ENSAIO DO CONTO "SE ÉS CAPAZ"

O livro Invenção e memória de Lygia Fagundes Telles é uma coletânea de quinze contos e traz um conto muito interessante “Se és capaz”, com uma história rodeada de sentimentos que permeiam a vida moderna. Como já diz o título do livro a invenção e a memória estão presentes em todo texto.

Com toda sua maestria, Lygia Fagundes Telles escreve de uma forma que o leitor consegue entender e interagir com os problemas e dramas do personagem central. No início do conto, vemos um jovem esperançoso e disposto a seguir todos os preceitos contidos no poema “Se és capaz”, que seu avô havia lhe presenteado. Preceitos de boa fé, bom caráter, de um homem de bem. Preceitos estes que sempre estiveram presentes em todo conto e como conseqüência da vida que o personagem levou, foram poucos seguidos, foram somente lembrados.

Em cada momento da vida do personagem em que ele precisava seguir os princípios contidos naquele poema, ele pensava várias vezes e nunca seguia, pois não se achava capaz, a palavra primordial neste poema é “capaz”. Sempre se considerava um inútil, impotente para ser um homem bom e de princípios, para o personagem era mais fácil ser um homem comum, aquele que não chama a atenção, o dito normal. Porém a autora consegue mostrar em quase todo o conto o porquê de certa rebeldia e falta de caráter. O argumento usado é a família despedaçada durante a infância do personagem, a única coisa boa era o avô, o qual morreu durante esta infância. Como ele não teve a boa base familiar, foi mais prudente e lógico ele virar um político corrupto e querendo sempre o poder e o dinheiro.

A autora trouxe de maneira bem interessante todo este universo de um homem só, esse universo de incertezas, de falta de ética, de poder e de dinheiro. Um universo real e comum, que acontece diariamente. Pessoas que quando crianças e adolescentes têm um “herói”, um modelo a ser seguido e que eles acham que será sempre assim por toda sua vida. Chegam à idade adulta e vêem que nada disso acontece e o mundo é bem diferente do que foi idealizado e construído durante a infância.

E por fim a temível velhice, o fim de tudo é o tempo que o personagem recorda de todos estes fatos bons de sua vida, poucos, mas que merecem serem lembrados. Na verdade a autora mostra uma fatal realidade, tudo que uma pessoa faz tem uma conseqüência. Já que o personagem não foi um homem de caráter e ética como seu avô, para ele era impossível ser como seu “modelo”, o exemplo do avô, simplesmente sua velhice foi triste e suas historias e conselhos foram ignorados e confundidos por uma demência senil. Como todo idoso ultimamente, foi deixado de lado e largado em um asilo ou coisa do gênero.