XXIX - Qual o motivo de tanta violência?

Douglas Hernesto Sanoj, num ímpeto de perspicácia, resolveu averiguar os últimos acontecimentos por conta própria para tentar livrar o mais rápido possível seu amigo do cárcere.

Enquanto preparava o hábeas corpus teve a idéia de buscar evidências que livrassem seu amigo e agora cliente, o professor Miguel das Neves Alves.

A caminhar pelas redondezas da casa de Angélica Cristina Pellegrini foi avistado por Léo Cláudio de Moraes.

Esse jovem extremamente prestativo e simpático era irmão mais velho de Celina Emiliana.

Autodidata com instrumentos de corda também sonhava em cursar Direito em Serras do Imperador.

Tocava violão nos bares e iniciou-se cedo na arte de beber.

Encontrando com Douglas Hernesto Sanoj não pestanejou e foi logo se aproximando.

“Acabo de vir da delegacia. Estávamos, eu, minha irmã e Ednardo. Fomos falar com o delegado sobre o assassinato da jovem. Vimos algo que ninguém viu. Presenciamos todo o crime. Só não sabemos ao certo quem são os criminosos”.

“O que está dizendo meu rapaz?” Sabe quem são os assassinos? Quer dizer que não é apenas um, mas quantos monstros?”

“Dois”.

“Conte-me tudo, por favor, preciso livrar o professor Miguel dessa acusação”.

“Sei que podemos corrigir esse erro doutor, queremos ajudar o professor. Celina Emiliana e Ednardo gostam muito dele. Eu também aprecio seu jeito de ser. Pague-me um drinque enquanto conversamos”.

Dirigiram-se ao boteco mais próximo.

“O que vimos e dissemos no depoimento foi mais ou menos assim...”

“Depois de tudo o que me disse, fico confiante em saber que acharemos os criminosos. É tudo questão de tempo e investigação minuciosa”.

“Sabe se o delegado já tomou providencias, meu jovem?”

“Disse-me ele que iria ao local imediatamente após sairmos. Já deve ter ido e voltado à delegacia, Dr. Douglas”.

“Os policiais desse lugar não estão acostumados com esse tipo de crime. Temo que não saibam averiguar de maneira eficaz os fatos de relevância e as evidências criminais”.

“Você não sabe o bem que está a fazer, meu caro. Corrigiremos um erro de acusação. Não desapareça. Manteremos contato”.

Douglas Hernesto Sanoj, então, pôs-se a pensar.

“Duas pessoas, uma bicicleta, um homem aparentemente obeso, o outro de aparência jovial, discussão rápida, agressão sem armas. Havia cortes por todo o corpo, mas o início das agressões foi sem armas”.

“Essa jovem tinha um namorado de infância, preciso descobrir quem ele é, o que faz da vida, como se comporta e o que ele pode trazer de informação sobre o caso”.

Indo rapidamente até a casa de Angélica, solicitou junto à mãe (dopada de calmantes e em estado de choque) o endereço do jovem ex-namorado da vitima.

“O que ele sabe, interferiu o pai?”

“Não o conheço, apenas quero conhecê-lo e conversar”.

“Obrigado, meus pêsames, até logo”.

Indo à casa do jovem, não teve cordialidade na recepção. Sua mãe atendeu Douglas de modo frio e com poucas palavras.

Tinha levado uns tabefes naquela manhã por ter servido seu marido com o descuido de ter deixado esfriar um pouco o café e este desferiu-lhe um certeiro golpe na boca.

Sangrara a manhã toda e tinha três dentes frontais levemente amolecidos.

Os filhos haviam saído e não soube explicar onde tinham ido. Perguntou duas vezes o que Douglas Hernesto Sanoj queria com o mais velho e não obteve resposta.

Despediu-se dizendo que voltaria mais tarde e que não se preocupasse.

Não era nada.

À hora do jantar, o comentário sobre aquela inédita visita causou espanto em toda a família.

O padrasto dos meninos ameaçou esquartejá-los se tivessem cometido algo de ruim e que cedo ou tarde ficaria sabendo.

Nada disseram saber.

Atemorizado, o jovem irmão mais velho, após o jantar, foi logo saindo novamente. Seu irmão caçula pôs-se a devorar uma tacinha de gelatina.

Douglas Hernesto Sanoj chegou novamente à casa pobre e de acabamento simples e desgastado pelo tempo e pelo sol.

O caçula, de súbito, levantou-se e foi atendê-lo.

“Olá, sou Douglas Sanoj, professor. Gostaria de conversar um pouquinho com seu irmão. Ele está?”

“No momento não. O que quer com ele?”

“Soube que fôra namorado de Angélica durante longo período. Queria perguntar-lhe sobre ela. Se sabe de alguma coisa que não sabemos. Se conversou com ela antes do crime. Se ela disse-lhe algo, se estava sendo ameaçada ou coisa parecida”.

“Meu irmão não sabe de nada. É melhor ir embora. Ele não te conhece e não tem nada para te dizer”.

“Calma meu jovem, não vim aqui para criar confusão. Mas necessitamos desvendar esse crime. Todos que puderem contribuir com algo será de grande valia”.

“Vá embora, já disse. Meu irmão não conversava com Angélica há muito tempo. Ele a evitava e não gostava mais dela. Ele já tinha esquecido ela, mas ela o procurava de vez em quando para matar saudades. Ele não a queria. Talvez o professor descobriu sobre isso e a matou por ciúmes”.

“Cuidado com o que diz, meu jovem”.

“De qualquer forma, quero falar com seu irmão pessoalmente. Qualquer dia o encontro”.

“Adeus”.

O jovem adentrara-se ao seu lar, em estrondosa gargalhada e sua mãe o interrogara sobre o que tinham conversado lá fora.

“Não é da sua conta, velha muxibenta”.

Marciano James
Enviado por Marciano James em 05/07/2009
Reeditado em 11/04/2012
Código do texto: T1683419
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