fragmento de uma declaração
"Temi chegar a ti e perder o discurso, me fugirem as palavras, emudecer instantaneamente e ficar pálida, estar sem voz, nem cor, escancarando o meu nervosismo. Então ensaiei na frente do espelho ditos concisos e doces, juntos a uma postura contínua, evitando ataques de tiques nervosos. Mas achei tudo tão ridículo, percebi que não merecias de mim essas frases feitas, tudo pontuado, acentuado e ensaiado, que sairiam automaticamente, nada espontâneo ou com sentimentos embutidos, seria uma encenação apenas de uma fala que eu repeti rigorosamente para os meus próprios ouvidos. Então estou aqui somente, totalmente transparente e desarmada, cheia de obviedades, nem precisa que eu diga algo, vê-se tudo o que há em mim, o que paira sobre a minha cabeça e até o que tem no meu próprio coração. Enfim, não é necessário que me perguntes alguma coisa, em mim está tudo à mostra e esclarecido, o que nos resta saber apenas é a tua reposta a tudo isso."
*Fragmento extraído de uma obra amadora em andamento; texto puramente fictício.