O CANTO DO HOMEM DO POVO

“O homem, contrariamente aos animais e aos deuses, está condenado a pensar”, diz Benedetto Croce, no seu conhecido “A Poesia”, que em nosso meio, teve edição pela Universidade Federal do RS, na década de 60.

Diz mais o pensador italiano morto em 1952, aos 86 anos: “A arte é visão ou intuição. O artista produz uma imagem ou um fantasma: e quem aprecia a arte volta o olhar para o ponto que o artista lhe indicou, observa pela fenda que este lhe abriu e reproduz dentro de si aquela imagem”.

Assim é o espírito do poeta ora apresentado: Odair Rodrigues. Em suas “Pérolas Rimadas” o coração popular pega o cotidiano e suas mazelas. O amor, a injustiça, o caricato, o altruísmo, a história vista na versão popular. Os fatos são absorvidos e contados com muita verve, talento e humor.

Alguns dos poemas que compõem esta obra tive a graça de ver nascer, e me causam gozo, principalmente a versão poética sobre os “Lanceiros Negros”, do comandante Teixeira Nunes, grupo de combatentes farroupilhas que teve heróica atuação durante a Grande Revolução de 1835/45, na Província do Rio Grande de São Pedro. O épico visto por Odair acusa e absolve. Tudo pelo ideal de Pátria. A história vista e revista.

Em determinados momentos da obra, o corriqueiro imediatista dos jornais e da TV assomam poeticamente, com humor e graça, obtendo forma na linguagem popular setissilábica, gostosa de ouvir, entender e repetir.

Ele, o repentista inspirado, o cronista em versos, propõe aos meus ouvidos o vário temário. E eu, reproduzido intelectivamente pelo apontar aos meus neurônios, fico a haurir palavras e seus mistérios, e, sensorialmente, fruo as imagens, como apontava Croce.

Sei que estas “Pérolas Rimadas” vão ganhar mundo, andar e andar, porque a obra está lavrada na linguagem do povo. E este sabe das coisas, porque as vê e faz, imediatamente, o julgamento. Os versos são bons. Que me acompanhem aqueles que ainda não perderam o amor e a alegria de viver. Isto é o mínimo que se pode esperar do animal mais sábio.

O mundo precisa dos que pensam para poder agir. A Poesia é sempre uma reflexão válida e oportuna. Caracteriza os diferentes do lugar comum da vida. Os adoráveis malucos que podem mudar o mundo pela Palavra. Que acreditam nela e no seu poder.

Bem, o resto é ação prática. E estas são imprevisíveis num país que lê muito pouco. Dizem que escafedem ao campo da eterna arte.

Bom proveito aos leitores!

Porto Alegre, 20 de julho de 2009 (Dia Internacional da Amizade)

Joaquim Moncks, poeta e ativista cultural

Coordenador da Casa do Poeta Brasileiro – POEBRAS Nacional.

- Apresentação do livro "Pérolas Rimadas". Rosário do Sul: ed. VCS, 2009, 104 pág.

– Do livro O HÁLITO DAS PALAVRAS, 2008/2009.

http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/1709763