Quem Herdará o Reino dos Céus?
O sermão da montanha é iniciado com a maior de todas as bem-aventuranças proclamadas por Jesus naquele momento: Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos céus (Mt 5:3).
Jesus mostra ao homem, com suas singelas palavras, que a única forma de se alcançar a morada que Ele foi preparar para nós é ser pobre de espírito. Mas será tão simples assim? Como é ser pobre de espírito?
No mundo atual, difícil é para o homem desapegar-se das coisas materiais; mais difícil ainda é desapegar-se de si mesmo, ou seja, renunciar-se a si mesmo (Mt 16.24), como disse Jesus aos seus discípulos que intentavam em segui-lo.
O homem que renuncia a si próprio saberá entender as vontades de Deus para sua vida, deixando que o Espírito Santo manifeste o querer do Criador. Assim, o pobre de espírito reconhecerá em Deus o seu condutor desde as mais simples até as mais complexas decisões. Como? Através das orações quando, mesmo não sabendo como dirigir-se ao Senhor, o Espírito de Deus nos auxilia e intercede por nós com gemidos inexprimíveis (Rm 8.26).
Fazendo uma analogia com o mundo material, aquele alguém que reconhece em si toda a potência do saber – o qual denominamos prepotente –, dificilmente reconhece em outrem alguma fonte de sabedoria que possa, porventura, enriquecê-lo. Assim é o homem que se achar rico de espírito: não haverá lugar para que o Espírito Santo de Deus habite nele, deixando de receber toda a sorte de orientação que possa advir do Criador dos céus e da terra.
O apóstolo Paulo, em sua epístola aos irmãos da igreja de Roma, no capítulo 12, roga para que, pela compaixão de Deus, os romanos apresentassem seus corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus (v.1). Ora, esse sacrifício do qual o apóstolo fala é o maior de todos, e também o mais simples, servir de Templo para que o Espírito de Deus habite em nós; e, ainda, Paulo, quando discursa sobre a união do corpo de Cristo, ratifica que a Deus pertence o nosso corpo, pois não somos de nós mesmos, somos, sim, templo do Espírito (1Co 6. 19-20). Logo, o homem pobre de espírito “se ajunta com o Senhor”, e com Ele torna-se um mesmo espírito (1Co 6.17).
Habitando, pois, o Espírito Santo de Deus em seu templo – o homem –, convencê-lo-á do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8), e, então, não mais julgará o homem a si mesmo, porém confiará no Senhor para julgar suas causas (Jr 17.5-8). Assim, consagrando-se ao Senhor, temendo-o e comungando com Seu Espírito, o homem afasta-se de toda a sorte de pecado e estará constantemente em busca da santidade sem a qual ninguém verá a Deus.
Recompensas tamanhas ainda serão alcançadas por aqueles em que o Espírito de Deus acha morada. Na epístola dirigida aos irmãos da Galácia, o apóstolo Paulo exorta-os a andar guiados pelo Espírito, não se deixando corromper pelas obras da carne, pois os que assim se conduzem, adverte, “não herdarão o Reino de Deus” (Gl 5.21). Entretanto, os que se deixam guiar pelo Espírito, estarão permanentemente em comunhão com o nosso Senhor Jesus Cristo, e viverão no Espírito e andarão no Espírito (Gl 5.25), e, produzindo Seus frutos, a saber, caridade, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança (Gl 5.22), certamente, herdarão o Reino dos céus.
O Senhor Jesus, ao ser interrogado pelos doutores da lei sobre qual seria o grande mandamento, disse-lhes que o primeiro e grande mandamento é amar o Senhor, e o segundo, semelhante ao primeiro, é amar o próximo como a si mesmo (Mt 22. 35-39). Primeiramente, devemos atentar para o fato de que o segundo mandamento do qual Jesus fala é semelhante ao primeiro; logo, o grande mandamento, que é amar a Deus, não é, sobremaneira, menor que o segundo, sendo este semelhante àquele; porém, reconhecemos que há um só mandamento sobre todos os demais: amar. Ora, naquele em que o Espírito habita há frutos, e o primeiro deles é o fim do mandamento (1 Tm 1.5), a caridade, ou seja, o amor ágape, que implica em doação não egoísta, a mais sublime virtude cristã, o amor de Deus derramado em nosso coração pelo Espírito de Deus que nos foi dado (Rm 5.5) , sem o qual de nada nos valeria quaisquer dons espirituais (1 Co 13), sem o qual os frutos do Espírito não subsistiriam. As Escrituras mostram-nos que o amor é soberano a todos os dons e frutos do Espírito, assim como o nosso Senhor é soberano sobre todas as coisas, e que somente o homem pleno desse amor pode cumprir os mandamentos de Jesus: viver em comunhão com seus irmãos, proclamar o evangelho e receber o dom gratuito de Deus: a vida eterna.
No livro de Gênesis, o próprio Faraó reconheceu em José a morada do Espírito de Deus (41. 38-39); um homem que, quando jovem, fora vendido por seus irmãos, vivera como escravo, não sucumbira às concupiscências da carne, e, nomeado governador do Egito por Faraó, recebendo seus irmãos, mostrara-lhes o verdadeiro amor, perdoando-lhes, pois, pelos frutos do Espírito de Deus que nele habitava, sabia que não fora seus irmãos que o enviaram, mas fora o próprio Deus quem o colocara ao lado de Faraó. Vemos que naquele que se deixa habitar pelo Espírito reluz o brilho que o mundo deseja ver nos filhos de Deus, o brilho que vem dos céus.
A Palavra de Deus veio ao profeta Ezequiel (13. 1-4) e disse, acerca daqueles profetas de Israel que seguiam seu próprio espírito, que estes eram loucos e como raposas nos desertos. Certamente, os homens “ricos” de espírito que, com soberba, não dão espaço para que o Espírito Santo opere em suas vidas, também serão tachados como loucos, e, como tais, não herdarão morada no Reino dos céus.
Em concordância com a Palavra de Deus, certificamos que o homem precisa estar em perfeita comunhão com o Espírito Santo de Deus, pois só agindo dessa maneira conseguirá comungar com sua Igreja, com sua família, com seus irmãos, com o Corpo de Cristo que herdará morada nas mansões celestiais.
Amém.