu campo de atuação?

O homem da sacola de compras o responde morrendo de vergonha:

-- Não, majestade, eu sou um simples pedreiro, não tenho nem " leitura " . Não sei ler nem escrever, mas, acho que esse homem está mentindo e deve ser punido! Ele deve ser condenado a morte, com certeza! Olha para essas criancinhas inocentes mortas e caia na real, majestade!

Com o semblante apresentando muito incômodo o rei olha primeiro para o pedreiro depois para o povo e diz:

-- Esse homem aqui não sabe o que diz, não tem competência para opinar objetivamente… Acha que devemos matar uma pessoa só porque acredita ter, não se sabe baseado em quê, uma culpa sem fundamento. É um tolo que com uma boa intenção queria ajudar… Coitado dele, este não passa de um pobre infeliz palpiteiro que julga apenas pela aparência dos acontecimentos… Por acaso, aqui tem alguém que realmente acredita que uma pessoa é capaz de pegar um carro super caro e, pelo simples gosto de matar, sair por aí a fim de matar criancinhas que estão inocentemente brincando desprotegidamente?

Quando o rei diz e isso uma mulher de laços no cabelo se aproxima e diz com uma voz muito doce e suave:

-- Mas, majestade, o senhor não acha que esse motorista deveria, ao invés de ficar trabalhando tanto para conseguir esse carro muito caro, comprar um carro usado? E porque não um carro popular igual o meu? Agindo assim ele viveria ao lado de sua família, veria seu filho crescer, assim como eu vejo o meu… Tenho certeza absoluta que essa atitude dele causou as mortes das crianças. Acredito convictamente que ele foi muito mesquinho, egoísta e tolo. Se o senhor quer saber a minha opinião, desculpe-me, pela minha intromissão… Mas, acredito sim que ninguém precisa de tanto luxo para ser feliz! O senhor sabe que esse maldito carro dele custa a equivalente à cinquenta carros igual ao meu? Se esses motorista egoista fosse mais humilde, isso, com certeza, não teria acontecido à essas criancinhas! Afirmo com todas as letras que ele merece um castigo muito severo sim, serviria muito, como exemplo, para as pessoas. Temos que ser humildes, não precisamos de tantos luxos para sermos felizes… A falta de humildade dele matou essas crianças… A ganância dele matou essas crianças… Ele é o único culpado, majestade! Se ele fosse igual a mim essas crianças estariam vivas…

Ao ouvir isso o rei retruca com a mulher de laços no cabelo:

-- Minha linda e doce senhora, queria lhe dizer que concordo sim com tudo o que você me disse a respeito de que ele poderia sim comprar um carro mais barato. Agora, castigá-lo por ele ser mesquinho e querer luxo, isso eu não posso fazer… Isso não me parece um crime… Eu poderia aconselhá-lo.

A mulher de laços no cabelo se revolta com o rei e diz:

-- Mas, Majestade…

-- Mulher… Querer uma coisa cara e trabalhar a vida toda para obtê-la não é um crime… Acho que ele não deveria ser assim. Mas, ele não fez nada contra a lei… Eu, pessoalmente, não gostei do que esse homem fez com a família dele: ele, praticamente, a abandonou… Deveria ficar muito mais presente com a família que ele formou, mas, na cabeça dele, nas suas convicções, ele tinha um plano para reparar tudo de mau que a ausência e a falta de boa atitude dele propiciou. Apesar de não concordar com essa atitude que ele tomou, não posso puni-lo por isso… Acredito que ele não tem culpa de não ser sábio o bastante para perceber isso… Não consigo ver o crime de não ser sábio, se isso fosse crime teríamos que construir uma prisão que coubesse quase todos os habitantes desse reino ou quem sabe se não seria necessário uma que coubesse o mundo todo!

E tendo o rei dito isso aparece uma mulher que se diz amiga da mãe das crianças mortas e diz aos prantos:

-- Majestade… Majestade… Por favor, se coloque no lugar da mãe dessas crianças! Coloque-se no lugar do pai delas e faça o que é justo! Tente entender a dor deles! Veja como eles estão sofrendo! Sinta a dor deles e faça a justiça!

E quando escuta o pedido da amiga da mãe das crianças o rei prontamente lhe responde:

-- Mulher, para sermos justos e sábios não podemos nos pôr no lugar de ninguém: nem da mãe das crianças, nem no lugar dos parentes e amigos do motorista… Pois, seria impossível se assim fosse feito agir imparcialmente e fazermos a justiça plena… Temos que analisar fria e neutramente os fatos e encontrar onde está o erro e fazer com que não aconteça mais… Consertar as falhas… Temos que nos pôr no lugar do acusado para entender o que aconteceu, depois ver se é verdade tudo o que foi dito e agir com justiça...

Nesse momento, então, se aproxima do rei um homem de meia-idade, perfumado, muito bonito, sorridente, bem-vestido, bem barbeado e é bem articulado, olha para as câmeras de televisão e faz uma " cara de cientista " e diz:

-- Majestade, majestade, eu acredito que encontrei a solução perfeita para aplicarmos a esse caso, e, se todos concordarem comigo, com certeza, resolveremos tudo isso da melhor maneira. É só nós pintarmos completamente esse motorista assassino na cor azul, algo semelhante a tatuagem, para ficar para sempre nele… Fazer no corpo inteiro em um tom bem marcante e feio e soltar por aí, e, obrigar ele a viver uma vida normalmente, pensa, majestade na minha sabedoria, se ele estiver pintado assim, quando ele estiver entrando num carro, as pessoas vão gritar " ô, você ai azul, cuidado para não matar mais crianças inocentes, assassino covarde, dirija direito! " E isso vai envergonhar ele de tal forma que ele vai se arrepender do que fez as crianças. E isso irá torturar a sua consciência para sempre… E todas as pessoas que quiserem poderão cuspir na cara, e dar pontapés nele quando quisessem e ele não poderia revidar nunca… E ainda, quando estiver dirigindo: todos os outros motoristas que olharem para ele, vão prestar mais atenção e vão se concentrar mais e vão se conscientizar mais e teremos menos acidentes, e mais vidas serão poupadas. E quando ele estiver em um mercado, por exemplo, as pessoas chamarão a atenção dele apontando o dedo, fazendo comentários e ele vai se envergonhar, e as crianças vão cutucar seus pais na frente dele e lhe vão perguntar " papai, por que esse homem é azul e o pai da criança explicará tudo para ela, e ela vai dizer, " papai, papai, então o senhor não corre com o carro não, senão o rei vai pintar o senhor se você matar crianças, eu não quero ter um pai azul, não, é muito feia essa cor " ; e assim o motorista será punido pela humilhação e pela dor na consciência pelo resto da vida dele. E será bom porque todos que o virem pensarão: " Não vou correr de carro, não quero ser pintado de azul " . E tem mais um detalhe, ele terá que ser obrigado a responder a todos as pessoas que lhe perguntarem o por que ele é azul; e, com isso, majestade, as criancinhas inocentes do mundo todo estarão salvas dessas pessoas! Pense bem, majestade, ainda não vamos ter que gastar um único centavo sequer para bancar ele na prisão… Pense, majestade, no impacto disso tudo, toda a família, os amigos e os conhecidos dele vão sempre lembrar de todo o caso ocorrido… Entende, majestade, todas as pessoas ficarão com tanto medo de passar por isso que o motorista passará que ninguém mais vai matar criança alguma atropelada! E todo esse benefício sem gastar uma moedinha sequer…

O homem disse isso de uma maneira tão eloquente, sem falhas, usando as palavras perfeitamente, usou técnicas de teatro, chorou, olhava para as pessoas de maneira convicta, usava as pausas, teve momentos que ele usou o humor para enfatizar ou neutralizar pontos que lhe interessava e usou também o drama pelo mesmo motivo.

O rei, com muita atenção e cuidado, ouviu cada palavra que esse ser maquiavélico disse, e percebeu que foi usada uma aparência cômica combinada com drama para prender atenção das pessoas, mas, o rei percebe que, o que foi dito por esse homem é apenas uma armadilha psicológica profundamente perversa a fim de manipular as pessoas tolas. O rei percebe ainda o quanto é equivocado esse conceito, há uma falta de lógica, ética, humanismo, sabedoria e justiça nesse discurso maligno. O homem fez parecer que é certo aplicar o que ele disse; e o maligno, consegue encantar a muitos e fez com que quase todas as pessoas que o escutaram concordassem com ele. Ele fez o errado parecer ser o certo. Ainda teve algumas pessoas que acharam que o homem é apenas um inocente poeta ou um artista espirituoso, não viram a maldade em tudo que saiu da boca dele.

Mas, o rei afirma formalmente que o motorista é inocente e não vai punir ele. Ainda diz que mesmo se uma outra pessoa cometesse um crime muito sério, alguém sendo muito negligente, ou se estivesse alcoolizado, ou por algum tipo de tolice qualquer, pegasse um carro, perdesse o controle da direção desse carro e matasse crianças nessas condições, mesmo assim ele, o rei, jamais lhe penitenciaria, dessa maneira, como esse homem perverso o sugeriu. Pois, se uma pessoa passasse por isso tudo que esse homem citou, a pessoa enlouqueceria ou se transformaria em um sociopata ou em um psicopata ou em algo parecido e poderia fazer muito mais mal a sociedade e aconteceria uma grande tragédia. Ninguém aguentaria ser tão punido assim, dessa maneira. Nunca uma única pessoa poderia ser colocada no centro das atenções com objetivo de dar exemplo de tudo que é ruim em uma sociedade, jamais se deve pôr sobre seus ombros todo esse mal. Isso não é certo para nenhum ser humano. Nenhum homem, mesmo por ser um criminoso, deveria ser colocado como um exemplo de castigo desse modo e nem ao menos parecido com isso. Essa atitude é desumana, e o resultado disso não seria nada bom. Se eu fosse obrigado a sentenciar alguém a passar por isso, com certeza, seria melhor que eu o condenasse a morte e essa morte aconteceria quando ele estivesse dormindo, ou melhor, sedado, sem dor alguma. Eu digo mais ainda, se por algum motivo, eu fosse obrigado a ter que aplicar aquela pena desumana, eu me mataria para não ter que aplicá-la, pois, jamais, iria conseguir conviver com essa culpa, morrer seria melhor para mim, minha consciência iria me punir para sempre ou, até, eu enlouquecer.

Quando foi dito tudo isso o pai das crianças mortas surgiu de repente e disse que ele iria matar o filho do motorista também, para quitar a dívida dele. E nisso muitas pessoas apoiaram o que ele falou e disseram que iriam com ele procurar o menino na festa.

O rei explicou ao povo que o menino não tem nada ver com o que aconteceu com os filhos dele e mandou o homem se acalmar e não dizer tolices e ele se acalmou, e foi levado para um canto ali perto por seus amigos.

Um homem barbudo e bem-vestido que saiu do meio da multidão, que aumenta, novamente a cada instante, sugere ao rei.

-- Majestade, majestade, o senhor acha que ele não tem culpa e nós, o povo todo discordamos, então, respeitosamente, eu sugiro que façamos uma votação, vamos escolher assim o que é democraticamente mais justo, pois, a voz do povo é a certeza da razão; então, o que a votação decidir nós vamos aplicar em seguida! Num papel vai estar escrito " morte " e ao lado " inocente " e cada pessoa tem um voto, e o senhor terá " um " voto que vale por " mil " votos porque o senhor é muito importante.

E o rei suspira profundamente depois diz:

-- Eu não acho uma boa ideia… Você, sinceramente, acredita mesmo que o povo consegue avaliar bem o caso e ser justo e fazer bem ao mundo e proteger efetivamente as crianças?

Insistiu o rei ao homem barbudo.

-- Sim, sim, majestade, tenho certeza, como têm muitas pessoas, fica fácil encontrar o que é democraticamente justo! Como o senhor acha possível todo o povo está errado? E só o senhor está certo? O senhor não é nem um pouco democrático… E muito menos modesto...

Disse o barbudo com expressão de vitória no olhar.

-- Não, não! -- Disse o rei. -- O povo não pode julgar exatamente por não ser capaz de julgar com justiça; se o povo recebesse essa incumbência, faria uma grandíssima injustiça! A justiça, não é algo que nasce simplesmente do fato da maioria, tola, escolher um ponto de vista baseado em paixões, e muito menos, em aparências. A justiça, a sabedoria nasce quando nós renunciamos a ignorância e a intolerância dentro de nós e colocamos em seu lugar o que é realmente o correto e o conhecimento verdadeiro: como o amor e a empatia ... E eu já dei a sentença, o motorista é inocente! Vou conversar com ele em particular e aconselhar muito ele. Olha, eu não gosto de carros, e acredito que ele errou muito e trabalhar tanto e ficar longe da sua família; então a pena dele vai ser simples, ele vai, obrigatoriamente, ter que ouvir meus conselhos. Vocês acham que receber conselhos meus é uma coisa fácil? As pessoas odeiam receber os meus conselhos, e depois, ainda, eu " pego muito no pé " dos que recebem os meus conselhos…

Ninguém diz nada e o rei diz:

-- Eu só queria ver se fosse um de vocês que tivessem, por infelicidade ou escolha ruim, por falta de noção ou por falta de entendimento, ter cometido um erro parecido com esse que o motorista cometeu, ou outra falha semelhante ou equivalente à falha dele… E se fosse um dos seus filhos? Se fosse os seus pais ou mães? Se fosse um parente ou amigo de vocês? Se fosse um vizinho ou um conhecido de vocês? Vocês estariam defendendo esses mesmos argumentos e acusações emotivas? Se fosse um de vocês não iriam querer que seus julgadores fossem justos com vocês igual eu estou sendo com esse motorista dando o direito amplo de defesa? Não percebem que todos nós poderíamos está no lugar deste infeliz? Quem nunca cometeu um erro levanta a mão… Esse homem está profundamente arrependido, vocês não percebem isso? Eu entendo sinceramente que, por serem crianças muito novas, isso os comovam intensamente… Entendo verdadeiramente que alguns de vocês conheciam as crianças ou tenham visto alguma vez… E isso os impedem de conseguir ver a coisa como ela é na realidade…

E tendo o rei dito isso todos simplesmente viram as costas para ele e cruzam os braços para trás em sinal de protesto.

Ele não se incomoda com essa atitude do povo e diz:

-- Espero sinceramente que nunca nenhum de vocês ou nenhum dos seus filho ou uma pessoa que vocês amam, cometa um erro desses, e eles sejam julgados por pessoas injustas e vingativas iguais a vocês.

Tendo o rei dito isso a mãe das crianças se aproxima e, desesperadamente, explica ao rei:

-- Mas, majestade, meus filhos morreram e eu continuo sofrendo a dor da ausência deles! Quem vai pagar por isso? De quem é a culpa disso então? Eu só sei que meus filhos morreram e eles eram inocentes; são fatos incontestáveis, não tiveram como se defender! Eu acredito, majestade, que a culpa é toda desse!

Ela disse isso apontando o dedo para o motorista infeliz.

E ela tentando forçar o rei a punir o motorista disse, querendo jogar mais ainda o povo contra o rei diz:

-- Porque se esse assassino frio e calculista, tivesse comprado um carro mais barato, isso não teria acontecido! Pois, ele teria dinheiro para fazer o seguro do carro; então, ele não teria corrido tanto, porque não iria ter o tal do medo. E se ele tivesse comprado esse carro pupular não precisaria trabalhar tanto e ele estaria sempre com o filho dele, e, não sairia correndo para comhecer o filho de dois anos. Talvez, se ele tivesse, um outro tipo de carro, não teria passado por aqui, iria por outro lugar… Sei lá! Porém, se vossa majestade, acha que ele não tem culpa; então, quero que o senhor descubra o culpado, já que o senhor cisma em achar que ele é inocente e bonzinho… Acho até que o senhor vai levar esse monstro para o palácio para cuidar das crianças de lá. Mas, eu quero saber onde está o culpado então? Descubra quem é o culpado e puna ele severamente, pois, acho que deve haver um culpado, ou o senhor não entende assim? Ou o senhor entende que meus filhos são culpados pelas próprias mortes?

Depois de dizer isso tudo, a mãe das crianças chama para perto do rei o pai das crianças e pergunta a ele:

-- Os nossos filhos saíram de casa falando que queriam ser atropelados injustamente? Falaram que os sonhos deles era morrer dessa forma? Você acha que nossos filhos são os culpados pelas próprias mortes? Foi para que fossem mortos ainda quando crianças que a gente resolveu formar uma família feliz?

O pai das crianças responde que " não " para cada pergunta da sua esposa.

-- Então, com certeza, é o motorista que carrega a culpa dessas mortes inocentes!

Ela diz isso e acredita que com essas palavras colocam o rei contra a parede e ele punirá o motorista e ela terá a “justiça feita” e sai de perto do rei acreditando ter a verdadeira justiça.

Nisso todos os olhares vão para o monarca, e, ao fim de um longo minuto, ele começa a andar de um lado para o outro, por alguns instantes novamente. Todos olham para ele e outra vez esperam para ouvir o que ele vai dizer; e logo ele pergunta à mulher que acaba de perder os seus filhos:

-- Você tem toda a razão, seus filhos são inocentes, temos que encontrar o culpado e dar exemplos e punir as más condutas. Porém, primeiro diga-me, mulher… Onde você estava na hora do acidente? Diga-me o que você estava fazendo enquanto seus filhinhos inocentes foram atropelados e mortos por esse carro? O que a senhora estava fazendo, naquele último e exato, momento da vida de seus filhos?

A mãe das crianças, fica branca como a neve, com medo, ao receber do rei essa pergunta inesperada; assusta-se e balbuciando responde:

-- Majestade, eu estava em casa, logicamente, fazendo comida para meus menininhos, ao mesmo tempo, ainda, eu estava estudando um livro de exercícios de língua estrangeira… Faço esse estudo visando me qualificar, pois, quero arrumar um bom emprego, pretendia educar bem os meus filhos. Agora não adianta mais nada, eles estão mortos… E a culpa é toda desse monstro que o senhor insiste em proteger! A culpa é dele, só dele…

Ela aponta o dedo para o nariz do motorista que está sendo consolado por sua cunhada, diz isso e começa a se lamentar muito e a multidão pergunta ao monarca se ele não está vendo as lágrimas que ele causou na mãe das crianças com essa insinuação injusta, e o povo sugere que o rei pare imediatamente de punir a mãe das vítimas com perguntas tolas, e diz ainda, encontre logo o culpado e puna ele.

E o rei dá ordens para o guarda que está ao seu lado:

-- Sabe onde essa mulher mora?

O guarda diz que sim.

-- Então vá ver se tem comida no fogão dela e veja também se encontra algum livro de exercícios de língua estrangeira; e olha ainda como é a casa dela, no geral, faça isso rapidamente e volte logo.

A multidão fica incrédula com a atitude do rei.

Quando o guarda volta e comunica ao rei que não tinha comida alguma, no fogão da casa daquela mulher, só havia comidas industrializadas pouco saudáveis no armário; não encontrei nenhum livro de língua estrangeira, não encontrei um único livro de coisa alguma, não encontrei nem um caderno sequer. Majestade, não sei se isso é importante, mas, a casa dessa mulher é muito suja, cheira mal, e é uma bagunça sem fim, não tem brinquedo algum, nessa casa.

O rei já estava muito desconfiado que a mãe das crianças não os tratava corretamente, convenceu-se disso logo que viu a situação desses inocentes; então, o rei pergunta à multidão:

-- Alguém aqui presente sabe onde esta mulher estava na hora do acidente?

Ninguém se manifesta e o rei diz:

-- Eu digo que se alguém souber onde essa mulher estava e não me contar, darei, então, um castigo muito severo… Vou fazer isso em praça pública… Todos vão saber quem é o omisso! Não descarto a hipótese de amarrar em um poste numa praça, deixar a pessoa nua e dar dez chibatadas nos lombos da pessoa que não ajudar o rei na investigação.

O rei nunca pretendia realmente fazer isso, só se precisasse mesmo, em último caso, ele disse isso só para assustar a pessoa que sabia onde a mãe das crianças estava na hora do acidente; ele quis conseguir influenciar a pessoa a cooperar na questão da investigação real.

Mas, tendo dito isso, em apenas um minuto, uma mulher que tremendo de medo, se apresenta ao rei, e conta:

-- Majestade, majestade, majestade, não precisa me castigar não, eu falo, eu falo, sou a comadre dela… Posso lhe garantir que ela estava no meu portão, como faz sempre, quase todos os dias o dia todo… Ela estava me contando que a vizinha dela chegou ontem de madrugada em casa e veio num táxi, disse que a vizinha entrou na casa dela em um pé e saiu no outro, entrou e saiu rapidinho; a comadre acredita, com certeza, que a vizinha está traindo o marido porque ele trabalha à noite.

O rei pergunta onde está a tal vizinha e passa-se um período curto e quando ela é encontrada o rei a interroga:

-- Você realmente chegou de madrugada ontem? Pode nos dizer o que estava fazendo?

A vizinha da mãe das crianças, em prantos, toda vestida de preto, começou responder falando com a voz embargada fazendo muitíssimas pausas para parar de chorar e conseguir falar:

-- Majestade… Sabe… Minha mãe morava no interior e ela veio ver a mim e a minha irmã que mora em outra parte do reino… Quando ela chegou fomos de imediato para ver a minha irmã a fim de conversarmos todas juntas… Só que, quando estávamos conversando, depois de muito tempo, mamãe começou a passar mal e desmaiou… Ela não voltava a sí… Quando a levamos para o hospital, o médico me perguntou se ela não estava tomando algum medicamento… Mamãe esqueceu a sua bolsa em minha casa… Eu nem pensei que tinha algum remédio dentro da bolsa dela… O médico me deu uma grande bronca por eu não saber de nada sobre isso… Por não saber que minha mãe com idade avançada não teria alguma doença… Majestade, fazia muito tempo que eu não via a minha mamãezinha querida, eu fiquei tão feliz em estar com ela que nem pensei em doenças… O médico, aos gritos, me mandou vir pegar a bolsa dela para saber de alguma pista de como cuidar dela… Foi quando voltei de táxi, de madrugada… Fui pegar a bolsa dela… Entrei em casa num pé e voltei em outro… O motorista do táxi quase atropelou um casal que estava na beira da rua: distraídos… Quando chegamos ao hospital… Nós… Descobrimos que mamãe tinha uma doença muito grave e crônica e nunca havia nos avisado o porque ela não queria nos preocupar… Mamãe sempre foi assim, nunca queria nos preocupar… Mas, foi tarde demais, mamãe faleceu, majestade, não deu tempo…

Depois que a vizinha da mãe das crianças disse isso, o rei diz que sente muito pela perda dela, dá um abraço e pergunta qual é a idade dela. Quando o rei pergunta isso todas as pessoas ficam surpresas com o que eles chamaram de insensibilidade do rei em querer saber uma coisa dessas justamente em um momento que a mulher está tão abalada. A mulher responde que tem quarenta e cinco anos; então, ela saiu da presença do rei e vai chorar a sua tristeza, sozinha, em sua casa.

O rei comunica à mãe das crianças:

-- Acho que a gente já tem um dos culpados das mortes dos seus filhos.

A mãe das crianças pergunta com espanto:

-- Quem, majestade, é a minha vizinha a culpada?

O rei olha para a mãe das crianças e responde-lhe friamente:

-- Você…

As pessoas se enfurecem com o rei; e a mãe das crianças pergunta-lhe nesse instante:

-- Eu? O que eu fiz?

O rei muito decepcionado responde:

-- Você tem a maior parte da culpa, na perda dos próprios filhos, você é a maior dos *cárráscos dos seus próprios filhos…

-- Eu? Você está surtando, majestade? Como eu poderia fazer isso? Eu nem estava perto deles… Nem sabia onde eles estavam… Eu nem os vi o dia todo, os deixei brincando com os filhos de outra vizinha…

Ela pergunta isso incredulamente com a " audácia do rei dizer aquilo para ela " .

-- Por isso mesmo, você nunca estava perto deles…

-- Eu sempre estava com eles, eles são meus filhos, eu os amava… Eu os levava dentro do meu coração…

-- Você mentiu para mim… Você não estava fazendo comida nem estudando língua estrangeira… Você não cuidava dos seus filhos da maneira que deveria cuidar de crianças, ainda mais se tratando, de crianças tão pequenas e indefesas como era o caso dos seus filhos! Você os negligenciava e os maltratava e muito, não tinha cuidado algum com eles… Dá até a impressão que você deliberadamente os entregou a própria sorte, eu digo isso porque isso que você fez nunca ninguém, em sã consciência, faria, de jeito algum!

Ouvindo isso a mãe das crianças fica calada e o rei fala para ela:

-- Você poderia muito bem ter evitado a morte de seus filhos… Você não fez o que uma mãe de verdade faria… Se tivesse cuidado dos seus filhos corretamente isso não teria acontecido… Seus filhos eram muito pequenos e inocentes, eles não tinham como se defender do perigo, eles não sabiam de nada… Você os deixou ficar no fim de uma ladeira muito íngreme e em uma curva extremamente perigosa onde um carro que poderia perder os freios e matar as crianças que estavam aqui sem perceber o perigo; nunca, jamais em hipótese alguma, eles poderiam está neste lugar, e ainda nessa hora da noite…

-- Mas, eu não sabia, eu sou adivinha? Como eu poderia saber dessas coisas?

Pergunta a mãe das crianças mortas, com desdém ao que o rei falou. mas, o rei fala em seguida:

-- Aqui onde as crianças estavam é um lugar muito perigoso, poderia um carro em fuga da polícia, ou um carro desgovernado, ou uma pessoa que tem algum tipo de problema de saúde e dorme ao volante… Ou um bêbado, ou um drogado e ou alguém dirigindo enquanto faz outra coisa se distrai e não consegue dirigir corretamente… Várias possibilidades com carros poderia ocorrer e atingir as suas crianças… Ainda se outra criança ou uma pessoa adulta sem juízo ou por uma idiotice qualquer, jogasse uma coisa redonda que rolasse ladeira abaixo e atingisse seus filhos… Em frente a uma ladeira e com curva não é lugar de crianças brincar; mas, elas não conseguem entender isso; são os pais delas que devem orientá-los e vigiá-las a esse respeito. Você deveria cuidar da vida deles e não da vida das pessoas adultas que sabem o que estão fazendo como é o caso da sua vizinha… Que acabou de me dizer que tem quarenta e cinco anos. Você os matou… Sua negligência os matou… Sua atitude errada os condenou à morte.

A mãe das crianças diz desoladamente ao rei nesse momento:

-- Mas, majestade, que culpa tenho se as pessoas fazem coisas erradas? Se as pessoas dirigem seus carros de maneira errada, tenho culpa? Não tenho culpa por essas coisas acontecerem, tenho? Tenho culpa que esse motorista ficou com medo de morrer e matou os meus filhos? Tenho culpa que existam ladeiras e curvas? Foi eu quem inventou as ruas? Por acaso foi eu quem inventou os carros? Por acaso foi eu que fiz essa ladeira e essa curva perigosa onde todos os moradores sabem já teve muitos acidentes? Eu que mando as pessoas beber, se drogar e fazer toda essa sorte de coisas que o senhor falou? Não tenho culpa de nada! Não tenho culpa se as pessoas não se preocupam com a vida dos outros!

O rei calmamente responde:

-- Culpa das pessoas dirigirem de maneira errada não; mas, você teria que cuidar dos seus filhos corretamente. Já estava na hora deles estarem em casa, terem tomado banho e alimentados. Se você tivesse feito o que deveria, não os teria perdido. Suas crianças não tinham condições de saber onde é o lugar seguro para brincar! Eles não sabiam que horas tinham que tomar banho! Você que os colocou no mundo teria que orientar e zelar por eles, pois, se você sabe que tem muitas coisas erradas no mundo, então, deveria com mais afinco se preocupar com a segurança deles. Olha, mãe, entenda uma coisa muito importante, independentemente da questão se o motorista é inocente ou culpado por vir correndo, se ele estava em seu juízo perfeito ou não, se você tivesse feito o que deveria ser feito em relação aos cuidados das suas crianças, elas estariam vivas, pois, se elas estivessem em casa onde é o lugar correto, e você com elas, onde é o lugar correto, elas não estariam aqui nesse lugar errado, nesse lugar perigoso. Pois, independentemente dos erros do motorista, são os seus erros que mostram a falta de amor as crianças, não a atitude do motorista… Ele nem sabia que seus filhos existiam, mas, você sabia e não zelou por eles em momento algum… Mas quando você errou, mãe, os seus erros aumentaram os holofotes em cima dos erros do motorista. E parecia que ele é o único culpado e a mãe deles, você, não tinha culpa alguma, mas, o motorista com as questões dele, não teria acertado as crianças; ele teria acertado só os pneus usados para proteção… Então, ele, nunca poderia ser acusado de assassinar as crianças, porque elas não deveriam estar ali… Não deveriam estar ali, justamente porque tem essas questões todas de trânsito que nós já falamos sobre… Mãe, você entende que são os pais das crianças que sempre têm a maior responsabilidade com o que acontece com seus filhos? Você entendeu que a saúde e o bem-estar dos filhos dependem fundamentalmente dos cuidados dos pais delas?

A mãe das crianças entra em prantos novamente.

O marido da mãe das crianças a ampara em seus braços e outras pessoas o ajudam.

O rei, depois de cinco minutos, agora sem expressão alguma de reprovação, e com um olhar de carinho e perdão se aproxima da mãe das crianças atropeladas e lhe pergunta:

-- A senhora pode nos contar como foi a sua infância? Eu acredito que o modo como você foi criada e educada a influenciou muito na sua atitude… E muita coisa que aconteceu aqui com os seus filhos têm a ver com a sua infância… E esse desfecho trágico tem muito a ver com o modo que sua infância ocorreu. Me parece que igualmente aconteceu com os pais do motorista, seus pais tem muito a ver com o que aconteceu aqui hoje.

-- Olha, majestade.. Vou te contar uma coisa… Quando eu era criança, meus pais me criaram muito presa, só vivia trancada… Basicamente eu vivia no meu quarto brincando com minhas bonecas e meus amiguinhos imaginários… Meus pais, draumatizados pela morte do meu irmãozinho mais velho do que eu, queriam muito me proteger dos perigos, pois, o meu irmão morreu quando brincava na calçada com os amiguinhos dele; ele, caiu em um buraco e bateu a cabeça. Então, meus pais, tinham muito medo de me perder também; por isso eles não me deixavam ter amiguinhos e não me deixavam fazer muitas coisas, fora do meu quarto… Quando eu era adolescente eu fiz uma promessa para mim mesma e eu a cumpri rigorosamente… Eu disse para mim mesma que quando eu fosse mãe, meus filhos seriam livres, muito livres… Iriam para onde quisessem. Fariam o que quisessem! Acho que as crianças têm que ser livres plenamente… Meus filhinhos iriam ter a liberdade que nunca tive… Por isso que eu os deixei viverem assim, livres… Fazendo o que quisessem… Indo para onde bem entendessem…

O rei olha para a mãe das crianças e uma lágrima escorre do seu rosto e ele diz:

-- Agora eu consigo entender o porque você agiu tão erradamente, na sua cabeça você, nesse caso especificamente, estava querendo que seus filhos não passassem pelo que você passou e lhes deu o passe livre para " a liberdade " .

Nesse instante o rei diz ao povo que está em silêncio e só o observa atentamente e sempre discordando dele, mas, o rei pergunta ao povo:

-- Vamos descobrir mais partes responsáveis por essas mortes desses indefesos… Onde está o pai das crianças?

O pai das crianças se aproxima:

-- Majestade, estou aqui…

O rei dá uma boa olhada de reprovação no pai das crianças e pergunta-lhe, olhando ele nos olhos, diz:

-- Pode me dizer onde você estava na hora em que seus filhos estavam sendo negligenciados pela mãe deles?

O pai das crianças responde-lhe com a voz trêmula:

-- Majestade, estava fazendo horas extras no meu trabalho, pois, queria dar o melhor para os meus filhos…

O pai das crianças diz isso e derrama uma lágrima; e o povo se comove com essa cena. O rei desconfiado de tantos “cuidados” da parte dos responsáveis pelas crianças mortas diz:

-- Eu quero saber se alguém sabe onde esse homem verdadeiramente estava e o que estava realmente fazendo na hora do acidente envolvendo seus filhos. Quero agora, se eu souber que alguém sabe onde ele estava e omitiu essa informação, vou dar o castigo! Vou fazer isso em praça pública… Todos vão saber quem é o omisso. E não se esqueçam sobre as chibatadas na pessoa nua na praça pública.

Quando o rei diz isso se apresenta um homem que usa óculos de aros azul:

-- Majestade! Majestade! Esse homem é o meu melhor amigo, nós estamos sempre em rinhas de galos para fazer apostas, e isso acontece todos os dias: somos viciados em jogos de azar... Ele estava lá comigo e, muitas pessoas que estão aqui presentes, também se encontravam conosco.

O rei ao ouvir isso fica indignado e diz ao pai das crianças mortas, vítimas do atropelamento:

-- Você, igualmente a sua esposa, é um dos maiores responsáveis pelas mortes dessas crianças inocentes, você ajudou nas mortes de seus próprios filhos… Você preferiu deixar seus filhos abandonados à própria sorte para pôr animais para se agredirem influenciados por seus instintos selvagens e por pessoas mais selvagens ainda… Vocês…

Por muito pouco, o rei não dá um grito com raiva do pai das crianças; ele faz muito esforço para se conter. E, nesse instante, veio à sua presença uma mulher de cabelos longos com um laço vermelho amarrado em seu lindo cabelo e pergunta ao monarca, tentando esconder que discorda profundamente dele:

-- Majestade, então me deixe entender uma coisa, por favor? O senhor está dizendo que esse motorista assassino egoista é inocente e que o pai e a mãe dessas crianças são os únicos culpados? Eu acho que isso não é justo. O senhor parece que fez as vítimas serem os culpados e o culpado ser inocente… É isso mesmo que eu entendi?

O rei olha nos olhos da mulher de cabelos longos e responde-lhe:

-- Mulher, eu digo sim que o motorista é inocente, e, eu digo também que os pais são responsáveis por isso que aconteceu com as crianças: sim… Mas, na verdade, digo ainda que eles não são os únicos culpados por isso, digo que, depois que investigarmos, perceberemos que todas as pessoas aqui presentes têm também uma parcela de culpa nessas mortes…

E tendo ouvido isso, "o povo coloca a mão à boca", tampando ela, em sinal de reprovação e de indignação à realeza; e o rei faz uma pausa e, ao fim de um instante, pergunta ao público que não tira os olhos dele:

-- Quero saber quem são as pessoas aqui presentes que viram, hoje, essas crianças sendo negligenciadas, nesse lugar perigoso, pouco antes do acidente?

Quando o rei pergunta isso todas as pessoas respondem que tinham visto essas crianças, hoje, sim.

Como foram muitas as pessoas que relataram que presenciou esse fato o rei, então, pergunta ao povo:

-- Quantos de vocês viram essas crianças nesse lugar em outros dias?

E o povo responde ao monarca:

-- Em muitos dias, vimos muitas vezes, as crianças nesse mesmo lugar… Não era a primeira vez que vimos essas crianças nesse lugar perigoso.

Muitas pessoas disseram que foram muitas às vezes que viram essas crianças até tarde da noite nesse lugar. Muitos relataram ao rei que davam biscoitos constantemente para essas crianças, pois, elas, sempre, estavam com fome. Essas crianças eram desnutridas, disseram outras pessoas.

O rei ouvindo esses relatos, diz com certa fúria olhando para todos:

-- Então, todos vocês têm uma grande parcela de responsabilidade nas mortes desses inocentes… Pois, vocês viram algo muito errado não fizeram nada para ajudar essas crianças vítimas de maus tratos… Vocês foram omissos… Vocês são péssimas pessoas… Eu tenho vergonha de vocês!

Quando o rei diz isso o povo fica muito irritado e, muitas das pessoas o responde que não entendem o motivo pelo qual ele está culpando todas as pessoas se não haviam feito nada contra as crianças.

-- Nem tocamos nesses inocentes… Nem falamos com eles… Só fomos gentis com eles, pois, nós os alimentamos muitas vezes…

E ouvindo isso, indignado, com o povo, o rei diz:

-- Por isso mesmo que vocês têm culpa… Por isso mesmo que vocês têm sangue desses inocentes em suas mãos… Todos viram essas crianças aqui sendo mal cuidadas e abandonadas pelos pais negligentes e não fizeram nada para ajudá-las, vocês não as protegeram, vocês são tímidos? Vocês tem o pior tipo de timidez que existe! São covardes e omissos! Pois, deveriam, com toda a certeza, ter encontrado os pais desses inocentes e tê-los alertado de que as crianças precisavam ser melhor cuidadas e amadas verdadeiramente… Mesmo os que viram essas crianças e não sabiam quem seriam os pais delas, deveriam perguntar às próprias crianças quem seriam os seus pais e ter tomado as providências necessárias que a situação exigia… Deveriam perguntar onde moravam e levado elas para casa delas. Poderiam levá-las para as autoridades. Oras, se vocês tivessem agido assim, com essa conduta empatica, poderiam ter evitado essas mortes; porém, não fizeram nada, se omitiram, se furtaram ao direito de fazer uma boa ação, e de fazer o que é certo e salvar duas criancinhas inocentes. A vossa omissão os tornam parcialmente responsáveis pelas mortes dessas crianças também, ou seja, todos vocês são assassinos igualmente! Sim; essas atitudes de omissão os tornaram co-autores e cúmplices dessas mortes!

Quando o rei diz isso um homem loiro se aproxima dele e pergunta-lhe:

-- Vossa majestade, diga-me uma única coisinha? Por que eu deveria me preocupar com as crianças alheias? Acho que essa obrigação deveria partir dos pais deles, apenas; não é minha obrigação! Eu não tenho a obrigação de ser babá de quem eu nem conheço… Não acho que sou um assassino como acaba de nos sentenciar… Não me considero co-autor e nem cúmplice de nada disso aqui!

O rei ouve atentamente o que o homem loiro diz e responde-lhe:

-- Meu caro cidadão, gostei muito da sua pergunta, mas, antes de lhe responder vou lhe fazer outra pergunta… Você ficou muito triste com a morte dessas criancinhas?

O homem loiro responde-lhe:

-- Sim, majestade, fiquei muito sensibilizado, triste e revoltado e digo-lhe mais o seguinte: se o senhor tivesse demorado mais um segundo para chegar aqui; eu mesmo teria matado esse motorista assassino com as minhas próprias mãos! Essas crianças tinham uma vida inteira pela frente e tudo isso foi interrompido porque esse cretino e seu carro novinho cheirando a um bebê… Acredito que ele deveria ser linchado mesmo! Acho que isso seria o certo… Se o senhor quer saber a minha opinião é isso que eu penso…

O rei responde-lhe que não consegue concordar com a opinião dele e olha para o motorista que está abraçado com a sua cunhada e volta o seu olhar ao homem loiro e lhe faz outra pergunta:

-- Amigo, você acredita, verdadeiramente, que matando esse motorista, se baseando, apenas, e tão-somente, na dor dos pais, e por você ver como estão os pedaços dos corpinhos das vítimas, e por, o motorista ter um carro muito caro, então, por isso, só por esses fatos, seria a melhor coisa a ser feita em nome das crianças inocentes? Porque esse procedimento de matar as pessoas que você julga merecedores de sua atitude selvagem, também não é responsabilidade sua; mas, no entanto, você quer fazer uma vingança com as próprias mãos… Há pouco, você me disse que ficou muito sensibilizado e triste com as mortes desses inocentes… Que, por sua vez, essas mortes, poderia ter sido evitadas, se você ou alguém, que, se dizem tão sensibilizados, com essas crianças, simplesmente, pegasse elas no colo e as tivesse levado para a casa delas, ou as ensinasse a brincar em um lugar seguro, pelo menos isso… Ou ainda, se alguém tivesse chamado a atenção de seus pais, para que elas, fossem bem cuidadas. Se você tivesse feito essa boa ação para esses inocentes, eles estariam agora em casa, brincando ou se alimentando, crescendo para ter um futuro. Eles poderiam viver em paz até morrer de velhice ou de alguma doença, se fosse o caso… Mas, você se omitiu, furtou-se do dever e da oportunidade de fazer esse bem a elas… Teve a oportunidade de fazer algo relevante a elas e não o fez… Você, meu justiceiro, infeliz, acreditando, erroneamente, que conhece o que é a justiça, quer vingar de alguém que não fez uma maldade propositadamente, foi apenas um acidente… Por causa desses comportamentos controversos de vocês: tenho a impressão que vocês nem se importam realmente com as crianças e só querem matar o acusado apenas porque vocês são bárbaros e estão procurando um motivo para pôr para fora essa ânsia de matar que é latente em vocês: selvagens… Vocês são nojentos, ora, quando devem se intrometer para ajudar, na justiça verdadeira, não o fazem, ora, quando não é para se intrometer para não atrapalhar ou fazer injustiça se metem a fazer!

O homem loiro não quer dar razão ao rei, balança a cabeça negativamente e o rei diz:

-- Vocês todos são realmente demasiadamente estranhos… Na ocasião em que foi necessário que interviessem pelos inocentes não o fizeram; ficaram quietos iguais às lesmas, ficaram, sossegados, passivos e sem ânimo… Mas, agora, depois que a omissão e a vossa timidez ceifaram a vida deles resolvem se animar! Mas, agora, que era a hora que deveriam se sossegar para refletir não o fazem! Mas, vocês não querem mesmo refletir… Vocês não ficam sossegados quando é certo ficar… Não fazem perguntas para entender a situação, não fazem considerações para julgar corretamente e aprender com todos os erros, para não haver mais erros no futuro próximo! Por que preferem fazer algo totalmente inadequado? Por que agora quando não devem agem iguais aos leões, agem ativamente e muito animados agora? Não lhes cabe fazer a essa justiça inversa… Todos acham que podem decidir quem deve morrer ou viver, querem ter esse papel, mas, isso vocês não podem fazer! Vocês poderiam ter decidido quem iria viver quando era para ajudar aquelas crianças antes do acidente… Vocês poderiam decidir que as crianças vivessem, mas, não o fizeram… Essa atitude de vocês, condenaram as crianças à morte! Por que vocês só querem fazer coisas que não podem, nem devem? Fico imaginando que força maligna é essa que os motivam a fazer o que é errado, sempre! Fico imaginando todos vocês passando por aqui e vendo esses menininhos sendo mal cuidados e se negando a ajudá-los… No entanto, agora choram e lamentam suas mortes e não se sentem culpados em nada por isso; querem achar um culpado para matá-lo e depois irem dormir sossegados com as consciências limpas, acreditando, erroneamente, que fariam um bem muito grande para essas crianças vítimas da omissão de todos! Saibam que as atitudes de todos vocês ajudaram a matar essas crianças!

O rei suspira e diz:

– Esse motorista com o seu sonho esquisito, com o seu medo compreensível e a sua ignorância enorme fez algo terrível! Sim, concordo que esse motorista é pobre de sabedoria sim… Sei também que se ele não quisesse tanto esse carro com cheirinho artificial de bebê… Não teria atropelado essas crianças, que têm cheirinho de bebê de verdade… Sei também que esse carro pode ser consertado e que essas crianças não vão mais poder ser consertadas… Mas, será que vocês não entendem que ninguém compra um carro novo com o único propósito de sair por aí matando crianças? Se vocês matassem esse motorista seriam assassinos novamente, pois, já mataram essas crianças por omissão!

Outro suspiro do rei e ele continua a explicar:

– Por que todos vocês não fizeram nada quando era possível? Por que querem tanto fazer injustiça agora? Vocês sabem que seus filhos e outras crianças estão vendo isso tudo? Sabem que eles vão achar que isso é o certo a se fazer e vão reproduzir esse comportamento selvagem, sabem, não é mesmo?

Nesse momento o rei ironicamente ri, e depois diz:

– Não, não, vocês não têm noção do que fazem: agora vocês se reuniram; têm em mãos pedras, paus, ferramentas de trabalho e armas de fogo e agem com uma força muito grande, quando é para fazer o que é errado… Unem-se, reúnem-se, dão ideias uns para os outros a fim de fazer a coisa mais errada possível e não têm vergonha de fazer as coisas quando são injustas! Eu nem acreditei, vi algumas cenas incríveis de união e ajuda mútua, alguns homens ajudando outros emprestando instrumentos para afiarem suas enxadas, foices e facões para ajudar machucar melhor o motorista… Outros homens, e mulheres, explicando uns aos outros o melhor modo de espancarem o acusado… A coisa que mais me impressiona, observando vocês é à convicção que há em cada um de vocês! Não há uma gotinha de dúvidas em vocês… Eu me surpreendo como a convicção faz tanto mal na busca da verdade… A dúvida não é ruim na busca da verdade… Ela ajuda e muito…

Nisso um homem muito alto sai do meio da multidão e diz:

-- Eu ouço os corpinhos desses inocentes berrando por vingança! Sangue por sangue! Sangue por sangue! É o que elas berram…

O rei faz uma cara de desolação e diz:

-- Corpos mortos não pedem nada… Eu fico imaginando vocês fazendo a “justiça” em nome das crianças, matando alguém em nome delas sem que elas pedissem… É como se elas fossem mandantes ou cúmplices dessa injustiça que vocês querem realizar achando que farão um bem para elas… Acredito que elas pediram para viver e vocês as impediram disso, vocês todos as privaram do caminho natural: a vida. Vocês nem perceberam que, só em olhar para a situação de abandono que aqueles inocentes se encontravam era como se eles estivessem, berrando, berrando, berrando, pedindo ajuda de qualquer um que as vissem naquele momento… Ninguém as socorreram… Parece que vocês nem percebem que tudo que acontece no mundo inteiro é causado por nós mesmos. É tudo culpa de todas as pessoas… Somos vítimas, somos cúmplices, somos testemunhas, somos autores e co-autores de todos os fatos e eventos que acontecem com todas as pessoas. Tudo, sem exceção, é causado porque nós fazemos ao deixamos de fazer alguma coisa que resultou no produto final das nossas atitudes certas ou erradas, coisas ativas ou passivas… Então todos nós devemos morrer por esse crime desses inocentes! Vocês não percebem que isso tudo que vocês estão fazendo vão influenciar as crianças? Não percebem que estão apresentando a elas um mundo selvagem e elas vão copiar isso tudo? Não percebem que elas vão pensar que é assim que devem agir? Não percebem que elas vão fazer uma sociedade ainda pior do que essa por causa da atitude de vocês? Vocês são selvagens e irresponsáveis… Vocês, meus súditos, me envergonham diante do mundo todo, tenho vergonha de pertencer à mesma raça humana que vocês, pois, não me pareço em nada com vocês…

Nisso uma jovem negra, usando um florido vestido curto, pergunta ao rei:

-- Majestade, todos, sem exceção? Acha mesmo que todos temos culpa nessas mortes e em todos os eventos de todo o planeta? Explica melhor?

A jovem parece ser uma boa pessoa e isso sensibiliza o monarca e ele fica feliz e diz:

-- Sim… Veja bem como são as coisas: esse carro, cheirando a um bebê que estamos vendo aqui… Ele é capaz de correr até a trezentos e vinte quilômetros por hora… Mas, mesmo em uma autoestrada é proíbido correr a mais de cento e vinte quilômetros por hora, não é estranho que carros sejam capazes de correr mais do que o limite permitido por lei? Não é estranho que sejam fabricados carros velozes desse jeito? Não é estranho que as fábricas os fabriquem intensamente? Mas, também não deixa de ser estranho às pessoas não reclamarem e não se manifestarem para que essas máquinas parem de matar as pessoas, você concorda comigo? Pois, todos os pais, mães, filhos, sobrinhos, amigos, conhecidos de todas as pessoas, possivelmente, podem ser atingidos por esses carros, você concorda comigo? É estranho que as pessoas assistam a essas coisas passivamente, que não façam nada para impedir isso! Por que as pessoas têm tanta pressa de ir para os lugares? Por que as pessoas têm essa vaidade de mostrar que tem dinheiro adquirindo essas máquinas mortíferas? Acredito que a pressa das pessoas não justifica as mortes que essas máquinas causam quando dirigidas por imprudentes, bêbados, inconsequentes, pessoas que têm doenças que podem causar acidentes, etc… E sem falar nas mortes causadas pela poluição dos combustíveis. Acho que as pessoas deveriam sim se reunir e se unir para fazer com que essas máquinas nem mais existam, definitivamente. Ou, pelo menos, fazê-las correr no máximo trinta quilômetros por hora. Acho que a essa velocidade seria melhor! Que força maligna é essa que ajuda as pessoas a fazer sempre o que é errado? Que força é essa que impede as pessoas a não perceber essas coisas erradas para poderem consertar? Parece que há uma nuvem sinistra invisível adormecendo o entendimento das pessoas…

Quando o rei diz isso, aparece o garoto que estava querendo assaltar o motorista e o fez disparar com o carro, pois, o garoto o assustou muito e ele acelerou intensamente o carro matando atropelados os inocentes, criando toda essa confusão. Ele veio com alguns amigos. Ele veio se desculpar porque, na verdade, a arma que ele usava era de brinquedo e o assalto era apenas uma espécie de iniciação para ele poder entrar em uma gang de rua. Ele diz que se sente muito mal com o que aconteceu. Diz que não sabia que iria acontecer tanta coisa por causa de uma espécie de brincadeira. O rapaz começa a chorar muito e revela ao rei que o motivo que o levou a aceitar ser um membro dessa gang era o fato de precisar de carinho, de amor e atenção e os seus pais não o dava, pois, seus pais não queriam ter um menino e sim uma menina; por esse motivo, o desprezava. O garoto diz ainda que nessa gang havia vários garotos que também não eram amados pelos pais. Alguns pelo fato dos pais não terem tempo de dar o carinho; outros, porque os pais queriam filhos mais lindos, outros porque os pais não queriam ter filhos, outros porque os filhos têm alguma deficiência física; o garoto conta que os pais dão várias desculpas para não amar os filhos e lhes abandonar, a ponto de que esses jovens, por conta deles mesmo, formarem famílias em gangs.

O rei entende que o garoto era apenas mais um dos culpados por esse acidente ter acontecido e diz:

-- Esse garoto também é uma vítima do que ele mesmo ajudou, sem querer, a causar… Vítima de sua brincadeira sem a menor graça que só causou tantas desgraças. Porém, ele nem precisa de mais punição, a própria consciência desse garoto vai corrigi-lo, ele vai se lembrar disso para sempre. Toda a sociedade tem uma parcela de culpa pelo que esse garoto fez. Os pais do rapaz têm uma parte da culpa por rejeitá-lo, por não saber educar o filho e também por não amá-lo.

O rei diz ainda que os amigos do garoto também tinham uma parcela de culpa por não cuidar dele e por não aconselhar esse rapaz a fazer as coisas que são necessárias corretamente.

O rei disse que as pessoas que sabem que existem armas de brinquedos e não fazem nada para que elas não existam mais, também têm culpa; disse ainda que as pessoas que sabem que existem armas de verdade e também não fazem nada para que elas deixem de existir também têm culpa. Todos somos culpados por essas crianças e por todas as outras que morreram ou foram feridas…

E o rei continua a falar:

-- A sociedade toda se comporta como se ela fosse inimiga mortal das crianças, como se as crianças fossem um estorvo muito grande a ela… A sociedade, a todo o momento, age como se a sua maior preocupação ou seu maior interesse, fosse dificultar a vida dos seus inocentes pequeninos… Tenho a impressão ainda, por causa de como são tratados as crianças que a sociedade quer eliminá-las… Tenho a impressão que a sociedade quer corromper as suas crianças, digo isso por causa dos comportamentos completamente inadequados que as pessoas têm quando estão perto de crianças… Tenho essa impressão ainda por causa dos exemplos que os pais dão as suas inocentes crianças. O fato que mais me surpreende nisso tudo é que: o que a criança tem de melhor é o que mais as condenam… Porque: por elas CONFIAREM em seus pais incondicionalmente: esses inocentes ficam mais suscetíveis a eles e, então, as crianças, deixam os seus pais abusarem deles de diversas maneiras, em diversos sentidos, inclusive, sexualmente… E por causa dessa confiança toda, as crianças são muito suscetíveis e recebem os maus exemplos, e os maus hábitos, que elas, depois, os copiam, acreditando que são corretos e verdadeiros… Mas, mesmo os pais que não são maus e nem que são tolos, mesmo esses, não são capazes de criar e educar corretamente seus filhos…

Quando o rei pára de falar, se escuta apenas um silêncio profundo, mas, depois de um instante o monarca diz:

-- Eu entendo que vocês nem tem culpa de serem assim, vocês agem assim por serem tolos, vocês não tiveram nenhuma oportunidade como eu tive para me tornar um grande filósofo, eu tive muitas oportunidades, muitos bons professores; vocês se comportam exatamente como a educação que receberam a capacitam a ser. Vocês não tiveram bons exemplos na vida para copiar… Vocês não têm culpa, a educação que tiveram só os permitem ser capazes de pensar igualmente a um homem primata… vocês não sabem o que fazem, vocês não têm intelecto para decidirem nada; vocês são completamente inocentes porque nunca tiveram oportunidades de serem melhores do que podem ser; por isso eu desculpo a todos vocês e vou ajudá-los a serem pessoas melhores, vou dar algumas palestras para vocês… Vou reeducá-los, a todos vocês!

O povo se cala ouvindo o rei e ele continua a explicar o que pensa:

Por isso, a partir de hoje, vou criar uma lei que: só vai poder ter filhos quem for capaz de amá-los, quem souber educá-los e os protegerem corretamente. Para ter filhos, agora, os interessados, terão que fazer um curso, no mesmo nível de uma faculdade excelente, depois terá que fazer uma avaliação provando que fizeram esse curso da maneira correta e que estão aptas a serem bons pais, terão que provar que são capazes de cuidar, educar e amar suas crianças de maneira especial. Não quero que mais nenhuma criança seja maltratada por seus pais incompetentes como esses aqui que abandonaram seus filhos a própria sorte e estes morreram atropelados de um jeito tão estúpido! Não vou mais permitir isso, vou proteger todas as crianças… Vou arrumar pais qualificados para as crianças do futuro…

O rei aponta o dedo para os corpos das crianças mortas:

-- Olhem para essas crianças mortas por causa da incompetência de seus pais! Vou fazer esse curso, pois, não quero que crianças cresçam e sejam como esse motorista aqui, desorientado de valores realmente importantes… Não quero que crianças do futuro fiquem juntando moedinhas para comprar um carro tão caro; quero que os pais do futuro sejam capazes de orientar seus filhos, ensinando-lhes valores melhores que esses… Quero pais que quando souberem que seus filhos se apaixonaram por algo tão caro, eles, os pais, os ajudem a entender que essas coisas não trazem felicidade alguma, só trazem desgraças como a que acabamos de ver. Quero que as crianças do futuro não sejam como esse infeliz rapaz com essa arma de brinquedo, que, para se sentir importante no meio de uma sociedade, seja capaz de fazer uma coisa como essa que ele fez; e ele, ter problemas com a consciência para o resto da vida… Vou proteger todas as crianças…

O rei leva a mão ao queixo e diz:

-- Mas, para essa escola que estou planejando,vai ter cursos para preparar as pessoas e todos receberão os ensinamentos sobre como se deve criar um filho, como alimentá-lo, como protegê-lo e outras coisas fundamentais. Mas, só terão permissão de ter filhos quando vocês forem capazes de criá-los sem prejudicá-los… Os postulantes a pais, terão que estar cientes que poderão nascer meninos ou meninas e que nem todos os filhos são tão lindos como eles gostariam que fossem; os interessados terão que provar que os amariam mesmo assim! Não quero que crianças sejam discriminadas ou abandonadas a toda a sorte de coisas ruins causadas pelos próprios pais!

Nisso o tal repórter atento pergunta ao rei:

-- Não acha essa lei muito severa, majestade? E o direito de livre expressão? E o direito das pessoas criarem os seus filhos como acham melhor onde fica? O senhor vai se tornar um ditador?

POETA ISAÍAS AMORIM
Enviado por POETA ISAÍAS AMORIM em 05/10/2009
Reeditado em 27/05/2019
Código do texto: T1849751
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