MANOEL BANDEIRA,O BEM-AMADO!
-Alô,cotovia!
Aonde voaste,
Por onde andaste,
Que tanta saudade me deixaste?
A cotovia chamada Manoel Bandeira nos deixou no dia 13 de outubro de 1968 deixando órfã a poesia brasileira.
Foi embora prá Passárgada,onde era amigo do rei.
Como sempre afirmava ser um sujeito bem-nascido-
foi muito bem recebido entre seus pares.
Manoel Carneiro de Souza Bandeira Filho nasceu no Recife no dia 19 de abril de 1886,filho de um engenheiro e de uma dona de casa D.Francelina Ribeiro de Souza Bandeira,ambos oriundos de famílias ilustres e bem situadas intelectual e economicamente.
“Tive uns dinheiros, perdi-os”,canta Bandeira num dos seus poemas.
Os verdadeiros poetas e os bens materiais não se entendem muito ;O nosso Manuel não era diferente.
Com os pais morou no Rio,em Santos,São Paulo,voltando depois para o Rio,onde conheceu Petrópolis e ficou encantado com a cidade imperial.
A volta para Recife veio logo em seguida.Escreveu:
“Com dez anos vim para o Rio,
Conhecia a vida em suas verdades essenciais,
Estava maduro para o sofrimento
E para a poesia.”
No Rio,estudou no famoso Colégio Pedro II,onde conviveu com futuros grandes nomes da literatura,como João Ribeiro e José Verissimo.Conheceu também o Mestre Machado,com quem,durante o trajeto no mesmo bonde,discutia as artes literárias.
O pai desejava que ele fosse arquiteto;graças a uma tuberculose teve que abandonar os estudos e,mais tarde,tornou-se um arquiteto das palavras.
Buscando a cura,esteve em muitos sítios no sul e no nordeste e ,nesta peregrinação foi parar na Suiça,emClavadel,onde conheceu Paul Éluard.
Aproveitou o tempo para ler os grandes clássicos da literatura mundial,pois,só mesmo um bom leitor,pode vir a ser um grande escritor.
Em 1917 ,publicou seu primeiro livro, “A Cinza das Horas”,ás suas custas(como os nossos escritores sabem,nada mudou de lá para cá);sua estréia passou despercebida,embora João Ribeiro o chamasse de “excelente e verdadeiro poeta”.
Neste livro começa a sua revolução particular contra o parnasianismo que culminaria no Movimento Modernista de 1922.
Daí em diante,o poeta Bandeira não parou mais de escrever e publicar e Mário de Andrade o denominava “O São João Batista do Modernismo”.
Estabelecido na Rua Do Curvelo,no Rio,onde “reaprendi os caminhos da infância” ,como dizia.
Daí,mudou-se para a Lapa,no famoso “beco” sempre cantado por ele até que se mudou para perto do mar,no Flamengo,onde os aviões lhe davam as “lições de partir”.
Foi um dos nossos poetas mais humanos,um professor admirável,que amava os jovens e era amado por eles.
Um homem simples que gostava de sair “bestando” pelas ruas, nunca digeriu bem a Academia de Letras,com seus ridículos fardões;no dia da posse,seu amigo Cassiano Ricardo,outro grande poeta,foi buscá-lo no seu quartinho da Lapa,de pijama,hesitante,tentando fugir do tal fardão,horrorizado com seus galões dourados.Vestiu neste dia e nunca mais.
Era um poeta lírico; seus versos abaixo,ilustram bem os seus sentimentos:
“Sou poeta menor, perdoai!
Não faço versos de guerra,
Não faço ,porque não sei.”
Segundo João Condé,era contra os regimes totalitários de direita ou esquerda,contra os sacrifícios para deixar de fumar(era sempre vencido,quando tentava),contra a lei do inquilinato,contra ter criados ou secretários,pois gosta da solidão.Fazia o seu próprio café e fazia um doce de leite muito gostoso.Não tinha religião definida,mas,rezava o Pai Nosso e o verso de Verlaine “Seigneur, délivrez moi de l’orgueil toujours bête”.
Não era esnobe, gostava de jiló,ouvia rádio e adorava o cinema falado;respondia cartas(embora detestasse) e não gostava de escrever para jornais nem falar em público.
Adorava música e leitura.
Gostaria de morrer de repente, em casa.
Seu “auto-retrato”:
Provinciano que nunca soube
Escolher bem uma gravata;
Pernambucano a quem repugna
A faca do pernambucano.
Poeta ruim que na arte da prosa
Envelheceu na infância da arte,
E até mesmo escrevendo crônicas
Ficou cronista de província;
Arquiteto falhado,músico
Falhado(engoliu um dia
Um piano,mas,o teclado
*Ficou de fora;sem família,
Religião ou filosofia;
Mal tendo a inquietação do espírito.
Que vem do sobrenatural,
E em matéria de profissão
Um tísico profissional.
*alusão ao fato de ser dentuço.