Seráfita

Depois de preparar a terra, afofá-la, adubá-la e semear, chegou o tempo das colheitas. A semeadura fora perfeita e o solo explodiu e da explosão brotaram três espécies tão iguais e tão diferentes ao mesmo tempo, e tão especiais, que ela se fechou de tal maneira que nunca mais foi a mesma. E aquele corpo jovem, ansioso, e urgente, foi se acalmando a tal ponto como se consumido pelo fogo da paixão e exausto se fechou para a carne. Diria que tornou-se agreste, esqueceram que a terra precisa ser regada e cultivada e sem esses estímulos a carne se consumiu. E daquela terra não saiu mais sequer a erva daninha. Nada mais naquele solo vingou e tudo se apagou. E a carne não exigiu mais nada. E tudo tornou-se desértico e um deserto onde poderia andar léguas e léguas e não se via sequer um pé de cactos, que é a planta do deserto. E ficou assim adormecido até chegou a temporada das chuvas. Choveu tanto que inundou tudo, de tal maneira que a enxurrada levou tudo. Não sobrou mais nada, nem a carne. Só o espírito vingou, o resto morreu. Até que, tempos depois, a terra seca que não fora cuidada nem adubada, não querendo ser dividida em lotes, pois não aceitava nada pela metade, descobriu que dentro dela existia um manancial inesgotável de palavras. E ela tornou-se assexuada, mas produtiva e hoje é Seráfita quem dirige os seus pensamentos.

T.S. Elliot – E livra-me da dor da paixão não satisfeita e livra-me da dor muito maior da paixão satisfeita.

Nadia Foes
Enviado por Nadia Foes em 08/09/2009
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