O quão importante é ler?
Muito se fala sobre o hábito da leitura, a maioria sabe da sua importância e também sabe que a leitura é uma parte importantíssima para a linguagem: sem leitura, a linguagem é básica e defeituosa, seja ela verbal ou não. Faz-se necessário, então, iniciarmos uma reflexão com algumas considerações sobre o papel da linguagem na constituição do sujeito. Além da comunicação, construção de conceitos e o processo de conhecimento, a linguagem traz ainda um outro papel: o de construção de pensamento. Mais da metade dos alunos no país encontra-se em situação de insucesso escolar, apresentando dificuldades na alfabetização, ou seja, na construção da escrita e na aquisição da leitura, sendo que estas são as maiores oportunidades para tornar visível o processo de nascimento do sujeito. Ainda não se sabe se as crianças escrevem ou leem primeiro. Presumo que leiam, pois quando “escrevem” apenas copiam símbolos sem decodificá-los. E esse tipo escrita-cópia não vai ao encontro com o que temos como definição: “escrita, é o ato de representar através de sinais gráficos, chamados letras, palavras e idéias, ou domínio da função simbólica convencional”. Por conseguinte, a leitura é fundamental para o sujeito dominar o processo de escrita. A educação no Brasil evoluí muito lentamente, professores muitas vezes incapacitados, poucas escolas e vagas, um governo preocupado em demasiado com a economia, grande burocracia na educação, etc; são grandes obstáculos para os estudantes e a educação do país.
Temos boas razões para nos preocupar com a educação no Brasil, já que os estudantes do país ficam sempre nos últimos lugares nas provas educacionais mundiais. O que acarreta em um futuro precário e perigoso para as mais variadas áreas do país. Esses jovens não só se arriscam a cometer erros de raciocínio, mas também a não compreender os raciocínios dos outros. Acabamos por criar um país com índices altos de analfabetismo funcional. A apropriação da linguagem escrita e leitura feitas de forma indevida trazem os fracassos escolares, que têm por antecedente a falta do desejo de saber e transferência. Assim, pode-se desenvolver uma linha de pensamento no sentido de considerar a dificuldade do aluno em ler e escrever como decorrência da ausência da transferência do interesse no contato com o seu mestre. Dadas estas condições e aspectos, o aluno nega-se a ler e escrever, entendendo esta negação como uma resistência à imposição que lhe é colocada e que anula o seu desejo, anulando, por conseguinte, o próprio sujeito que iniciava a construção da sua identidade.
A leitura se mostra como o fator mais importante para a reverter esse quadro. O país precisa de ensino qualificado e mais seriedade no tratamento da cultura quando em forma de mídia televisiva, entre outras. A leitura é uma atividade fundamental para o crescimento intelectual do ser humano, quem não lê deixa de conhecer tudo outras a vidas que lhe são proporcionadas, além de se distanciar do conhecimento. “Tudo o que se ensina na escola está diretamente ligado à leitura e depende dela para se manter e se desenvolver. A leitura é a realização do objeto da escrita. Quem escreve, escreve para ser lido. O objeto da escrita, (...) é a leitura”. (IBIDEM) É mais que notório o conhecimento sobre a importância da leitura e escrita para as massas civis. Porém, é mais que comum à incompatibilidade e estranheza das pessoas ante os livros.
A linguagem é condição básica do ser, o sujeito é a ampliação da lógica da linguagem: como resultado, não existe ser sem linguagem. A aquisição da leitura e escrita são fatores fundamentais e favorecedores para os conhecimentos futuros; é uma ferramenta essencial, feita de aquisições. É muitas vezes um apoio para diversas relações com o mundo natural e interno. O problema da aquisição da leitura e escrita pelos educandos deixou a algum tempo de constituir-se uma preocupação escolar para tornar-se uma das principais prioridades das campanhas do Governo e outras Organizações Não Governamentais – ONG’s. Motivados por essa preocupação, de norte a sul do país vem sendo desenvolvido uma verdadeira campanha de motivação para a aquisição da leitura e da escrita desde as fases iniciais da escolarização. Porém não é apenas a dificuldade na leitura e escrita o único e principal problema, mas a dificuldade no processo ensino-aprendizagem, a partir daí pode-se sugerir algumas soluções para o problema. Uma das principais e mais plausíveis soluções seria as pessoas encararem a leitura como essencial, como forma de conhecimento e aprendizado, e não como uma obrigação.
Os esforços nas últimas décadas no sentido da universalização do ingresso no sistema educacional possibilitaram o acesso de 95% das crianças de sete a catorze anos à escola pública. Apenas 43% terminaram o ensino fundamental, segundo dados do Ministério da Educação – MEC. Mais precisamente, apenas dois quintos das crianças de faixa etária de sete a catorze anos concluem as quatro séries iniciais e menos de um quarto concluem-nas sem repetência. Quase dois terços dos alunos estão acima da faixa etária correspondente a sua série e somente 13% completam o curso com idade adequada, sendo que a maioria dos alunos repetentes é proveniente de camadas sociais desfavorecidas. O problema mais sério da educação em nosso país não é a repetência e a evasão escolar, mas sim a ineficiência no processo de alfabetização no que tange a oralidade e escrita dos discentes, caracterizados, ora por falta de acesso a leitura, ora por métodos que não estimulam nos alunos o desejo pela amplitude de conhecimentos. Por não conseguir desenvolver corretamente as competências para a leitura e escrita, inúmeros alunos brasileiros experimentam um sentimento de desesperança e acabam por abandonar a escola. Estudos revelam que por mero acesso a educação básica seria suficiente para adultos e crianças poderem melhorar e muito suas percepções intelectuais e de conhecimento. Quando os professores são indagados sobre as possíveis causas do fracasso no processo de leitura e escrita, educadores apontam como fatores principais certas características do aluno, tais como: o QI baixo, a subnutrição, a imaturidade, os problemas emocionais, o abandono dos pais, a falta de condições econômicas, a desorganização familiar, entre outros. Lamentavelmente, se o processo de ensino-aprendizagem da leitura e da escrita não se efetiva, é o aluno que se culpa, é o aluno que não aprendeu, é nele que se acaba buscando causas do fracasso. Mas, localizar o fracasso no aluno, estigmatiza alunos sadios, afetando o autoconceito e a auto-estima dos mesmos, além de perpetuar a situação. “Olhar a educação de uma maneira diferente significa aprender caminhar ao lado; (...) olhar o outro com um novo olhar expressa o resgate do encantamento de quem descobre no estranho o aprendiz, no diferente o igual”. A passagem deve servir de exemplo para alunos e educadores que de forma desesperada devem se reconhecer como imortais, pois a obra literária e o conhecimento transgridem o tempo. ”É por meio da linguagem que o ser humano age, criando e recriando um mundo que não é só fruto de projeções e apresentações individualizadas por meio da língua, mas resultado de práticas sócio-interativas. Daí afirmar-se que a língua é uma atividade constitutiva e criativa que implica ação conjunta de sujeitos”.
É essa visão personificada e cheia de magia que devemos passar para os alunos, para que possam se expressar e não perder os brilhos nos olhos e nem esquecer ou desistir de sonhos. De modo que todos eles possam e saibam se expressar com perfeição oral ou escrita. Acredito que existam, sim, muitas escolas e turmas que cumpram com o que foi exposto aqui: um processo de leitura e escrita com autonomia. Resta-nos então os desafios de buscar cada vez mais elementos para que possamos posicionar-nos bem nos casos presentes e tão antigos em nossas salas de aulas e escolas. Precisamos nos motivar e motivá-los, pois o que nos move também impulsiona os alunos construindo assim uma incessante e mútua busca.