Pedra d’água!

Eu ando tirando água de pedra para sobreviver. É mais uma daquelas crises, que de tempos em tempos, me persegue como uma praga. Sem dinheiro, sem trabalho, sem muitas perspectivas, distanciado dos amigos, distanciado da família, da mulher, de quase tudo. O pouco que anda me sobrando é a paciência. Velha companheira de muitos anos, que caminha lado a lado, seja qual for a situação, sem reclamar da falta do que quer que seja. Quanto aos outros, é uma mar de reclamações, lamentações, choros e mais choros. E aquele amontoado de - por que você não fez isso ou aquilo? Sobra-me o tempo, os livros, a TV, a música, o computador, e a minha vontade de escrever, e escrever. Bem, isso tenho feito, e muito. Passando a limpo minhas coisas mais antigas, minhas poesias. Criando outras, e outras. Matando o tempo da melhor forma possível. Mas sinto falta do trabalho. Não só pela grana que dá para colocar em casa, e que é solução pra 99% dos meus problemas, mas pelo fato de ser um trabalho. A Publicidade pode não ser a profissão dos sonhos da grande maioria, mas é quase tudo o que sei fazer. Além lógico, de ficar escrevendo esse monte de baboseiras aqui. O trabalho em si, tem um que de mágico. Está certo que é feito dentro de certos parâmetros. Mas é o ato de criar que mais fascina. Você poder arrancar de uma folha branca, limpa, tudo o que possa imaginar. Criar do nada, uma campanha inteira.

Uma frase, um local, uma imagem, um gesto, uma música, enfim, um universo de coisas para falar de alguém, ou até de um produto qualquer. Fascina sim. Ver o que você esboçou num pedaço de papel se transformar em um folheto, anúncio, filme para TV, spot de rádio, out-door, embalagem, cartaz, etc, etc, etc. É maravilhoso. Eu adoro isso. Está certo, que às vezes tenho vontade de pegar uns tantos pelo colarinho e chutar suas bundas. Faz parte ter essa vontade. Mas o trabalho pronto é lindo. Por menor que seja.

Peixão89

Sonhos Passageiros - 1988