Pressentimentos

Olho atentamente ao redor da casa, espreito o jardim que tresanda a jasmim da noite; não vejo nenhum vulto, que possa justificar o chamado de meu nome; seriam almas perdidas em penitência, ou seria a própria esquizofrenia que adotei? Vou até à cerca e nada vejo no passeio; não sei porque insistem em chamar calçadas de passeio e incorro no mesmo erro; nada vejo na rua, e não escuto outros sons de espécie nenhuma; olho atentamente dentro da casa, nos quartos, na sala, nas chamadas dependências de empregadas e não vejo absolutamente nada! Minha avó, nas antigas noites de Ricardo de Albuquerque, me contava casos semelhantes a este. Seguramente, almas e espíritos errantes andam pela névoa e pelo calor das noites de verão, outono e primavera, somente se recolhendo nas noites frias, pois, segundo sei, perdem a elasticidade do ectoplasma e ficam encolhidas; elas têm prazer de perturbar às pessoas, que não observam alguns dos mandamentos da lei de Deus. Preciso, no mínimo, rezar uma novena destinada a deixar no estaleiro essas almas mal rezadas e mal encomendadas; almas de pessoas que morrem de repente, sem tempo de pensar no que fazer no momento da morte; não rezam e não exorcizam os pecados terrenos...Retomo o equilíbrio, concluo ser um simples sussurro de algo cuja proveniência não imagino; talvez o roçar do vento na cortina, embora as janelas estejam fechadas e não haja cortinas; é capaz de ser o ar condicionado mal regulado com palhetas soltas, não importando que eu não tenha aparelhos de ar condicionado; é possível, que seja a chaleira fervendo, embora não exista nenhuma espécie de vasilha no fogo, especialmente chaleira... Eu não costumo tomar café ou chá à noite; não encontro nada que possa justificar o chamado do meu nome; olho atentamente em redor da casa e espreito o jardim que tresanda a jasmim da noite...Fico cheio de pressentimentos...

Abrantes Junior
Enviado por Abrantes Junior em 09/07/2009
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