RÁDIO MEIA-NOITE
Tijucas, 13 de julho de 2009 – 17h e 45m
Rádio Meia-Noite
Ponto, tudo pronto,... Podei descansar coisa do céu, que teu oficio é inóspito em meu amanhecer, afasta aquela tarde, porque tudo que eu veraneio é gelo em contraproposta.
Eu cato perdidos num só traço, fustigo, ambíguo abraço. Eu cuido a quem se obriga a humilhar-me, falo a quem se presta à afogar certezas, então acelera-se a colorir a noite, tirar-lhe todo o roxo e só deixa-la nua: dois cálices de luxúria.
Nas mágoas das fadas, nos tons mais sóbrios que pudermos, vamos fazer uma boa vida pra esperar a sorte de não ficar aqui por muito tempo, e poder colorir com as próprias cinzas a noite.
Se nos permitirem as lendas, de todas as performances vamos brindar, de inúmeras poses vamos fatiar... E vamos, sem mais estes compromissos foscos, sem mais este chuvisco que me divide entre a eternidade e o não saber. Vou calar o pensar das grandes mentes, e assistir as senhoras assando seus futuros à gás, apreciar as partilhas saboreando estrelas numa mesa de quatro lugares, limpando suas bocas tortas em sorrisos de pano. Se sonhar for liberado, minha expressão será só metamorfose... Sem rostos mordidos, sardas inexatas e faces ilegíveis. Bastará quando o sonho de fato persistir nas portas, somente as mãos em azul muito forte correr de toda vontade e os trajes não seguirão a pobreza da moda, as cordas viverão a cantarolar suas luzes sem raio... No longe dos templos da aura, mais palavras brotarão como mágica, e defesas anuladas como pólvora, devorada, digerida e devolvida a vida.
Será a hora de perseguir construídos, quando o enigma compartilhando-se, e na palma da mão absorver todo o inverno... E o enigma é, o enigma será... Pra não descobrirmos, nem desenvolvermos.
Sorrisos piratas numa poça rasa, a maldição de querer o bem a quem nem se conhece, de fazer o sempre a quem nem se protege, sem maltratar estrelas sem toca-las no chão.
Já vai, o menino cresceu, a grama também cresceu, podaram a grama e o menino, já vai, já foi, mas ele não esqueceu... nos fim das horas só resta acalentar a conjunta e maldita prece, o sossego gritando num rádio a meia noite. Acariciando os pesadelos, as negras formas se interligam num rádio, a meia-noite.
Saudosas senhoras do chá em suas meias finas bebem do rádio, meia noite. Gulosas cafetinas e seus sexos com morfina consomem também do rádio, a meia noite. É pecado pagar mentiras, é real ser inúmero congênito, parcial humanidade, a toda verdade da igualdade se reduz numa lúdica face e ouvido, a apreciar sem falsetes e cantos escuros, um rádio à meia noite.
A falência de toda tristeza, moradia de toda falange, uma gravata e o terno curam-se no suspiro de um rádio, à meia noite. As supostas, as propostas, lounges e mídias, as médias e tíbias, o alçapão gelado encontra-se num rádio à meia noite. As curtas e grossas, modestas e porosas, sem talentos e místicas, o decote invisível promete-se num rádio à meia noite.
E o prazer estará em montanhas não encantadas, o arco-íris vai propagar mais forte suas pontes de vento, as loucuras traçadas como advento do tempo, porque é quando a humanidade involuntária se une e retoma, pausa a peça e se descobre na calamidade da igualdade... Sempre juntos, sempre da mesma forma, e para sempre... Num rádio à meia noite.
Douglas Tedesco