XXI - Pequeno e desconhecido romance literário

Começou Miguel, sua investida romântica, mandando um buquê de flores brancas e amarelas à casa da ninfeta logo pela manhã.

Um bilhete romântico de pouco mais de cinco linhas e sem identificação escrito manualmente em letras de fôrma foi o primeiro passo para o professor atingir seus objetivos elucidativos.

Nunca havia mandado flores para nenhuma mulher, e esse ato lhe causou imenso prazer e contentamento.

Achou divertida essa atitude e se sentiu jovem e cheio de energia.

A precoce ninfa Angélica, agradavelmente surpresa logo após o almoço, ficou curiosa e excitada por saber de onde provinham tais flores belas.

Como não estava assinado o cartão e aparentemente desconhecia a caligrafia com traços adultos nada comentou com seu pequeno namorado, agora já bem mais frio e possessivo em seu relacionamento.

Dias se sucederam e as investidas do professor Miguel se tornaram mais intensas e com brechas propositais para ser descoberto.

Já assinava seus cartões como “um homem substancialmente apaixonado”, e Angélica Cristina Pelegrini começava a desconfiar de seu metafórico e culto professor de História Geral.

“Aquela caligrafia não era tão desconhecida afinal”, confabulou Angélica sentindo seus batimentos cardíacos aumentarem gradualmente enquanto visualizava em pensamento os trejeitos peculiares do charmoso e atraente professor a escrever no quadro negro sobre a sociedade grega antiga.

Numa bela e quente manhã, após o final do turno letivo, na saída do portão principal, após seguí-la discretamente, o professor Miguel se viu ao lado da bela jovem que se dirigia para a rua na companhia de duas amigas de sala e bairro.

Iniciou-se um diálogo então:

“Olá meninas, como faz-se quente o dia hoje não”?

“Realmente muito quente professor Miguel. Está um dia belo para mergulhos no grande rio”.

“Com certeza, minha cara Angélica. Se tivesse tempo e disponibilidade com certeza acataria sua idéia”.

“Eu com certeza irei lá, assim como já faço todas as tardes tórridas desse pedaço de terra. Fico mergulhando e tomando sol com minhas amigas. Levamos comida, sucos e frutas e sempre fazemos um pic-nic no final do dia, a sombra de uma grande paineira que insiste em viver a beira do barranco”.

“Também conheço essa árvore. Dizem que é nativa da região desde os tempos pré-hidrelétrica. Algumas vezes, quando jovem, descansei sob suas copas imensas e largas”.

“Sua jovialidade não o abandonou ainda professor Miguel”, ressaltou sorrindo a carismática Angélica.

“Você é muito gentil, minha cara Angélica. Mas sabemos que não posso me ater a esses programas vespertinos típicos de pessoas da sua idade. Tenho compromissos profissionais”.

“Até amanhã professor”, finalizou o diálogo a jovial e cândida Angélica contornando a esquina enquanto o professor mantinha seu trajeto atravessando a rua e olhando-a distanciar, quando sem querer pisou no rabo de um cachorro preguiçosamente deitado ao meio da travessia que dormia profundamente no local onde passava maravilhado por tamanha gentileza e refinamento para uma pequena jovem daquelas plagas sertanejas e de cultura limitada, o nefelibático Miguel das Neves Alves.

O cachorro pôs-se a correr e latir insanamente enquanto o professor Miguel cantarolava alguma canção romântica que aflorava de sua mente entorpecida de endorfinas liberadas por suas glândulas hormonais responsáveis pelo bem estar mental.

O vidrado homem estava excitadamente ansioso e sentia uma leve empatia de Angélica por ele.

“Há reciprocidade!”, disse a olhar para o alto e erguer as mãos espalmadas ao céu.

Do mesmo modo, a pequena Angélica, percebia ser o professor Miguel, o remetente de todas as rosas que ganhara nas últimas semanas e se sentia confiante e desejada.

Marciano James
Enviado por Marciano James em 07/07/2009
Reeditado em 14/01/2015
Código do texto: T1686749
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.