Em vôo
Angélica T. Almstadter
Quando dou vida às palavras, deixo que adentrem os meus sonhos e explorem os recantos da minh'alma...mas não dou espaços e desvãos imerecidos a quem não saiba ler e merecer adentrar meus mistérios, os segredos dos meus férteis sentimentos. Na vida que desabrocha das minhas palavras quase sempre imprimo um pouco da minha essência, e quem há de sentí-la se não me souber ler, ou passear nas minhas entrelinhas repletas de recados ou reclamos, quem há de decifrar meus desafios diários ou meus jorros, sem se despir dos preconceitos?
Não...não há de me entender plenamente quem não tiver a alma aberta aos vôos e o coração limpo das amarras e impurezas que prendem à carne, ao mundo das coisas tangíveis e das orgias, pois essas não entoam cânticos, nem sabem da leveza do espírito, nem da alvura da alma.
É inútil cantarolar para a insensibilidade das cervizes duras, é inútil cantarolar para a luxúria... não se reconhecem passos leves no chão onde só se ouve a cavalaria trotear...
Dou asas aos meus sonhos por que vão ao infinito e se misturam ao pó das estrelas...às chuvas siderais...onde cada partícula tem sua importância...num espaço onde não haja donos e a imensidão os acolhe no silêncio... onde a vida...só a eles pertencem, por que são livres...castos ou não...sem que isso tenha a menor irrelevância...
Vida que te quero sempre viva nas minhas palavras...alegre, irreverente, audaz, provocante, simples, romântica...mas eternamente pura, como nasce; sem travas e sem medo do reflexo verdadeiro que a faz de mim sua condutora plenamente sincera...