O poeta de Pasárgada III-parte (O ritmo dissoluto)
Felicidade, liberdade, satisfação assim começa a terceira obra de Manuel Bandeira o Ritmo dissoluto publicado em 1924 considerado pelo próprio autor como obra de transição em sua forma de expressão. Com devassidade a solta feito “Murmúrio d’água”, feito “ Mar bravo”, feito “Sinos de Belém” passeando com os “Meninos carvoeiros” na “Noite morta” da “Rua do sabão” soltando “Balõezinhos” de contentamentos, liberdade em brasa acesa e felicidade mesmo tendo “vontade de se matar”.
“E enquanto a mansa tarde agoniza,
Por entre a névoa fria do mar
Toda a minh’alma foge na brisa
Tenho vontade de me matar!”
(Felicidade)
Em o Ritmo dissoluto Manuel Bandeira surgiu bem mais aguçado ao estilo modernista, audição presente revelando poemas bem mais musicalizados que em carnaval. O que posso falar é que “Meus ouvidos” ouvem apenas o “Mar bravo” de palavras semeadas e balançadas como “Os sinos de Belém” com toda “Graça musical” quando murmuram aos ouvidos “Pela voz dos símbolos” feitos “Gemido” da voz noturna.
“A meiga e triste rapariga
Punha talvez nessa cantiga
A sua dor e mais e mais a dor de sua raça...
Pobre mulher sombria filha da desgraça...”
(Murmúrio D’água)
Saindo de o Murmúrio d’água surge logo depois Mar bravo, bravo como a poesia composta com versos livres metrificados. Surge como liberdade de expressão o poema Mar bravo e Bandeira se intercalam entre as estrofes ele manifestando vontade de ser mar forte em suas ondas, grandioso em sua extensão prosseguindo em outra estrofe dando qualidades ao mar que ele deseja ser.
“Com que amargura mordes a areia
Cuspindo a baba da acre selvagem
No torvelinho de ondas que rugem
Na maré – cheia,
Mar de sargaços e de amarugem!
As minhas cóleras homicidas,
Meus velhos ódios de iconoclasta,
Quedam-se absortas diante da vasta,
Pérfida vaga que tudo arrasta,
Mar que intimidas”
(Mar bravo)
Chega um momento ou determinada data do ano que necessita-se transgredir um pouco a realidade dura que se vive. “Nem só de pão vive o homem” para Manuel Bandeira nem só a morte é inspiração foi o que ele manifestou cantado um natal alegre se refugiando um pouco da melancolia angustiante.
“Sino de Belém, pelos que inda vem!
Sino de Belém bate bem-bem-bem!”
(Os sinos)
Buscou na “Madrigal melancólica” a feição de mulher passou para o leitor a impressão de esta se dirigindo a uma pessoa querida descrevendo a beleza, o carinho, o amor como que por uma mulher.ele passa essa impressão neste poema na forma como se direciona a madrigal e age ate o termino do poema.
“O que eu adoro em ti
Não é a tua beleza
A beleza, é em nos que ela existe.
A beleza é um conceito
E a beleza é triste
Não é triste em si.
Mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza!”
(Madrigal melancólica)
Manuel Bandeira começa a nós revelar sentimentos seus escondidos, sentimentos de vontade, verdade e persuasão. A visão sempre lhe foi parceira agora caminha na mesma direção sem nenhum desvio, fazendo vim a átona pela primeira vez em seu poema a presença de um animal que vive no meio dos humanos, o cachorro melhor amigo do homem que segundo Bandeira parecem “homens de negocio andam sempre preocupados” aborda profundamente a inveja e o ciúme que é uma pedra no sapato de quem ama quando perde o gosto humilde.
“Quando tiveres inveja, quando o ciúme
Crestar os últimos lírios de tua alma desvirginada;
Quando em teus olhos áridos
Estancarem-se as fontes das suaves lagrimas
Em que se amorteceu o pecaminoso lume
De tua inquietude mocidade:”
(Quando perderes o gosto humilde da tristeza)
E eles os meninos carvoeiros que passam a caminho da cidade, os meninos de Manuel Bandeira, meninos retratados de forma heróica, trabalhadores homens indo para luta diária. Realidade do nordeste ou do interior pacato onde pessoas vivem miseravelmente e crianças são obrigadas pela necessidade trabalhar. Os meninos carvoeiros trocaram seus brinquedos pelo o carvão e burrinhos lesados de magros feitos eles próprios raquíticos.
“Os burros são magrinhos e velhos
Cada um leva seis sacos de carvão de lenha.
A aniagem é toda remendada.
Os carvões caem!”
(Meninos carvoeiros)
Fez do gesso poesia branca, quebrada, logo remendada, fez da noite morta “Sombras de todos que passaram dos que ainda vivem e os que já morreram” cantou na “Rua do sabão” junto com a molecada que soltava balão, juntos soltaram “Assobios apupos, pedradas” e continuaram cantando até que o balão caiu longe no mar alto.
“Levou tempo para criar fôlego
Bambeava, tremia todo e mudava de cor
A molecada da rua do sabão
Gritava com maldade:
Cai cai balão!”
(Na rua do sabão)
E é assim que termina Ritmo dissoluto ao som do “Berimbau” dos “Aguapés”, da “Mameluca maluca” terminou de forma indígena soltando “Balõezinhos” chamando saci, Iara e boto para participarem da festa de encerramento. Chegando ao termino de mais uma obra feita a seu ritmo libertino, mudando completamente e entrando de vez no modernismo, cravando sua poesia definitivamente ao novo modo expressão.
“Na feira livre do arrebaldezinho
Um homem loquaz apregoa balõezinhos de cor
-“O melhor divertimento para as crianças!”
Em redor dele há um ajuntamento de menininhos
[pobres,
Fitando com olhos muito redondos os grandes
[balõezinhos muito redondos.”
(Balõezinhos)