XXII - O remetente de todas as rosas

O pequeno e franzino ser que mantinha fornicações freqüentes com a casta, porém não pudica Angélica Cristina Pellegrini, não estava em seu equilíbrio perfeito. Agressivo, frágil, insano, carente, atrevido, atormentado, dilemático, enfezado, inocente, perturbado, amoroso, cínico, carinhoso, mordaz, altruísta, são adjetivos que não expressavam a totalidade de seu ser, de seu âmago, de seu cerne.

Encontravam-se diariamente na escola e acompanhava, às vezes, Angélica até o portão frontal de sua pequena residência.

Nos finais de tarde, ao pôr-do-sol, momento em que emanavam dos matagais nuvens gigantes de insetos, tinham o hábito de namorarem em algum ponto de pouca luminosidade. Iam atrás da rodoviária num local debaixo de uma alta e larga sete copas. Por vezes se encontravam ao lado esquerdo da pequena igreja, onde havia muitas árvores velhas, e atrapalhavam consideravelmente a expansão da luminosidade dos últimos raios solares e dos primeiros acenderes de postes.

Tinham contatos superficiais entre seus corpos e, numa noite quente de setembro onde a lua minguante não se fazia presente no céu estrelado, Angélica se viu pensando em seu professor de história.

Tinha em suas mãos o pequeno cetro de carne rígida do jovem enamorado e excitado pelo desejo sexual que aflorava cada dia mais intensamente em seu corpo recheado de hormônios.

A bela ninfeta, já umedecida e ainda detentora de seu lacre virginal afastou, de súbito, o rapaz que se deliciava de prazer.

“Mas o que houve, Angélica?”

“Não sei bem ao certo, tive a impressão que estávamos sendo observados”.

“Vamos procurar outro local então. Hoje será o grande dia. Não há mais condições de ficarmos apenas nos esfregando. Meus testículos doem e estão inchados pelo desejo de penetrá-la, minha querida”.

“Não pense nisso! Não é o momento e nem há lugar agradável o bastante para essa realização. Não quero que seja dessa forma”.

“De que forma então você quer?”

“Sei lá. Só sei que não será na rua, muito menos debaixo de árvores ou encostada na parede da igreja”.

“Leve-me embora. Não tenho cabeça para continuar nesse lugar desagradável”.

“Você me ama, Angélica?”

“Porque pergunta isso?”

“Sinto você distante às vezes. Parece que pensa em outra pessoa mesmo estando à minha frente”.

“Não se preocupe com isso. É claro que gosto de você, bobinho”.

“Você não me respondeu se me ama!”

Caminharam lentamente, sentindo o mormaço emanado pelas ruas, sem trocar palavras naquela tórrida noite sem lua e Angélica percebia que seus sentimentos pelo seu primeiro amor se desfalecia gradualmente.

O pequeno ser caminhava confuso por entre as ruelas e não se atinha sobre o que ocorria nos sentimentos da sua jovem companheira.

Ambos se despediram, Angélica adentrou-se em sua residência, e já estudava a maneira de findar aquele relacionamento superficial em sua existência e agora fadado ao desconfortável sentimento exclusivamente seu.

Sabia, no fundo de seu coração que não seria simples, muito menos fácil ou tranqüila aquela separação.

Seu companheiro alimentava, assim como ela outrora também almejava, casarem-se e viverem unidos por toda longevidade que o destino lhes proporcionaria, mesmo que de maneira incerta e frugal.

Enquanto isso, paralelamente aos pensamentos de Angélica, o professor Miguel tinha decidido encontrá-la para conversarem definitivamente sobre esse turbilhão de desejos e sentimentos que emanavam de seus poros incessantemente dia após dia.

Naquela manhã acalorada, onde o sol escaldante provocava náuseas e vertigens na população local, Miguel das Neves Alves aproximou-se de Angélica Cristina Pellegrini.

Cordialmente a saudou, estava com a testa levemente oleosa decorrente do calor que brotava de seus poros, e obteve reciprocidade afetiva através do olhar da bela ninfa.

“Angélica, necessito conversar contigo para explanar algo que ocorre há tempos e reluto em expor”.

“O que há professor Miguel? Conte-me logo”, interviu Angélica já imaginando de antemão o que almejava aquele homem alto, magro e de olhar desconcertante, profundamente sedutor.

“Existem certas situações na vida que não encontramos respostas nos livros, muito menos podemos prevê-las antecipadamente. Achamos que estamos imunes a tipos de sentimentos e quando menos esperamos somos tocados por algo realmente singelo, indescritível em essência e nos toma de assalto sobremaneira.

“Explique melhor e em linguagem comum professor. Desculpe-me se não tenho cultura suficiente para entendê-lo”.

“Não diga assim. Acontece que desde a primeira vez que a vi algo ocorreu dentro de mim. Foi como se tivesse sido abatido fulminantemente por uma flecha certeira e desde então cuido para que essa ferida se cicatrize, porém está exposta, aberta e aumenta a cada dia”.

Continuou dizendo: “Tenho relutado muito em me expor para ti, já que faz-se uma enorme diferença de idade entre nós, e tenho certeza que você não possui o mínimo de interesse por homens mais velhos”.

“Não tenha tanta certeza disso”, completou Angélica olhando fixamente nos olhos de Miguel.

Miguel, nesse instante, ficara inerte Sentia seu coração a bater e sua boca secara imediatamente após ouvir aquela resposta. Na verdade era tudo o que queira ouvir, mas achava que não obteria essa resposta.

“Percebo claramente que o senhor me deseja e não há problema algum nisso”.

“Não me chame de senhor, Angélica”.

“O que interessa é que há momentos na vida que somos entregues a sentimentos belos, sentimentos de desejo por outra pessoa e necessitamos possuí-los, exercitá-los, deixá-los aflorarem naturalmente”.

Miguel já não se continha em si.

“Nunca me entreguei a ninguém, professor”.

“Apesar de ter namorado há muito tempo e ser fiel, não consegui ter relação com ele. Sei que ele também é fiel e que de alguma forma me respeita, só que somos muito jovens e sempre que ele tenta algo comigo é impaciente e afoito”.

“Por vezes tentamos algo, só que tive dores e me machuquei”.

“Não precisa me contar essas coisas, Angélica”.

“Seu passado para mim não importa”.

“Quero poder cuidar de ti, te dar amor e ser seu companheiro. Não posso permanecer frígido diante desse sentimento inédito que me ocorre desde que a conheci”.

“Está se expondo demais, não acha professor Miguel? Nem nos conhecemos direito e já quer casar comigo”.

“Desculpe Angélica, estou te assustando. Mas é que disse o que realmente sinto. Tenho convicção que és uma bela e responsável senhorita. Inteligente e acima de tudo muito sensual”.

Miguel estava excitado com aquela conversa e chamou Angélica para sentarem na praça.

Compraram refrigerantes e se sentaram naquela parte de pouca luminosidade que contorna o prédio da igreja, todavia ainda era dia.

“Se meu namorado nos vir sentados aqui brigará comigo”.

“Não deixe que te maltrate, Angélica. Se ocorrer algo desagradável me conte. Tomarei providências”.

“Não se preocupe, sei me virar sozinha”.

“Vamos embora, professor. À noite nos encontraremos aqui novamente, certo”?

“Tudo bem, aguardarei ansiosamente a noite chegar”.

Encontraram-se novamente no local combinado e, Miguel cumprimentara sua amada com um beijo na face.

Convidou-a sentar e iniciaram novo diálogo.

Naquele momento, o professor Miguel, de súbito aproximou sua mão da de Angélica e tocou-a com extremo carinho e delicadeza.

Angélica sentiu o toque do professor e deixou-se acariciar por ele.

Beijaram-se profundamente ali mesmo, diante de transeuntes e crianças que brincavam na calçada da praça central.

Aquela noite foi para os dois, o começo de uma situação cheia de intempéries diante da sociedade miguelense.

Quem presenciou a cena achou um absurdo. Aquele professor esquisito se valendo do cargo para seduzir uma jovem com a metade de sua idade.

Na escola, a diretora e os professores marcaram reunião com todos os docentes para explanar o assunto e tomar medidas cabíveis.

O jovem enamorado, agora cidadão traído, estava desorientado. Não comia e deixou o trabalho.

Ficava trancafiado em seu quarto em silêncio.

Às vezes chorava, às vezes dava sonoras gargalhadas.

Sua família não manifestava opinião, muito menos o acolhia e lhe confortava.

Estava só na imensidão de seu pequeno quarto sombrio, humilde e simples. Apenas seu irmão, às vezes lhe confortava com palavras do tipo: “esqueça aquela vaca” ou “não deixe barato essa traição” ou ainda “sua vingança é questão de honra, seu fracote”.

Aquele pequeno ser alimentava um ódio nefasto e de certa forma mortal àquelas criaturas que, agora gozavam intensamente uma união surpreendente.

Ficava a escrever com grafite o nome de Angélica nas paredes sujas e descascadas do recinto em que passava o dia inteiro.

Só saia para tomar banho e de vez em quando comia algo.

Nunca se esquecera do pacto que fizeram no passado e iria cumpri-lo até o fim.

Miguel das Neves Alves e Angélica Cristina Pellegrini se encontravam com cada vez mais freqüência.

A família da jovem não se opunha ao relacionamento, pelo contrário sua mãe ficara feliz por saber que a filha estava se relacionando com um homem empregado, que possuía uma casa e tinha algum dinheiro guardado.

Numa noite fresca de novembro, com o planeta Marte se deixando aparecer bem próximo da lua nova que se mostrava majestosa no céu, os amantes iniciaram o desejo que os consumia.

Miguel tinha preparado sua casa com uma bela decoração, comprado duas garrafas de vinho tinto, aliás, seu preferido, e acendido incensos pelos cômodos que iriam desfrutar.

Preparou uma seleção musical muito romântica e saiu ao encontro de sua ninfeta adorada para que em breve estivessem compartilhando toda aquela arrumação afrodisíaca.

Foi uma noite inesquecível para ambos.

Miguel excessivamente excitado mostrara-se abundantemente gentil e carinhoso na iniciação sexual de sua pequena e frágil amada.

Vagarosamente penetrava seu membro erétil naquela vulva lacrada e, por conseguinte o membro do professor enamorado se fazia por inteiro dentro de Angélica Cristina Pellegrini.

A jovem senhorita, naquele momento se fazia mulher, gemia e se contorcia alucinadamente, enquanto o lençol branco daquele ninho de amor manchava-se cada vez mais com gotículas de sangue quente de sua pequena e angelical vagina de pêlos castanhos claros.

Ao som jazzístico de Charles Mingus, permitiram aos seus corpos o que eles tanto pungiam, e Miguel, após uma sucessão de movimentos lascíveis, levemente bruscos, executados em várias posições agradáveis, chegara a uma explosão de orgasmo intenso, e, antes que jorrasse internamente na extasiada jovem, previamente retirara seu pênis de dentro daquele corpo sutil e a cobrira com sua substância.

Coito interrompido é uma das formas contraceptivas mais antigas da humanidade e naquele momento o professor Miguel se fez valer dessa técnica altamente conhecida, todavia notoriamente não-eficaz.

Sabia-se de muitos casos de gravidez gerada dessa forma, mas naquele instante os dois amantes não se preveniram devidamente.

Era a primeira vez de Angélica e Miguel decidiu não usar preservativos de borracha para não quebrar todo aquele encantamento.

Sabe-se que nada ocorreu no sentido de concepção fetal.

Os dois, naquela noite inesquecível, se amaram mutuamente e se deliciaram com os prazeres que os corpos em êxtase sexual podem propiciar e usufruir.

Marciano James
Enviado por Marciano James em 07/07/2009
Reeditado em 11/04/2012
Código do texto: T1686741
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